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Modos de produção com diversidade: o Brasil tem espaço para todos

A agricultura é mais diversa do que você pode imaginar, afinal não existe apenas uma forma de se produzir alimentos. Até podemos dividir entre sistema de produção extensivo e intensivo, no entanto, dentro de cada um desses sistemas, diferentes práticas de manejo podem ser empregadas.

A produção agrícola passa por modificações rápidas em resposta às mudanças nos custos de produção, demandas dos consumidores e preocupações com a segurança alimentar, segurança e impacto ambiental.

Isso faz com que a diversidade dos modos de produção no Brasil seja grande. 

Novas descobertas científicas e tecnologias, como por exemplo, automação robótica, inteligência artificial, cultivo vertical e edição de genes, podem desempenhar um papel não apenas no aprimoramento dos sistemas existentes, mas no desenvolvimento de novos sistemas e novos produtos na agricultura.

Desde o início, a agricultura teve um grande papel social

A agricultura é o processo organizado de cultivo de plantas, seja para a produção de alimentos, fibras, combustível, ornamentação e outros produtos derivados de vegetais.

O cultivo de alimentos e bens por meio da agricultura produz o grande suprimento mundial de alimentos. Achados arqueológicos indicam que essa prática tem ocorrido nos últimos 12.000 anos, e amplamente se estabelecido em apenas 7.000 anos, quando áreas maiores começaram a ser cultivadas e comunidades foram se fixando e formando povoados.

A primeira planta domesticada foi provavelmente o arroz ou milho. Os agricultores chineses cultivavam arroz já em 7500 a.C. E o milho ancestral já estava sendo cultivado há 9 mil anos no México.

Com o tempo, mais plantas e animais tornaram-se domesticados ou dependentes das intervenções humanas, para sua propagação ou sobrevivência a longo prazo. Na década de 1990, os arqueólogos concluíram que a agricultura no Crescente Fértil começou na Jordânia e em Israel, uma região conhecida como sul do Levante.

A agricultura tem sido um dos pilares do desenvolvimento humano e transformado radicalmente nossas sociedades ao entregar alimentos e outros insumos para uma população   que passou de 4 milhões para 7 bilhões desde 10.000 a.C., e ainda está crescendo.

A agricultura no papel da transformação social da humanidade

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Em terras nacionais, a agricultura é potência

A importância do agronegócio para o Brasil é inquestionável. O setor responde por um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país, sendo que 1 em cada 3 trabalhadores brasileiros está empregado em lavouras, criações, agroindústria e na produção de insumos.

Desde a descoberta do Brasil pelos europeus, os colonizadores encontraram nas nossas terras uma grande oportunidade para expandirem sua agricultura. Atualmente, o Brasil ocupa uma posição de destaque no mundo como provedor de alimentos, fibras e biocombustíveis. 

Somos reconhecidos no comércio mundial de café, soja, milho, algodão, carne bovina, carne de frango, carne suína, açúcar, suco de laranja e celulose. Aumentamos a produção e a produtividade da agropecuária. Com isso, passamos a exportar grandes quantidades de alimentos e ainda diminuímos o custo relativo da nossa cesta básica.

Embora a agricultura não seja uniforme em todo o país, é a atividade mais difundida e pode ser classificada com base no tipo de cultura, escala, intensidade do cultivo, nível de mecanização, sistemas integrados de produção, entre outros.

Dependendo de onde você mora no Brasil, a primeira coisa que provavelmente vem à mente são os grandes campos de milho, soja, cana-de-açúcar, trigo ou algodão que crescem a cada verão. Sim, os grãos, fibras e biocombustíveis representam uma grande fatia da produção brasileira, mas não é só isso.

Um país vasto e continental como o Brasil contempla os diferentes sistemas da produção agrícola. Há espaço para todos. Desde os grandes produtores de commodities, até os pequenos produtores familiares. É vasta a gama de produtos e nichos de mercado que os tipos de produção podem atingir.

Os diferentes modos de produção agrícola estão difundidos pelo Brasil

Os diferentes modos de produção agrícola estabelecem configurações de cultivo que se baseiam nas condições do ambiente e são adequados às características e necessidades da produção e dos agricultores.

Os pesquisadores classificaram os modos de produção de acordo com sua expansão, disponibilidade de água, padrão de cultivo, volume de produção, variações sazonais, concentrações regionais, sistema social, propriedade da terra etc. Em alguns casos, pode haver sobreposição dos tipos, dificultando sua classificação. No entanto, vamos apresentar aqui os principais modos de produção praticados no Brasil.

