Bioeconomia, empregando soluções disruptivas para uma sociedade sustentável
A bioeconomia se relaciona à utilização renovável de produtos, possibilitando a preservação dos recursos naturais, que são finitos. Concepção de extrema importância considerando que a nossa população continua crescendo e, consequentemente, consumindo cada vez mais recursos. Tal observação, gerou um alerta que impulsionou a visão preconizada pela bioeconomia com o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen.
Na visão de Roegen, o processo de produção de bens materiais diminui a disponibilidade de energia para o futuro, ameaçando as possibilidades de novas gerações produzirem mais bens materiais.
Para quebrarmos esse paradigma, é preciso encontrar soluções que sejam sustentáveis. Nesse sentido, a bioeconomia surge como uma proposta de inovação na gestão do desenvolvimento econômico da sociedade.
O que é Bioeconomia?
A bioeconomia pode ser considerada como a base do desenvolvimento sustentável e reúne todos os setores da economia que utilizam recursos biológicos.
A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), definiu em 2009 que a bioeconomia é:
“Um mundo no qual a biotecnologia representa uma parcela significante da produção econômica, sendo guiada pelos princípios do desenvolvimento sustentável”
De acordo com a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), a bioeconomia engloba toda a cadeia de valor que é orientada pelo conhecimento científico avançado e busca por inovações tecnológicas na aplicação de recursos biológicos e renováveis em processos industriais para gerar atividade econômica circular e benefício social e ambiental coletivos.
A biodiversidade como você nunca viu
A bioeconomia se diferencia de outros setores que utilizam recursos naturais, principalmente por priorizar o uso de inovações tecnológicas que auxiliam as indústrias a desenvolverem modelos sustentáveis de produção. Nessa direção, a biotecnologia é essencial na entrega de soluções disruptivas.
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a bioeconomia é o resultado de uma revolução na inovação aplicada aos recursos biológicos. Está diretamente relacionada à pesquisa, ciência e ao desenvolvimento e aplicação de produtos e processos nas áreas da saúde humana, da produtividade agroindustrial e de vários segmentos industriais.
A bioeconomia na prática
A biotecnologia está no centro das tecnologias que viabilizam a bioeconomia como estratégia de desenvolvimento. Mas, não podemos esquecer que a biotecnologia contempla a integração de diversas áreas que incluem a engenharia química, biologia molecular, nanotecnologia, bioinformática, biologia sintética e até mesmo a robótica.
A biologia sintética está cada vez mais próxima da agricultura
O emprego das soluções oriundas da bioeconomia já é uma realidade. Conheça algumas aplicações:
- Energia renovável como nos biocombustíveis;
- Biopolímeros que dão origem a plásticos biodegradáveis;
- Biodefensivos como os novos produtos biológicos aprovados no Brasil;
- Nanodefensivos como a química verde;
- Alimentos biofortificados como o arroz dourado;
- Biofármacos como as terapias gênicas e
- Cosméticos.
À medida que avançamos na ciência nessas grandes áreas de conhecimento, aliados à enorme riqueza natural brasileira, a tendência é que sejam desenvolvidos e adotados, cada vez mais, bioprodutos, decorrentes da bioeconomia.
Como são produzidos os biodefensivos de base microbiológica
Para você ter uma ideia, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia já movimenta no mercado mundial 2 trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. As estimativas da OCDE apontam que para países como o Brasil – ricos em biodiversidade – a bioeconomia poderá responder, até 2030, por mais 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Além disso, a bioeconomia está associada a mais da metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, passando pela segurança alimentar até a garantia de acesso à energia e saúde.
Bioeconomia no Brasil
Apesar da bioeconomia representar um termo novo, os bioprodutos não são. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) criado pelo governo brasileiro em 1975 é um marco no processo de desenvolvimento econômico e social no Brasil. Além disso, podemos mencionar o programa de biodiesel (Pró-óleo) iniciado na década de 1980 e o programa nacional para produção e uso do biodiesel (PNBIO) na década de 2000.
Biocombustíveis, a agricultura como fonte de energia renovável
O Proálcool, por exemplo, impulsionou pesquisas que incluem o melhoramento genético da cana-de-açúcar, a busca e identificação de novos microrganismos, avanços nos estudos e aplicação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e também no desenvolvimento de materiais automobilísticos, compatíveis com o etanol.
