Pesquisa mostra que 72% dos brasileiros são favoráveis a utilização do trigo transgênico para a produção de alimentos.
Em outubro de 2020, a Argentina aprovou o primeiro trigo geneticamente modificado do mundo para cultivo e consumo. O trigo conhecido como HB4 tem características de aumento da produtividade em até 20% e atualmente é a única tecnologia de tolerância à seca para a cultura do trigo no mundo.
A Argentina é o maior produtor de trigo da América Latina e o primeiro país a adotar a tecnologia de tolerância à seca HB4 para o trigo. A produção do trigo aumentou drasticamente em 2021 e continuará a expandir em 2022, depois que a Argentina recebeu aprovação regulatória no final de 2021 para exportações para o Brasil, grande consumidor de trigo argentino.
A aprovação do trigo HB4 no Brasil é um passo importante para a construção de sistemas agrícolas resilientes ao clima que usam o trigo como componente-chave para a rotação de culturas.
O trigo é um alimento básico para bilhões de pessoas em todo o mundo e uma cultura que permaneceu órfã na esfera da biotecnologia, apesar de ser plantada em 200 milhões de hectares em todo o mundo.
Garantia de segurança para o consumo
A aprovação do trigoHB4 no Brasil ocorreu apenas para o consumo e comercialização, sendo proibido o plantio e o cultivo da biotecnologia em solo brasileiro.
Após um rigoroso processo de revisão que incluiu o uso de conjuntos de dados OMICS – avaliação dos genes, proteínas, transcriptomas e do perfil metabólico em humanos e outros organismos – para apoiar a avaliação da segurança do trigo HB4, a Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou por unanimidade as condições de biossegurança para a farinha obtida do trigo HB4.
O processo regulatório abrangente envolveu o desenvolvimento de metodologias de última geração para abordar as preocupações com riscos alergênicos e demonstrar a correspondência de segurança do trigo HB4 ao seu equivalente convencional.
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Além disso, foi estimado pelo The Breakthrough Institute que o cultivo de trigo HB4 tolerante à seca em um terço da área de cultivo de trigo da Argentina poderia reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em pelo menos 0,86 milhão de toneladas métricas de equivalentes de CO2 por ano (MtCO2e/ano) se os rendimentos aumentarem 13% e até para 1,29 MtCO2e/ano se os rendimentos aumentarem 20%.
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Essas economias de emissões de gases de efeito estufa são iguais a 34% e 51% das emissões anuais da produção de trigo da Argentina, respectivamente. Além de mais produtivo e resiliente, o trigo HB4 também é um aliado na mitigação das mudanças climáticas.
Aceitação do trigo transgênico pelos consumidores
Após avaliação, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou em 11 de novembro de 2021 a comercialização da farinha de trigo transgênico no país.
Embora a grande maioria das culturas de soja e milho do mundo já sejam transgênicos, eles são amplamente utilizados como alimento para o gado. O trigo modificado, por sua vez, poderia gerar maior questionamento, pois seria consumido diretamente por humanos em pães e massas.
Em 2021, entidades do setor, como associações da indústria do trigo e de biscoitos, massas e bolos se mostraram contra a tecnologia alegando que seriam prejudicadas e não iriam comprar farinha de trigo transgênica. Mesmo com as pesquisas realizadas desde 2000 e comprovando a equivalência do evento transgênico às cultivares não transgênicas.
Pesquisa revela percepção favorável ao trigo transgênico no Brasil
Para entender a percepção dos brasileiros em relação ao consumo do trigo transgênico, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) e a Indexsa realizaram uma pesquisa com mais de 3 mil entrevistados.
As entrevistas foram feitas em 2021, tanto de forma presencial (1567 pessoas) quanto virtualmente (1568 pessoas). Os consumidores entrevistados tinham até 69 anos e residiam em 12 capitais das Regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste e do Distrito Federal.
Alimentos transgênicos: o que dizem os estudos e quais os benefícios?
De maneira geral, os resultados da pesquisa mostram que a maioria dos entrevistados conhece o que é um alimento transgênico e não vê problema em seu consumo. Foram 57% dos entrevistados que conheciam o que é um alimento transgênico, sendo que 75,5% desta fatia responderam que sabiam que consumiam produtos geneticamente modificados.
