Solo saudável: principal ferramenta na descarbonização do meio ambiente
A descarbonização do meio ambiente, ou seja, o conjunto de ações que visam diminuir a concentração de carbono do ar (o excedente oriundo das atividades humanas), é o maior desafio da atualidade e, um trabalho para a ciência. Afinal, o dióxido de carbono (CO2) é um dos principais gases do efeito estufa (GEE) e reconhecido como grande responsável pelas mudanças climáticas.
Por isso, seja ele proveniente do desmatamento, da queima de combustíveis fósseis, da agropecuária, de resíduos de lixo e das mais diversas indústrias, o CO2 oriundo das atividades humanas precisa ser capturado. Nessa direção, uma estratégia eficaz para descarbonizar a atmosfera é a recarbonização dos solos agrícolas.
Carbono, de fonte de vida a vilão
O gás carbônico e seus ciclos
Essencial para a vida no planeta, o carbono é encontrado na atmosfera na forma de dióxido de carbono. Inclusive, organismos vivos como animais e plantas liberam esse gás durante a respiração. No entanto, o que preocupa não é a presença de CO2 na atmosfera, mas sim a sua alta concentração.
Solo, a base de tudo
Claramente, o dióxido de carbono não é um poluente. Ele está naturalmente presente nos seres vivos, nos solos, nas rochas, nos ecossistemas aquáticos e na atmosfera. E o mais importante, ele cicla constantemente, fazendo com que o carbono transite entre os organismos vivos e o meio ambiente, naturalmente.
Até mesmo nas chuvas, o CO2 é encontrado formando uma solução ácida (H2CO3) capaz de promover erosão de rochas e auxiliar no processo de formação de rochas calcárias. Estas, por sua vez, podem originar o magma que também produz gás carbônico, que é liberado para a atmosfera pelos vulcões. Essa é uma forma mais lenta de reciclagem do CO2 – conhecido como ciclo geológico do carbono.
No entanto, o ciclo biológico do carbono (que envolve os seres vivos) é mais rápido. Nele, o mecanismo mais eficiente é a fotossíntese. Aqueles organismos que realizam fotossíntese retiram da atmosfera o CO2 e em troca liberam oxigênio (O2). O carbono (C) passa então a integrar moléculas orgânicas.
As moléculas orgânicas são usadas como alimentos passando de um ser vivo para outro por meio da cadeia alimentar e formam a matéria orgânica que também pode ser chamada de biomassa. A decomposição da matéria orgânica faz com que seja liberado CO2 na água e solos. Sem deixar de lembrar que, liberamos gás carbônico na atmosfera quando respiramos.
Nos solos, esse carbono pode ficar armazenado por milhares de anos, desde que não seja degradado. Por isso, podemos dizer que o solo pode exercer um papel duplo. Ele pode armazenar carbono e outros gases do efeito estufa (GEEs) quando for um solo saudável e bem manejado. Assim como pode ser fonte líquida de GEEs se não for manejado e impactar a sua estrutura física e biológica.
Em relação às atividades humanas, nós intensificamos a liberação de CO2 na atmosfera quando utilizamos a queima de combustíveis fósseis e práticas industriais sem cuidados com a mitigação sobre o aquecimento global. Em função do crescimento da urbanização e dos modelos de produção que predominam na nossa economia, é fácil prever o quanto intensificamos práticas que elevaram os níveis atmosféricos de dióxido de carbono. Portanto, é essencial e urgente desenvolvermos métodos para capturar o CO2 excedente.
Solo como instrumento de captura de gás carbônico
Os solos constituem o principal reservatório de carbono na terra, principalmente em forma de matéria orgânica. Inclusive, quanto maior a matéria orgânica do solo, maior é a capacidade do solo capturar CO2.
Atualmente, a captura de CO2 também recebe o nome de sequestro de carbono e é muito valorizada no mundo, especialmente por estar associada ao controle das mudanças climáticas.
Créditos de carbono podem virar a nova commodity
O solo saudável, com sua biodiversidade, umidade e características físicas preservadas é mais eficiente em decompor biomassa, capturar CO2, armazená-lo e utilizá-lo na construção de matéria orgânica, aumentando a fertilidade da terra e favorecendo o desenvolvimento das plantas que também realizam captura de CO2 da atmosfera. Um ciclo virtuoso que se retroalimenta.
Nutrientes do solo são o alimento para as plantas
Por isso, evitar a degradação dos solos, seja por desmatamento, perda de nutrientes, compactação, erosão, alagamento ou urbanização, favorece o armazenamento de carbono nos solos e impede que o CO2 e outros gases do efeito estufa sejam emitidos na atmosfera.
Precisamos recarbonizar os solos
No entanto, o relatório de 2015: Status dos Recursos do Solo do Mundo (SWRS) destaca que 33% dos solos do mundo estão degradados devido à erosão, salinização, compactação, acidificação e poluição química dos solos. Essas características resultam em perdas de matéria orgânica e aumentam a liberação de CO2 na atmosfera.
Para reverter esse cenário, a ciência tem desenvolvido estratégias para reduzir a degradação dos solos por meio do acúmulo de matéria orgânica e promovendo o manejo sustentável. O objetivo é justamente “recarbonizar” os solos e mitigar as mudanças climáticas.
Dessa forma, a agricultura pode contribuir no combate ao aquecimento global, realizando o manejo sustentável dos solos. Nessa perspectiva, a Organização das Nações Unidas para alimentação e Agricultura (FAO) propõe algumas medidas para manter a saúde do solo:
- aumentar a conscientização sobre a importância dos solos no combate às mudanças climáticas;
- promover programas para análises sobre as condições dos solos;
- aumentar concentração de matéria orgânica;
- promover a rotação de culturas no campo;
- reduzir a erosão dos solos;
- implementar planejamento para uso da terra;
- conter a degradação do solo;
- empregar nutrientes de forma eficiente
Analisando várias dessas práticas podemos dizer que a agricultura moderna também pode auxiliar na mitigação dos gases do efeito estufa. Afinal, ela preconiza as práticas de conservação de solo, como o plantio direto, rotação de culturas, cobertura verde e integração de lavouras. Segundo dados da Embrapa, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é capaz de “sequestrar” 8 toneladas de carbono por hectare ao ano, o que resulta numa redução de emissão entre 20 e 30%.
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Principais fontes
FAO. Agriculture and climate change Challenges and opportunities at the global and local level – Collaboration on Climate-Smart Agriculture. Rome, 2019.
FAO. Global soil organic carbon map v1.5: technical report. Rome, 2020.
Litskas V.D. et al., Climate change and agriculture: carbon footprint estimation for agricultural products and labeling for emissions mitigation. Sustainability of the Food System. 2020.
Schahczenski J. e Hill H. Agriculture, climate change and carbon sequestration. ATTRA—National Sustainable Agriculture Information Service. 2009.