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Revolução à vista: agricultura 4.0

Em meio século, o Brasil passou de importador a um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. A transformação se deu através do profissionalismo dos nossos produtores rurais e da adoção de tecnologias inovadoras.

Agora, outra revolução bate à nossa porta: a chamada agricultura 4.0. As tecnologias do mundo digital, que prometem coletar e analisar dados quase em tempo real, já estão no mercado.

A ideia é fornecer informações valiosas que ajudem o agricultor a tomar decisões que economizam recursos financeiros e naturais, mas ainda temos que vencer alguns desafios para entrar de vez neste jogo.

O que a agricultura digital está mudando no cenário do agro

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A CropLife conversou com Herlon Oliveira, CEO da Agrusdata e fundador da ABINC – Associação Brasileira de Internet das Coisas.

  1. Como você classificaria o atual cenário de inovação tecnológica no agronegócio brasileiro?

Tecnologia não é somente parafernália eletrônica e digital. O Brasil, mais fortemente com a criação da Embrapa, na década de 70, investiu muito em tecnologia e inovação no campo. Romeu Kiihl [agrônomo, considerado o pai da soja no Brasil], por exemplo, é um dos pesquisadores mais importantes que o país tem na área das ciências agrárias.

Foi ele quem adaptou a primeira variedade do grão ao Cerrado. O Sistema de Plantio Direto (SPD), iniciado no norte do Paraná, na década de 70, foi também uma técnica [que preconiza ausência ou mínimo revolvimento do solo, cobertura do solo com palhada e rotação de culturas] que revolucionou a agricultura nacional. Pesquisa e manejo. Isso é tecnologia.

  1. Como está sendo a adoção da chamada agricultura 4.0?

O mundo 4.0 pressupõe o recebimento e envio de dados ao mesmo tempo. O foco tem que ser o que fazer com a quantidade enorme de dados que estão sendo produzidos. O objetivo? Melhorar a eficiência dos processos. Com o aumento do processamento de informações é possível mitigar riscos de variáveis incontroláveis, como o clima. Estações meteorológicas no campo existem há 30 anos. Hoje, os dados de clima coletados vão para a nuvem.

Com ferramentas de big data e machine learning é possível analisá-los continuamente e criar um padrão. Com análise de dados é possível controlar a temperatura de um caminhão frigorífico desde o abatedouro até a distribuição. O mesmo pode ser feito na área da celulose, durante a colheita de eucalipto. É possível analisar o consumo de combustível e fazer uma correção em tempo real. Qual o melhor momento para aplicar o inseticida? As ferramentas da agricultura digital podem ajudar a responder.

  1. Quais os recursos tecnológicos que estão mais em evidência no momento?

Eu diria que a computação de borda ou edge computing, em inglês. É uma tecnologia que permite processar dados de maneira local, o mais perto possível da fonte que gera os dados, sem precisar ir para a nuvem. Ela está diretamente ligada ao uso da internet das coisas no agronegócio. A médio prazo, talvez dentro de cinco anos, vamos começar a ver o uso da computação de alta performance (HPC, na sigla em inglês).

A supercomputação, como também é conhecida, envolve milhares de processadores trabalhando em paralelo para analisar bilhões de dados em tempo real, realizando cálculos milhares de vezes mais rápido que um computador normal.

Nas atividades agrícolas, entre outras coisas, ela pode ser usada para controle de pragas e design de pesticidas. O HPC permite também simulações numéricas de crescimento de plantas que ajudam as empresas de sementes a obter variedades superiores em vez de realizar testes de campo, que são mais caros e prejudiciais ao meio ambiente.

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  1. É preciso investimentos em infraestrutura para que a agricultura 4.0 deslanche?

A infraestrutura para usar a internet das coisas (IoT) no campo já existe. Não é preciso banda larga e uma super velocidade. O consumo de dados é pequeno. Podemos usar redes de longo alcance e baixo consumo, como a LoRa [Long Range]. Outra opção é o uso da banda estreita, conhecida como NB-IoT, sigla para narrow band Internet of things.

  1. A agricultura familiar responde por cerca de 85% das propriedades no país. Como tem sido a adoção de tecnologia por esse tipo de propriedade rural?

Eu diria que, em muitos casos, o “agro”, da agroindústria, ainda está no mundo 2.0. A indústria do campo está no 3.0, mas o fornecedor um passo atrás. A baixa adesão de tecnologia é culpa de quem trabalha com ela, de quem vende soluções. Nós temos que entregá-las de um jeito que o produtor entenda. Quem é o cliente? Comunica-se oralmente, mas usa whatsapp? Ok. Temos que oferecer a tecnologia de um jeito compreensível, que seja fácil de usar. O pequeno produtor não tem um agrônomo para consultar, conta com pouca ajuda técnica. Hoje, boa parte dos recursos 4.0 podem ser simplificados e entregues para que o agricultor os utilize de maneira simples.

 

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