Agricultura orgânica

A agricultura orgânica é um conjunto de práticas agrícolas que se concentram no cultivo de alimentos utilizando, preferencialmente produtos não sintéticos. É considerado um sistema de produção que visa evitar o uso de tecnologias como transgênicos, pesticidas sintéticos, fertilizantes químicos e reguladores de crescimento das plantas.

A agricultura orgânica é um dos temas que fazem parte da agroecologia, uma forma de agricultura que retoma às concepções agronômicas anteriores à chamada Revolução Verde.

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Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a agricultura orgânica enfatiza o uso de produção interna de insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas. Esse sistema leva em consideração as condições regionais do local onde as propriedades estão instaladas. 

Isso é alcançado usando, quando possível, métodos agronômicos, biológicos e mecânicos, em vez de usar materiais sintéticos para cumprir qualquer função específica no campo.

Embora seja frequentemente chamada de “agricultura alternativa”, a agricultura orgânica representa a forma mais tradicional de agricultura, quando comparada à agricultura moderna. E isso não torna o alimento orgânico mais saudável quando comparado a outros alimentos cultivados nos diferentes modos de produção.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), entre 2016 e 2019 houve um aumento de mais de 50% no número de unidades produtivas de orgânicos no Brasil, já chegando a 22 mil propriedades cadastradas no sistema orgânico. A maior parte da produção é oriunda de pequenos produtores. As regiões Sul (40%), Nordeste (24%) e Sudeste (22%) são as que mais concentram produtores desse modo de produção.

A pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que já são cerca de um milhão de hectares sendo cultivados organicamente no Brasil. Nessa área são produzidas frutas, hortaliças, raízes, tubérculos, grãos e produtos agroindustrializados. Além disso, o Brasil exporta principalmente açúcar, mel, grãos, frutas e castanhas orgânicos para 76 países.

Agricultura familiar e de subsistência

Uma outra forma de produzir, que tem um caráter social também importante é a agricultura familiar. Constituída de pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores. 

A agricultura familiar é um sistema onde a organização e controle da propriedade é compartilhada pela família. Além disso, a atividade produtiva agropecuária tem que ser a principal fonte de renda. Fazendo com que o agricultor familiar tenha uma relação íntima com a terra, que além de ser seu local de trabalho é também sua moradia.

O setor se destaca pela produção de milho, mandioca, pecuária leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, olerícolas, feijão, cana, arroz, suínos, aves, café, trigo, mamona, fruticulturas e hortaliças. A diversidade produtiva é uma característica marcante desse setor, pois muitas vezes alia a produção de subsistência a uma produção destinada ao mercado.

Segundo os dados apresentados no Censo Agropecuário de 2017, das mais de 5 milhões de propriedades rurais avaliadas em todo o Brasil, o censo mostra que 77% dos estabelecimentos agrícolas do país são classificados como agricultura familiar. Essas propriedades correspondem a 23% da área de todas as propriedades agropecuárias do Brasil, o que chega a quase 15,3 milhões de hectares. No último censo, a agricultura familiar brasileira movimentava mais de 490 milhões de reais em todo o país e conta com mais de 10 milhões de pessoas trabalhando.

A Brasil incentiva a agricultura familiar e dispõe de diversos programas de governo destinados direta ou indiretamente à agricultura familiar, como financiamentos, empréstimos e subsídios aos agricultores.

Sistema agroflorestal (agrossilvicultura)

Esse sistema concentra algumas atividades agrícolas em um mesmo espaço, ao mesmo tempo. É o uso da terra e tecnologias em que plantas perenes (árvores, arbustos, palmeiras, bambus etc.) são mantidas no mesmo espaço de manejo da terra com culturas anuais e/ou animais. Isso de forma alternada e em uma sequência ao longo do tempo.

Os sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas apresentam maior facilidade de recuperação da fertilidade dos solos, fornecimento de adubos verdes, controle de ervas daninhas, entre outros.

Ainda, em SAFs existem interações ecológicas e econômicas entre os diferentes componentes. Em particular, a agrossilvicultura é importante para os pequenos agricultores e outros participantes da zona rural porque pode melhorar seu suprimento de alimentos, renda e saúde. Mas, nada impede de haver médios ou grandes produtores que também adotem esse modo de produção. 

O sistema agroflorestal procura equilibrar várias necessidades: 

  1. produzir árvores para madeira e outros fins comerciais; 
  2. produzir um suprimento diversificado e adequado de alimentos para atender à demanda global e satisfazer as necessidades dos próprios produtores; e 
  3. garantir a proteção do meio ambiente para que continue a fornecer recursos e serviços ambientais para atender às necessidades das gerações presentes e futuras.

Já são muitos hectares que adotam o SAF, distribuídos em quase todos os estados brasileiros. Inclusive, existem conceitos e práticas estabelecidas para a implantação dos SAFs no bioma amazônico, garantido preservação e produção comercial e de subsistência.

