Os impactos da biotecnologia agrícola
A biotecnologia reúne técnicas e ferramentas que possibilitam a manipulação de organismos vivos para fabricar ou modificar produtos. A palavra tem origem grega: “bio” significa vida, “tecnos” remete à técnica, e “logos” quer dizer “conhecimento”. Nesse sentido, a biotecnologia agrícola contempla os produtos agrícolas desenvolvidos empregando organismos e metodologias moleculares, resultando em tecnologias para agricultura que têm resultado em benefícios, como:
- Intensificação do melhoramento genético de plantas;
- Sementes de alto rendimento, de valor nutricional melhorado, resistentes ou tolerantes às pragas, a estresses abióticos e a pesticidas;
- Otimização no uso de insumos;
- Facilidade de manejo e controle de doenças;
- Maior conservação do solo;
- Aumento da produção de alimentos;
- Redução nas emissões de gases do efeito estufa;
- Economia de água.
Sobre a biotecnologia agrícola
A biotecnologia ganhou destaque na agricultura a partir do desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante (1972). Com ela, foi possível introduzir novas características em plantas, de forma dirigida, controlada e prática. Assim a biotecnologia agrícola se tornou um importante pilar da agropecuária moderna, acelerando e entregando de novas culturas (com as mais diversas características), vacinas, microrganismos e animais. Desta forma, otimizando o uso de insumos, recursos naturais e a conservação do meio ambiente.
Biotecnologia: o que é e como ela ajuda a humanidade a se desenvolver
Os cientistas buscam na biotecnologia agrícola a solução para muitos problemas, como por exemplo a introdução de genes que fazem com que as plantas resistam a falta de nutrientes no solo, falta de água, temperaturas elevadas, ao ataque de pragadas e até mesmo para melhorar características nutricionais dos alimentos.
Tudo isso pode parecer algo distante de você, mas não é! A adoção dessas tecnologias faz com que seja possível o plantio de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e outras culturas em regiões naturalmente impróprias para sua produção, promovendo o desenvolvimento daquela região e gerando empregos. Além disso, quanto mais próximo à origem do produto, menor o seu custo para o consumidor.
Se você ainda não estiver convencido dessa proximidade, saiba que os produtos agrícolas mencionados servem de matérias-primas para muitos ingredientes que você conhece como: farinha, óleo de cozinha, molho, proteína texturizada, açúcar, combustível e até mesmo tecidos, ou seja a biotecnologia agrícola faz parte do seu dia a dia.
Também é por meio da biotecnologia agrícola que muitos países conseguem aumentar ou até mesmo alcançar a independência na produção agrícola e industrial. A adoção dessas tecnologias também teve importante papel em fazer do Brasil um grande exportador de grãos e carne.
A biotecnologia e os organismos geneticamente modificados
Quando falamos em biotecnologia agrícola, também estamos falando sobre os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Uma vez que, a própria Lei de Biossegurança (Lei n° 11.105) caracteriza qualquer organismo que tenha tido seu material genético modificado, por técnicas de DNA/RNA recombinante, como um OGM.
Dessa forma, as principais tecnologias desenvolvidas pela biotecnologia agrícola são os OGMs. Vale ressaltar que além da introdução de genes no genoma de um organismo, com a biotecnologia, também é possível silenciar (“desligá-lo” e fazer com que o gene não tenha efeito), deletar ou editar genes.
Qual a diferença entre OGM, transgênico e cisgênico?
Assim como qualquer outro produto, antes de chegar ao mercado, os produtos biotecnológicos devem passar por um longo processo de avaliação que garanta a qualidade e segurança desses produtos para as pessoas e meio ambiente. Avaliações toxicológicas, alergênicas, nutricionais e ambientais fazem parte dos estudos a que são submetidos os produtos. Ou seja, a biotecnologia não pode ser conduzida sem seguir procedimentos, regras e fiscalização conduzida por órgãos reguladores.
Neste contexto a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão responsável por realizar as análises técnico científicas, caso a caso, sobre os produtos que tenham sido desenvolvidos a partir de biotecnologia.
A CTNBio faz esse trabalho desde 1996, ano em que ocorreu a primeira reunião da comissão. Mais de 330 cientistas já fizeram parte da CTNBio e nos últimos 26 anos trabalharam para que apenas aqueles produtos biotecnológicos suficientemente seguros fossem aprovados no Brasil. Atuaram também na modernização da Lei de Biossegurança fazendo com que essa pudesse acompanhar as inovações dentro da biotecnologia e estimulando o avanço científico.
25 anos de rigor científico garantem a segurança da biotecnologia no campo, saúde, meio ambiente e indústria
A primeira tecnologia desenvolvida pela biotecnologia agrícola recebeu aprovação de seu uso, pela CTNBio, em 1998 e se tratava de uma soja tolerante a herbicida. Entre os benefícios dessa tecnologia para os produtores é possível destacar o aumento de produtividade, a redução no custo de produção e o ganho de eficiência de manejo da soja. O que explica a alta adoção da soja geneticamente modificada.
Desde então a CTNBio já avaliou para uso comercial mais de 200 produtos. Esses OGMs (ou derivados) são utilizados nos setores de agricultura, da pecuária, da indústria e da saúde da população brasileira, como é o caso de vacinas para proteção de centenas de milhões de brasileiros contra doenças, como a COVID19.
A biotecnologia agrícola faz com que o Brasil alcance recordes de produção no agronegócio, posicionando o país como um dos maiores produtores e exportador de alimentos do mundo.
Solução para o aquecimento global
A biotecnologia agrícola segue em desenvolvimento e novas áreas como a edição genética e biologia sintética vão ganhando destaque, prometendo entregar soluções para o principal desafio desse século, o aquecimento global. As mudanças climáticas causadas por essa alteração de temperatura já são vistas em todo o globo, inclusive no Brasil.
As novas tecnologias precisarão não só entregar produtividade, mas também promover a mitigação de gases do efeito estufa. Com isso, a próxima geração de OGMs deve apresentar características que permitam uma agricultura de alta produtividade em áreas já cultiváveis (poucos nutrientes disponíveis), de temperaturas elevadas, baixa disponibilidade de água, entre outros desafios ambientais.
Devem fazer parte dessa nova leva de produtos biotecnológicos, plantas com melhor eficiência fotossintética, com maior capacidade de fixação de nitrogênio, tolerantes à seca e temperaturas extremas, assim como microrganismos capazes de auxiliar as plantas nessas funções.
Principais fontes
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. CTNBio 25 anos – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança sob o olhar de seus Presidentes. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, 2021.
Cravens, A., Payne, J. and Smolke, C. D. Synthetic biology strategies for microbial biosynthesis of plant natural products. Nature, 2019.
Mozafari, M., Tariverdian T e Beynaghi A. Trends in Biotechnology at the Turn of the Millennium. Recent Patents on Biotechnology, 2020.
Ramankutty, N. et al. Trends in Global Agricultural Land Use: Implications for Environmental Health and Food Security. Annual Review of Plant Biology, 2018.