A agricultura tem papel fundamental na preservação da biodiversidade e no atendimento aos compromissos ambientais
Um mês após a COP 27 no Egito, onde países haviam firmado acordos para tomar medidas de alcance de metas climáticas coletivas, o mundo ganhou novo acordo global, mas agora para a proteção da biodiversidade.
A Conferência sobre Biodiversidade, que ficou conhecida como COP15, ocorreu de 7 a 19 de dezembro de 2022 em Montreal, no Canadá. Nesse novo acordo histórico, países desenvolvidos e em desenvolvimento defenderam esforços conjuntos para o cumprimento de uma meta – assegurar pelo menos 30% das áreas terrestres e marítimas do mundo até 2030. Por esse motivo a meta ficou conhecida como “meta 30×30” e coloca em evidência áreas de elevada importância para a biodiversidade e para as pessoas.
Como vamos produzir alimentos ao mesmo tempo em que preservamos nossa biodiversidade? Ou ainda, como fica nossa agricultura diante do compromisso assumido na COP15?
Todas essas preocupações nos fazem refletir sobre quais soluções devem ser tomadas. A fim de que possamos seguir rumo à preservação da biodiversidade sem comprometer a segurança alimentar global.
Quer saber mais? Continue lendo as informações que reunimos para esclarecer melhor esse assunto e apontar os caminhos para as possíveis soluções.
Onde estamos e para onde vamos
O que sabemos é que, atualmente, apenas 17% e 10% das áreas terrestres e marinhas do mundo, respectivamente, estão sob proteção. Ou seja, temos muito o que trabalhar para alcançarmos a meta proposta.
Segundo o relatório The Global Risks Report 2022 do Fórum Econômico Mundial, a biodiversidade é uma das principais ameaças ambientais globais. Afinal, mais da metade da produção econômica mundial (US$ 44 trilhões por ano) é moderada ou altamente dependente dela, o que traz riscos evidentes para a geração de empregos e renda.
Como já estamos vivenciando os impactos do clima extremo, muitas empresas reconhecem a necessidade de ação contra mudanças climáticas. Porém, existe uma falta de conscientização e compreensão sobre a perda da biodiversidade. Por definição, ela significa a extinção e/ou redução de espécies. E isso resulta em consequências irreversíveis para o meio ambiente, para a humanidade e para as atividades econômicas, pois representa a destruição permanente do capital natural.
Ainda sobre as negociações durante a COP15, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), além da meta 30X30, também foram discutidas outras ações relacionadas ao meio ambiente. Dentre elas:
- restauração igual ou superior a 30% desses ecossistemas degradados;
- redução a zero da perda de áreas de alta importância para a biodiversidade;
- redução pela metade do excesso de fertilizantes, defensivos agrícolas e de produtos químicos potencialmente perigosos;
- incentivo aos subsídios para a conservação da biodiversidade;
- corte pela metade do desperdício global de alimentos; e
- exigências para que empresas e instituições de grande porte monitorem, avaliem e deem transparência às suas operações que impactam a biodiversidade.
Preservação da biodiversidade com foco nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
São vários os desafios propostos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) que podem ser abordados pelo tema da biodiversidade. Entre eles, o ODS 15, que visa:
- proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres;
- gerir de forma sustentável as florestas;
- combater a desertificação;
- travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade.
E, diretamente relacionado à agricultura está o ODS 2, que objetiva erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável.
No contexto da preservação da biodiversidade, além do ODS 2 e ODS 15 da ONU, essas práticas e iniciativas também podem ser atribuídas ao ODS 13, ação contra a mudança global do clima, já que se adota medidas de redução de emissão de gases do efeito estufa GEE para combater as alterações climáticas e seus impactos.
Para isso, medidas para a preservação da diversidade biológica, conscientização e uso de tecnologias com bases científicas são necessárias.
Biodiversidade e agricultura: benefício compartilhado
A inovação é fundamental
A forma como conduzimos a agricultura é essencial para a preservação da biodiversidade.
Com isso, o caminho para minimizar os impactos negativos da produção de alimentos sobre a biodiversidade é utilizar medidas inovadoras a fim de aumentar a produtividade e, ao mesmo, preservar os recursos naturais. Isso inclui o uso de microrganismos e outros produtos biológicos para o manejo integrado de pragas e doenças, o uso eficiente da água, melhoramento genético de plantas, inclusive com técnicas mais modernas como edição genética, por possibilitarem o aumento da diversidade genética dos organismos vivos.
Mata Atlântica: o bioma mais rico em biodiversidade do planeta
Não podemos esquecer que somos um país de grande importância global no contexto da biodiversidade. Considerando que o Brasil detém 20% da biodiversidade mundial e possui mais de 66% de sua vegetação nativa protegida, podemos dizer também que temos uma agricultura muito bem-sucedida na fixação de carbono da atmosfera no solo. Nos últimos dez anos, fomos capazes de evitar a emissão de 170 milhões de toneladas de gás carbônico e beneficiando 52 milhões de hectares com tecnologias sustentáveis de produção, promovidas principalmente pelo Plano ABC. Devido ao seu sucesso desse plano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou em abril de 2021 o Plano ABC + como forma de atualizar o programa, com metas mais ousadas e que devem aprimorar a sustentabilidade da produção agropecuária ao longo da próxima década.
Uma das tecnologias incentivadas pelo Plano ABC é a fixação biológica de nitrogênio, onde a substituição do uso de um fertilizante fóssil, no caso o nitrogênio, ocorre por meio de um processo natural de interação planta-microrganismo. Essa prática, além de contribuir com a redução de GEE também preserva a biodiversidade do solo.
Bancos de germoplasma: ferramenta essencial para a conservação da biodiversidade do planeta
Outras tecnologias incentivadas pelo plano também se encaixam no contexto de uma agricultura mais biodiversa, como a integração lavoura, pecuária e florestas (iLPF), florestas plantadas (FP) e sistema de plantio direto (SPD). No caso da iLPF, que representa a união de um conjunto de práticas de cultivos agrícolas com pecuária e florestas plantadas. A diversificação da produção em uma mesma área, além de reduzir emissões de gases GEE, preserva ao mesmo tempo em que se produz. As FPs, além de suprir a demanda por produtos madeireiros, atua na recomposição dos biomas, e no manejo adequado de Áreas de Proteção Permanentes (APPs) e áreas de Reserva Legal (RL), propostas pelo Código Florestal.
Já o SPD atua principalmente da biodiversidade do solo que, ao contrário do plantio convencional, não proporciona práticas intensas de preparo do solo, preservando sua temperatura, umidade e fontes orgânicas de alimento para micro e macrorganismos que nele vivem.
Principais fontes:
Ministério do Meio Ambiente (MMA). Brasil defende Fundo Global de Biodiversidade e pagamento por serviços ambientais na COP15. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/brasil-defende-fundo-global-de-biodiversidade-e-pagamento-por-servicos-ambientais-na-cop15 Acesso em: 25 jan. de 2023.
United Nations. Press Release: Nations Adopt Four Goals, 23 Targets for 2030 In Landmark UN Biodiversity Agreement Disponível em: https://www.un.org/sustainabledevelopment/blog/2022/12/press-release-nations-adopt-four-goals-23-targets-for-2030-in-landmark-un-biodiversity-agreement/ Acesso em: 25 jan. de 2023.