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Propagação vegetativa e a reprodução das plantas

A propagação vegetativa das plantas é uma forma de reprodução sem o uso de sementes

Muita gente desconhece, mas uma das maneiras de multiplicar os vegetais é por meio de um processo conhecido como propagação vegetativa. Quando pensamos no crescimento de uma planta o que vem primeiro à nossa mente é a semente na terra e esperar que ela se desenvolva. Mas saiba que o uso de sementes não é a única forma de gerar uma planta nova.

Isso, porque os vegetais podem se reproduzir de forma assexuada, ou seja, sem ocorrer a fecundação e produção de sementes. Essa reprodução ocorre por meio de partes de plantas, que geram indivíduos geralmente idênticos à planta original, ou seja, clones.

Esse tipo de reprodução é muito comum em plantas frutíferas, algumas hortaliças, espécies florestais e plantas ornamentais. Um exemplo disso no nosso cotidiano é a mudinha que trocamos com amigos.

 

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A propagação vegetativa é a forma mais técnica de se chamar o ato de reproduzir plantas utilizando partes de outras plantas. Assim, a palavra “propagação” é sinônimo de reprodução, e “vegetativa” vem da utilização das partes do vegetal, como células, tecidos, órgãos ou propágulos.

Quer saber mais sobre esse assunto? Continue lendo este texto.

 

A propagação vegetativa gera clones

A principal diferença entre a reprodução de plantas por semente da reprodução por partes da planta é a variabilidade genética. O surgimento de uma semente se dá pela união do grão de pólen (masculino) com o óvulo (feminino) da planta. Com isso, ocorre troca de material genético entre diferentes células do mesmo indivíduo vegetal ou de indivíduos diferentes. Pois saiba que esse tipo de reprodução se chama reprodução sexuada e por isso gera muita variabilidade.

No entanto, quando essa combinação não acontece, a planta pode ser multiplicada por tecidos de outras partes do vegetal. Dessa forma, ocorre a geração de um clone, ou seja, produz-se uma planta idêntica àquela que deu origem, de forma assexuada, sem variação genética.

Saiba ainda que, é possível também induzir variabilidade genética em laboratório. Isso ocorre por meio de mutações induzidas com produtos químicos ou por transformação genética, como é o caso do desenvolvimento de plantas transgênicas. Utilizam-se essas técnicas no melhoramento genético de algumas espécies, como: milho, soja, algodão, entre outras.

 

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Conheça quais são as plantas que se desenvolvem por propagação vegetativa

Uma importante habilidade da propagação das plantas é o desenvolvimento de raízes, que podem surgir em estruturas diferentes da planta, como em caules ou folhas. Além disso, elas também podem surgir de rizomas, bulbos, tubérculos e brotos.

Para ilustrar, seguem algumas espécies vegetais e suas estruturas com potencial de originar novas plantas:

Estrutura vegetativa da cana que pode gerar uma nova planta para propagação vegetativa

Estrutura vegetativa do abacaxi que pode gerar uma nova planta para propagação vegetativa

 

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Técnicas utilizadas na propagação vegetativa das plantas

A propagação vegetativa das plantas pode ser realizada por meios artificiais, ou seja, com a intervenção humana. Para isso, as técnicas mais usadas são a estaquia, enxertia, alporquia e a micropropagação. Muitos agricultores, empresas de biotecnologia e produtores de mudas utilizam essas técnicas para produzir culturas com maior qualidade e com baixa incidência de doenças.

Essa prática é muito comum para espécies frutíferas e florestais. A produção de mudas por essas técnicas deve ser feita a partir de plantas-fonte saudáveis e livres de doenças. Sendo assim, para a realização dessa prática é necessário e obrigatório que as mudas sejam certificadas. A legislação que aborda o tema é a Lei n° 10.711, de 05 de agosto de 2003 e está regulamentada no  Decreto n° 10.586, de 18 de dezembro de 2020.

Estaquia

A estaquia na propagação vegetativa é feita com um pedaço de galho (estaca) da planta. Normalmente são ramos novos, com muitas gemas. As gemas são estruturas que permitem o desenvolvimento de novas mudas e são delas que surgem os novos brotos.

O método de estaquia consiste em escolher um bom galho e colocá-lo no solo, com boa umidade. Desse galho irão surgir raízes e folhas, e logo se originará uma planta idêntica à “planta mãe”. A prática de propagação vegetativa das plantas por estaquia pode ser utilizada nas culturas de tomate e eucalipto. Mas, vale lembrar que nem todas as espécies vegetais são capazes de se multiplicar por estaquia.

Enxertia

Para realizarmos a enxertia precisaremos ter duas plantas adultas. De uma delas será retirado o pedaço para gerar a nova planta (explante), enquanto a outra serve como base, para que o vegetal se desenvolva. Por fim, depois de serem colocadas em contato, ocorre a união entre o explante e a planta receptora, tornando-se uma só.

imagem de estrutura da planta

Tecnicamente, a parte que recebe o explante é chamada de cavalo, e o fragmento de cavaleiro. O cavalo é responsável pela nutrição do cavaleiro. Ele quem vai fornecer nutrientes e água para que a nova planta inicie seu crescimento e desenvolvimento. Além disso, pode modificar o porte da planta, e conferir também tolerância a algumas doenças e efeitos climáticos, como a seca.