Os 43% restantes disseram não saber o que é um produtor transgênico e destes, 960 pessoas informaram que consumiriam esses alimentos após receberem informações sobre produtos geneticamente modificados.
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Com relação, especificamente, ao trigo transgênico, a pesquisa mostrou que 72% dos entrevistados (2.257 pessoas) não têm restrição com o consumo de bolos, massas e biscoitos feitos a partir de farinha de trigo GM. Sendo que os 28% restantes afirmam que não consumiriam produtos desenvolvidos a partir da biotecnologia.
As discussões sobre aceitação de transgênicos na alimentação ainda existem em alguns lugares do mundo. Apesar de que, em mais de 25 anos de adoção de transgênicos não se observou nenhum impacto na saúde das pessoas e animais.
Os benefícios que os transgênicos trouxeram
Já são comprovados os benefícios socioeconômicos que as culturas geneticamente modificadas trouxeram.
Em 15 de julho de 2020, a PG Economics, consultoria inglesa especializada em agricultura, publicou o 14º relatório anual sobre o impacto econômico e ambiental global da produção de transgênicos.
O novo estudo analisou 23 anos de uso comercial de OGM´s e aponta que esses alimentos contribuem com o meio ambiente e são mais rentáveis do que os convencionais. Em 2018, por exemplo, para cada dólar extra investido em sementes transgênicas – em comparação aos cultivos convencionais – o agricultor ganhou em média US$ 3,75 a mais.
Entre os benefícios apontados pela PG Economics para o cultivo de transgênicos estão:
– 23 milhões de toneladas de dióxido de carbono – CO2 – deixaram de ser emitidas em 2018. O volume poupado equivale ao produzido por 15,5 milhões de carros. CO2 é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa;
– 776 mil toneladas de ingredientes ativos de defensivos químicos não foram usadas no campo, incluindo inseticidas e herbicidas – uma redução global de 8,6% para o período entre 1996 e 2018. Isso é igual a mais de 1,6 vezes o uso total de defensivos agrícolas da China a cada ano;
– A biotecnologia rendeu uma produção adicional de 278 Mt (milhões de toneladas) de soja, 498 Mt de milho, 32,6 Mt de algodão e 14 Mt de canola;
– Uma maior produtividade – produzir mais numa mesma área plantada – e diminuição no uso defensivos estão relacionadas com menor emissão de CO2. Sem a necessidade de máquinas para aplicação de agrotóxicos, reduziu-se também o consumo de combustível;
– O benefício líquido de renda para a agricultura mundial acumulado no período de 1996 a 2018, foi de US$ 225 bilhões, um incremento médio de US$ 96,7 por hectare cultivado. Apenas em 2018, esse valor foi de US$ 18,95 bi, equivalente a um aumento médio na renda de US$ 103 por hectare.
– Também em 2018, o agricultor teve um retorno financeiro maior para cada dólar extra investido em sementes transgênicas, em relação aos cultivos convencionais. Nos países em desenvolvimento, o retorno médio foi de US$ 4,41 e, nos desenvolvidos, US$ 3,24 para cada dólar extra investido.
O relatório conclui que, sem essa tecnologia, para manter os níveis de produção de 2018, seria necessário o plantio adicional de 23,5 milhões de hectares para soja, milho e algodão, sendo a maior parte, 12,3 Mt para soja.
Principais fontes:
Bioceres Crop Solutions Corp. Announces Regulatory Approval of Drought Tolerant HB4® Wheat in Argentina. Disponível em: https://investors.biocerescrops.com/news/news-details/2020/Bioceres-Crop-Solutions-Corp.-Announces-Regulatory-Approval-of-Drought-Tolerant-HB4-Wheat-in-Argentina/default.aspx. Acesso em 07/06/2022.
CTNBio. Audiência pública CTNBIO – Trigo HB4. Disponível em: http://ctnbio.mctic.gov.br/documents/566529/2279701/Palestra+Bioceres/9958dc8f-2dcb-4c87-be50-8489debeae71?version=1.0. Acesso em: 06/06/2022.
ISAAA, Brazil Approves Drought Tolerant HB4® Wheat. Disponível em: https://www.isaaa.org/kc/cropbiotechupdate/article/default.asp?ID=19114. 2021.
Kovak E. e Blaustein-Rejto D., The World’s First Genetically Engineered Wheat Is Here. The Breakthrough Institute. 2022.