Sustentabilidade
A sustentabilidade, a cada dia mais presente em nosso cotidiano, pode parecer uma tendência recente. No entanto, a discussão sobre o tema começou em 1972, quando a expressão “desenvolvimento sustentável” ganhou reconhecimento internacional na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia.
Foi somente vinte anos depois, na Rio-92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que o conceito de desenvolvimento sustentável se tornou amplamente conhecido. Esse evento marcou a primeira tentativa internacional de elaborar planos de ação e estratégias voltadas para a sustentabilidade ambiental. A conferência gerou resultados importantes para a ciência, governança multilateral, meio ambiente e justiça social, ainda válidos para o desenvolvimento e crescimento econômico no Brasil e no mundo.
A partir daí, uma série de tratados internacionais com aplicabilidade a todos os setores da sociedade foram estabelecidos, como a Agenda 21, a Convenção do Clima e a Convenção para a Biodiversidade. As Conferências das Partes (COPs) passaram a ser realizadas para dar continuidade aos acordos estabelecidos e promover sua implementação efetiva.
Globalmente, o equilíbrio e a igualdade são motores para o desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade pressupõe que os recursos naturais são finitos e devem ser usados de forma equilibrada e justa, considerando as necessidades e consequências futuras. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU) destaca o papel essencial da agricultura para alcançar a segurança alimentar global e conduzir uma ação climática eficaz.
Diante do crescimento populacional, limitações de recursos naturais, incertezas climáticas e mudanças tecnológicas, o setor agrícola enfrenta uma grande demanda: alimentar o mundo e desenvolver soluções de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Sustentabilidade é a capacidade de sustentação ou conservação de um processo, ou sistema. A Organização das Nações Unidas (ONU) define a sustentabilidade como a satisfação das necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.
Pilares
A importância da sustentabilidade reside na busca por uma coexistência equilibrada entre o crescimento econômico, o respeito ao meio ambiente e a responsabilidade social. O conceito de “Tripé da Sustentabilidade” proposto pelo sociólogo britânico John Elkington na década de 1990, direciona o desenvolvimento para além do modelo econômico, incorporando a preocupação com as dimensões social e ambiental. Nesse modelo, o objetivo é manter a harmonia entre os componentes para garantir a integridade do planeta, da natureza e da sociedade no decorrer das gerações.
Observando estes três pilares como círculos que se intersectam, o ponto em que se sobrepõem é compreendido como sustentável, que pressupõe a proteção do ambiente, melhorias sociais e benefícios econômicos.
Tripé da sustentabilidade
Agenda 2030
Em setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU reuniram-se em Nova York e reconheceram que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global, é um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Ao adotarem o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, os países comprometeram-se a tomar medidas ousadas e transformadoras para promover o desenvolvimento sustentável nos próximos 15 anos (2016-2030), sem deixar ninguém para trás.
A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas e o planeta que busca fortalecer a paz universal e estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas, com o intuito de erradicar a pobreza e promover uma vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. Esses objetivos e metas são claros, para que todos os países os adotem de acordo com suas próprias prioridades, atuando no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas necessárias para melhorar a vida das pessoas, no presente e no futuro.
Os ODS são integrados e interdependentes, refletindo de forma equilibrada as três dimensões do desenvolvimento sustentável: social, ambiental e econômica.
Objetivos de desenvolvimento sustentável e agenda 2030
Agricultura e mudanças no clima
O clima afeta a todos e o agronegócio, em particular, é um dos setores mais impactados, como apontam os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). A agricultura e a pecuária estão entre as atividades mais vulneráveis às variações climáticas e têm sofrido perdas significativas devido à crescente frequência de eventos climáticos severos. Longas estiagens, muitas vezes potencializadas por ondas de frio, em que geadas danificam lavouras, transformam a vegetação em material combustível, aumentando a ocorrência de focos de incêndio.
Como consequência, produtores rurais, instituições de pesquisa e a agroindústria estão entre os maiores interessados na busca de soluções para reduzir essas perdas. Afinal, o impacto no campo gera uma cadeia de problemas que vai muito além das propriedades rurais. A diminuição da produtividade afeta não apenas a economia do produtor rural, mas também se reflete no aumento dos preços dos alimentos, causando insegurança alimentar.
Por isso, é fundamental analisar as possibilidades que a ciência oferece para que o setor agrícola supere o desafio de elevar a produção de alimentos, reduzindo as emissões, ao mesmo tempo em que aumenta a resiliência produtiva e eleva a captura de CO2, gerando impactos socioambientais positivos. Em outras palavras, é crucial explorar como o agronegócio brasileiro pode ser um grande agente na busca de equilíbrio entre produção e preservação ambiental.