Com isso, a produção e o uso do etanol como fonte de energia se tornaram possíveis. E talvez você não saiba, mas a tecnologia associada aos carros à álcool e flex é nacional.
O Brasil também é considerado o país da biodiversidade. Em outras palavras, uma riqueza de recursos naturais e de recursos genéticos que abre oportunidades para o seu protagonismo na bioeconomia mundial. Para isso, é importante que o país possua políticas públicas que promovam o ecossistema de inovação e desenvolvimento de bioprodutos nos mais diversos setores. Indústria em geral, especialmente química, de materiais, de informática, bem como na agricultura, na energia e na saúde.
Biodiversidade e agricultura: benefício compartilhado
Bancos de germoplasma: ferramenta essencial para a conservação da biodiversidade do planeta
Podemos destacar o investimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos para o uso da biodiversidade dentro dos preceitos da bioeconomia mundial. Apenas para ilustrar, listamos alguns projetos como:
- Desenvolvimento de biofábricas de plantas, animais e microrganismos para a produção de biofármacos, bioplásticos e cosméticos, empregando ferramentas da biotecnologia.
- Desenvolvimento de nanomateriais para a indústria de alimentos, materiais, pós-colheita e embalagens via reaproveitamento de resíduos agropecuários, agroindustriais e florestais.
- Desenvolvimento de rotas tecnológicas eficientes do ponto de vista econômico e ambiental para o uso de lignina na produção de energia, compostos químicos e materiais renováveis.
- Ampliação da participação de outras matérias-primas na matriz de óleos usados para produção de biodiesel e bioquerosene de aviação.
- Expansão do controle biológico nos sistemas de produção de grãos, frutas, hortaliças e, na agricultura orgânica.
Benefícios da bioeconomia
A bioeconomia engloba toda a cadeia de valor que é orientada pelo conhecimento científico avançado e busca por inovações tecnológicas na aplicação de recursos renováveis para gerar atividade econômica circular e benefício social e ambiental coletivo. Com isso, entendemos que a bioeconomia precisa identificar e viabilizar adoção de tecnologias viáveis sem que haja redução de estoques dos recursos não renováveis.
Em função disso, podemos listar alguns dos benefícios da bioeconomia:
- Redução do aquecimento global;
- Preservação da biodiversidade;
- Agregação de valor aos produtos;
- Contribuição para a segurança alimentar;
- Democratização do acesso à energia;
Por exemplo, ao se utilizar bioenergia – fontes de energia que dispensam o uso de matérias como carvão mineral e petróleo – é possível diminuir a quantidade de CO2 gerado e assim diminuir o aquecimento global.
Políticas públicas como o RenovaBio (2017) promovem a expansão dessa fonte de energia renovável. Com isso, os biocombustíveis passam a ocupar proporções maiores na matriz energética do país. Estimulamos a transição da matriz energética do país.
RenovaBio: o maior programa de descarbonização do mundo
Tecnologias para o aproveitamento de resíduos industriais transformaram um problema ambiental em uma fonte para o desenvolvimento de bioprodutos, diminuindo a quantidade de lixo despejada em aterros e na natureza.
A adoção de biodefensivos e plantas transgênicas pelos agricultores, ajudam a equilibrar o uso de defensivos químicos e fertilizantes no campo, beneficiando diretamente a qualidade do solo.
O solo: patrimônio essencial da agricultura
Outra tecnologia que pode ser empregada para promover a saúde do solo é o BioAs. Desenvolvido pela Embrapa, o BioAs é um bioindicador que permite uma análise da qualidade do solo e do seu potencial produtivo, com isso é possível priorizar a conservação e recuperação de solos degradados.
Todas essas tecnologias prezam pela manutenção da biodiversidade e do bem-estar de todos os seres vivos, incluindo os seres humanos. Por isso, a bioeconomia representa uma forte aliada para guiar a sociedade rumo a um futuro sustentável.
Principais Fontes
Aguilar, A., Twardowski, T., e Wohlgemuth, R. Bioeconomy for Sustainable Development. Biotechnol journal, 2019.
Embrapa. Bioeconomia. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-bioeconomia. Acesso em: 15/04/2021.
Manfred, K. Bioeconomy – Present Status and Future Needs of Industrial Value Chains. New Biotechnology, 2020.
Stolf, R., e De Oliveira, A. P. R. The success of the brazilian alcohol program (proálcool) – a decadeby- decade brief history of ethanol in brazil. Engenharia Agrícola, 2020.