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A implantação dos sistemas integrados pode nos ajudar a desenvolver diferentes cadeias produtivas numa mesma área. A associação das diferentes cadeias diminui os custos de produção, reduz os impactos ambientais e aumenta a produtividade.

Por definição, os sistemas integrados são aqueles em que numa mesma área há integração em dois ou mais sistemas de produção agrícola. Essa integração pode ser por consórcio, rotação ou sucessão de sistemas.

Podemos dividir os sistemas integrados em quatro diferentes tipos:

A ILPF reúne todos os componentes agrícola, pecuária e florestal em um único sistema, no Brasil já são 15 milhões de hectares que usam esse sistema de produção. A lavoura pode ser implantada no início da implantação florestal ou em ciclos, durante o desenvolvimento do sistema. No sistema ILPF, a lavoura é o componente que precisa de maiores cuidados iniciais, pois é com a produção que serão pagos os primeiros investimentos feitos para a implantação do sistema.

Sistemas integrados de produção

Agricultura moderna (convencional)

A agricultura moderna, é o modo de produção que emprega alta tecnologia, investe em produtos tecnificados e tem um grande impacto econômico e social no Brasil.

Incorpora grande acervo de tecnologia e conhecimento relacionados à produção agrícola, sendo por isso, parte muito importante do agronegócio brasileiro. É resultado de inovações tecnológicas que permitem ao agricultor o melhor aproveitamento do campo. É conduzida de maneira tecnificada e estruturada. Para isso, o agricultor faz uso de diversas tecnologias, insumos e planejamentos, tendo como objetivo principal abastecer diversos mercados.

Esse modo de produção proporcionou enormes ganhos em produtividade e eficiência. A produção de alimentos em todo o mundo aumentou nos últimos 50 anos e segundo o Banco Mundial entre 70% e 90% dos recentes aumentos na produção de alimentos são o resultado da agricultura moderna, no lugar de aumento de área de cultivo.

Na agricultura moderna, os sistemas de cultivo variam de propriedade para propriedade e de país para país. No entanto, eles compartilham muitas características, como rápida inovação tecnológica, grandes investimentos de capital em equipamentos e tecnologia, fazendas em grande escala.

Esse modo de produção preza por culturas híbridas uniformes de alto rendimento, mecanização do trabalho agrícola e uso de defensivos agrícolas, fertilizantes e produtos biológicos.

A agricultura moderna traz sustentabilidade ao campo

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Além disso, a agricultura moderna visa melhorar o desenvolvimento de plantas cultivadas, reduzindo o uso de recursos naturais.

Na agricultura moderna, os defensivos, independente da origem do seu princípio ativo (químico ou biológico), devem ser usados em conjunto para que se alcance o controle adequado de doenças e pragas e se diminua a velocidade de perda de tecnologias.

Segundo o IBGE, em 2018, a área agrícola brasileira foi de 67 milhões de hectares, ou seja, apenas 7,6% do território brasileiro. Área essa contabilizada por todos os modos de produção agrícola do Brasil. 

Atualmente, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão ou 21,4% do PIB brasileiro, em 2019 segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), sendo que 43% de toda a exportação brasileira foi oriunda do agronegócio. E é o agronegócio brasileiro que liderou as novas vagas de emprego em 2020, somente de janeiro a agosto foram mais de 90 mil novos postos criados.

A agricultura que desponta o Brasil no cenário mundial

A agricultura brasileira está entre as melhores do mundo. As práticas adotadas pelos produtores fazem com que o país seja referência em produção, tecnologia e sustentabilidade. Independente dos modos de produção que se adote, a vocação do solo brasileiro para produzir é real. 

Além disso, a integração das práticas agrícolas sustentáveis é cada vez mais frequente e a preocupação social e ambiental prevalece em quase totalidade dos produtores.

Por fim, é importante ressaltar que todos os modos de produção são adequados e podem conviver em harmonia no Brasil. Além do espaço para cultivo no país, existe um amplo mercado consumidor que pode ser muito bem atendido pela diversidade da agricultura brasileira.

Principais fontes:

Bhiava, J. C., Sistemas agroflorestais (SAF’s): experiências no sudoeste do Paraná. Universidade Tecnológica Federal Do Paraná, 2020.

Koch, N. et al., Agricultural productivity and forest conservation: evidence from the Brazilian amazon. American. Journal of Agricultural Economy, 2020.

Mylonas, I.  et al., Better farming practices to combat climate change. Climate Change and Food Security with Emphasis on Wheat, 2020.

Singh, M., Organic Farming for Sustainable Agriculture. Indian Journal of Organic Farming, 2021.

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