Por meio dessa técnica é possível, inclusive, que tenhamos vários tipos de plantas em um mesmo pé. Por exemplo, podemos encontrar uma planta produzindo laranja de um lado e limão do outro. Ou até mesmo ter um pé produzindo jiló, berinjela e tomate, todos juntos.

Esse método é muito utilizado na produção comercial de mudas de citros, abacate, manga, uva, tomate e uma série de espécies vegetais frutíferas e hortaliças.

Alporquia

O nome da técnica pode parecer complicado, mas ela consiste em fazer crescer raízes em um galho da planta-mãe, que ainda está no campo.

imagem de estrutura da alporquia

Na alporquia, seleciona-se um ramo novo da planta e dele retira uma camada externa (casca), com auxílio de um canivete. Ou seja, faz-se um anelamento do galho. Com isso, preenche essa parte com fibra de coco ou algum outro substrato umedecido.

Em seguida, envolve-se em um plástico transparente, a parte anelada e coberta com substrato. Dessa forma é possível manter a umidade, e a transparência do plástico permite a visualização das raízes em formação. Amarram as extremidades com barbante ou fita, ficando parecido a um bombom.

Por fim, após o surgimento das raízes, separa-se o ramo da planta mãe e plantado no solo, onde se forma uma nova muda. Utiliza-se essa técnica em lichia, jabuticaba, hibisco e outras espécies.

Micropropagação

A micropropagação, ou propagação vegetativa das plantas in vitro é uma técnica que permite a reprodução rápida de plantas com características superiores. A partir dela é possível a formação de plantas geneticamente idênticas a partir do cultivo in vitro de células. Para isso, utilizam-se órgãos ou pequenos fragmentos extraídos de uma planta e cultivados em meios de cultura (soluções com nutrientes). Realiza-se esse cultivo em laboratório sob condições ambientais controladas. Alguns exemplos de uso dessa técnica são: produção de bananeiras e de abacaxizeiros.

 

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Plantas-mãe, as que servem de modelo na propagação vegetativa das plantas

O sucesso da propagação vegetativa acontece por diversos fatores. Dentre eles, espécie, estações do ano, condições fisiológicas da planta matriz, tamanho, tipo e hora de coleta do explante, produtos químicos aplicados, entre outros.

Antes de todas as técnicas e procedimentos da reprodução vegetativa induzida, é necessário escolher as plantas que serão modelos para a multiplicação de seus clones. Essas plantas são as plantas matrizes, ou plantas-mãe.

Além disso, a seleção de matrizes apresenta-se como um dos aspectos mais relevantes para se considerar. As características de uma boa planta matriz vão depender da espécie que se está multiplicando. No entanto, devem considerar algumas características:

A seleção dessas plantas que servirão de modelo é imprescindível para o sucesso do cultivo. Afinal, todas as plantas produtivas serão, teoricamente, iguais a ela.

Vantagens e desvantagens da propagação vegetativa

As principais vantagens da propagação vegetativa são: 

Já as desvantagens são:

Desafios e perspectivas na propagação vegetativa

A propagação vegetativa é bem estabelecida para algumas culturas e proporcionam um alto rendimento na sua produção. Para cultura do eucalipto, por exemplo, a técnica de propagação garante ao produtor maior controle sobre as características de suas árvores.

Além disso, também proporciona madeira de melhor qualidade, partindo de mudas selecionadas, com bom crescimento e/ou resistência a pragas e doenças. 

Porém, quando falamos de plantas nativas brasileiras, temos o revés do pouco conhecimento. E justamente para elas, a multiplicação é um desafio, visto que, a propagação é uma das principais dificuldades para iniciar o seu cultivo comercial com sucesso. 

Um exemplo muito conhecido dessas plantas nativas é a jabuticaba. É comum ela estar em muitos quintais e pomares domésticos e alguns pomares comerciais. Contudo, como produzem as mudas via semente, ela demora muito para começar a produzir, podendo desenvolver características genéticas não desejadas por quem produz.

Por isso, realizam-se algumas pesquisas para driblar esses problemas, viabilizando a exploração comercial e a valorização dessa frutífera brasileira.

Testando diferentes formas de propagação, pesquisadores brasileiros já alcançaram mais de 70% de eficiência utilizando a enxertia na jabuticaba. Já a técnica da estaquia teve um sucesso de 10%, até agora. No entanto, a técnica que mais se mostrou eficiente foi a alporquia, com mais eficiência acima de 80% na formação de mudas.

Sendo assim, essas pesquisas deverão estimular e viabilizar economicamente a multiplicação desta frutífera para cultivos comerciais, seja para produção de frutos frescos ou para processamento. 

 

 

Principais fontes:

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Biotecnologia. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/contando-ciencia/biotecnologia/-/asset_publisher/wNet9XcMlLFn/content/micropropagacao-de-plantas Acesso em: 13 set. 2023.

Roberto, S.R.; Colombo, R.C. Innovation in Propagation of Fruit, Vegetable and Ornamental Plants. Horticulturae. 2020.

SILVA, J. A. A., et al. Advances in the propagation of Jabuticaba tree. Rev. Bras. Frutic. 2019.

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