Considerando a abundância de florestas no Brasil, o potencial de restauração de pastagens e o desenvolvimento de práticas agrícolas que capturam carbono da atmosfera e o armazenam no solo e na biomassa das plantas, o potencial brasileiro é imenso. Por isso, é fundamental olhar para as oportunidades que a preservação das florestas, em sintonia com a expansão agrícola por meio da intensificação sustentável, proporciona.
No entanto, a implementação das soluções sustentáveis depende do envolvimento de muitos atores. Governos, academia, setor privado, organizações da sociedade civil e sociedade em geral precisam trabalhar na construção de políticas públicas, participar das discussões dos acordos globais, avaliar modelos produtivos no contexto nacional e desenvolver mecanismos de adoção de tecnologias junto aos produtores. Somente assim, será possível avançar com a sustentabilidade agrícola, promovendo uma transição justa para sistemas alimentares mais resilientes no contexto de mudanças climáticas.
INovações tecnológicas
As inovações tecnológicas têm sido grandes aliadas na entrega de soluções mais sustentáveis para a produção agrícola. São elas que têm feito com que o desejo de “produzir mais em uma mesma área” tenha se tornado realidade, possibilitando aumento da eficiência produtiva, com redução de impactos ambientais e garantindo a conservação dos recursos naturais.
As inovações que impactaram a agricultura são diversas e estão contempladas nos insumos, maquinários, sistemas de gestão, monitoramento e boas práticas agrícolas adaptadas à agricultura tropical.
À medida que enfrentamos desafios globais cada vez mais complexos, a integração das tecnologias na agricultura se torna essencial para garantir a segurança alimentar e a preservação do planeta.
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Aumento da eficiência produtiva
As novas tecnologias permitem o uso mais eficiente dos recursos, como água, solo, sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas. Sistemas de irrigação por gotejamento, por exemplo, minimizam o desperdício de água, enquanto sensores de solo e drones ajudam a monitorar a saúde das lavouras em tempo real, permitindo intervenções precisas e pontuais. Isso não só aumenta a produtividade, mas também reduz o consumo excessivo de insumo e o desperdício promovendo, uma agricultura mais sustentável. Outro aspecto importante da inovação é o aumento da eficiência e seletividade dos próprios insumos agrícolas. Por conta dos avanços científicos, os produtos mais modernos, como os defensivos químicos mais novos, possuem maior especificidade de atuação, garantindo maior efetividade de interação com seus alvos.
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Redução das emissões de GEE
As inovações tecnológicas oferecem soluções para mitigar as emissões dos GEE. Práticas como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ajudam a reter carbono no solo e na biomassa das plantas. Enquanto o uso de bioinsumos, eleva a microbiota e possibilita a conversão do nitrogênio atmosférico em nutriente de crescimento vegetal e diminui a produção de óxido nitroso (um dos GEE). As tecnologias também dão suporte à criação de animais, seja via rações de qualidade melhorada e probióticos que resultam na menor emissão dos GEE pelo metabolismo desses animais, assim como pelo melhoramento genético ou uso de aplicativos capazes de detectar doenças precocemente, em suínos.
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Preservação da biodiversidade
As tecnologias desempenham um papel vital na conservação da biodiversidade. A agricultura de precisão, empregando GPS e sensoriamento remoto para monitorar as lavouras e identificar áreas que precisam de mais ou menos nutrientes, água e defensivos agrícolas permite um manejo mais cuidadoso e específico das áreas de cultivo, evitando a degradação do solo, o uso excessivo de água e o impacto sobre os ecossistemas. Assim como, plantas geneticamente modificadas com resistência a insetos, reduzem o uso de defensivos e de área plantada, contribuindo com a preservação da biodiversidade. Ao mesmo tempo, a adoção de práticas agrícolas indicadas para uso eficiente de defensivos no campo, favorece a coexistência entre a agricultura e os polinizadores no campo, favorecendo a manutenção da biodiversidade.
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Sustentabilidade econômica
As inovações tecnológicas não apenas beneficiam o meio ambiente, mas também melhoram a rentabilidade dos produtores rurais. Por conta da inovação, os produtores acessam tecnologias que aumentam a eficiência produtiva, reduzem os custos operacionais e os ajudam a se manter competitivos no mercado global. Sem deixar de citar que, a inovação tem resultado em práticas agrícolas sustentáveis que podem abrir novas oportunidades de mercado aos produtores rurais.
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Adaptação às mudanças climáticas
A capacidade de adaptação é essencial para a sustentabilidade agrícola em um cenário de mudanças climáticas. As culturas geneticamente modificadas para resistir a condições climáticas adversas, a exemplo de plantas tolerantes à seca, permitem que os agricultores se adaptem a novas realidades ambientais. Além disso, sistemas de previsão climática e ferramentas de gerenciamento de risco ajudam os agricultores a se prepararem melhor para eventos climáticos extremos, reduzindo suas perdas.