Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a agricultura
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fazem parte de uma agenda definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e projetada para guiar os países durante os próximos anos. A missão dos ODS é entregar um futuro melhor e sustentável para todos até o ano de 2030.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram definidos pela ONU em 2015 e adotados de forma unânime por todos seus membros que, juntos, buscam enfrentar os desafios globais do século XXI, incluindo a segurança alimentar, mudanças climáticas e direitos humanos.
São dezessete os ODS que devem ser atingidos pelos países. O seu alcance tem sido acompanhado por 169 metas e 241 indicadores que devem ser monitorados pelos governos.
As ambições relacionadas ao cumprimento de todas essas metas são bastante grandiosas:
- Preconizar oportunidades para todas as pessoas;
- Erradicar a pobreza extrema;
- Reduzir expressivamente os impactos das mudanças climáticas;
- Preservar os recursos naturais.
A agricultura é indispensável para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sejam alcançados
A agricultura é uma das atividades humanas de maior potencial de alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Afinal, estamos falando de um setor que se conecta diretamente com alimentos, energia, meio ambiente e muito trabalho humano.
Iniciada de forma rudimentar por nossos ancestrais, a agricultura foi passando por diversas transformações até chegar no caminho que estamos trilhando hoje.
Com ciência e inovação agrícola obtivemos melhores condições de vida na Terra, economizando água e utilizando energias limpas. Além disso, promovemos o consumo e produção responsáveis a partir de trabalho digno e com saúde, que entrega bem-estar para animais, produtores e consumidores.
Aprimoramos o modelo de produção agrícola numa direção cada vez mais sustentável. Estamos mais preparados para atingirmos os ODS.
Veja quais são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que mais se relacionam à agricultura.
A agricultura é o setor com maiores chances de reduzir a pobreza no mundo. Isso porque novas tecnologias têm trazido grande aumento de produtividade das lavouras, transformando a vida dos agricultores.
Aumentar a produtividade das terras, com o uso das tecnologias disponíveis no mercado, não apenas reduz o estresse físico e mental dos produtores, mas também gera riqueza e qualidade de vida.
E os benefícios vão além dos agricultores: o crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) vindo da agricultura é pelo menos duas vezes mais efetivo em reduzir a pobreza que aquele originado em outros setores, como a indústria e o comércio.
Os dados mostram que o efeito positivo causado pela maior produtividade no campo resulta em ganho aos agricultores e estimula o comércio no interior dos países. Estudo do Banco Mundial aponta que, com um aumento de 1% na produção de alimentos, pode-se diminuir a pobreza em 0,48% no Sul da Ásia e em 0,72% na África Subsaariana.
Essas porcentagens representam nada menos que 1,3 milhão de pessoas saindo da faixa de pobreza no Sul da Ásia e 2 milhões na África Subsaariana. No mundo inteiro, cerca de 2 bilhões de habitantes vivem com base em alimentos produzidos por 500 milhões de pequenos agricultores em países em desenvolvimento.
A maior oferta de alimentos é uma consequência natural, fortemente conectada à segurança alimentar e à erradicação da fome. Nesse sentido, a disponibilidade de tecnologias aos agricultores e comunidades rurais de muitos países possibilitaram a otimização de seus sistemas agrícolas a alcançarem melhores resultados de produção.
Nas últimas décadas, o Brasil aumentou sua produção de grãos em mais de 300% enquanto o aumento de área plantada foi de apenas 50%, demonstrando que com a adoção de tecnologias no campo, aumentamos a produtividade por área plantada – quesito essencial para uma agricultura sustentável.
De fato, mencionando apenas o uso de plantas melhoradas geneticamente, observamos ganhos de rendimento em torno de 40% em diversas regiões do mundo.
Além disso, sem o uso de defensivos contra as pragas e doenças nas lavouras brasileiras, teríamos perdido mais da metade de nossas culturas, impactando na menor disponibilidade de alimentos.
Felizmente, não foi o que ocorreu. A adoção de insumos agrícolas foi a grande responsável por ter tirado o Brasil da posição de importador para exportador de alimentos.
A produção mundial das principais culturas mais do que triplicou desde 1960 por conta de várias tecnologias que passaram a ser empregadas no campo. Por exemplo, o arroz – que alimenta quase metade das pessoas em nosso planeta – teve sua produção mais do que duplicada. A quantidade de trigo, por sua vez, aumentou em quase 160%.
A disponibilidade de alimentos é um fator essencial na promoção de saúde e bem-estar para todos. Sem dúvida a maior oferta de alimentos contribuiu de forma expressiva com o aumento de expectativa de vida que observamos nos últimos anos.
Ainda falando de saúde, o desenvolvimento de plantas nutricionalmente melhoradas já é uma realidade. Soja com maior conteúdo de ácido oleico, arroz rico em betacaroteno e tomate com maior teor de licopeno são apenas alguns dos exemplos de como os produtos básicos da agricultura podem impactar na melhora de saúde de todos.
Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMRA, 2018) mais de 30% da força de trabalho na produção agrícola brasileira é representada por mulheres.
Ainda que a igualdade de gênero não seja uma realidade, o protagonismo feminino na atividade agrícola é evidenciado por papéis de liderança. 57% das trabalhadoras rurais participam ativamente nos sindicatos e associações rurais, 88% são financeiramente emancipadas e 60% possuem ensino médio completo.
A inovação agrícola emprega diferentes ferramentas tecnológicas que incluem fertilizantes, plantas melhoradas geneticamente, moléculas químicas e compostos biológicos para proteção de cultivos, irrigação por gotejamento, adoção do plantio direto e rotação de culturas.
Juntas, essas estratégias permitem a preservação da água, contribuindo para assegurar a disponibilidade e gestão sustentável do recurso hídrico. Além de todos os insumos e manejo, cabe mencionar a construção de sistemas avançados de tratamento para reciclar a água residual gerada nas lavouras para reuso de plantas.
A produção de energia limpa e renovável é mais um dos produtos que a agricultura disponibiliza. A produção de biocombustível a partir de palha de milho e bagaço de cana-de-açúcar representa bons cases para ilustrar fontes de energia renovável entregues pela agricultura.
A transferência de tecnologias, diversificação de insumos e profissionalização dos agricultores permitem que a produção agrícola alcance níveis cada vez mais altos de profissionalismo e produtividade econômica.
Agricultores que optaram por incorporar inovação em suas lavouras tiveram crescimento de até 400% em sua renda nas últimas décadas.
A agricultura tem reflexo sobre vários setores da economia, visto que os negócios ligados ao setor – incluindo a indústria de alimentos – respondem por cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Portanto, o seu crescimento impacta diretamente nos investimentos relacionados à indústria, inovação e infraestrutura nas regiões que se relacionam com a agricultura.
Sistemas de irrigação automatizados reduzem os custos, enquanto aumentam a produção média e diminuem os impactos ambientais. Além disso, há também iniciativas de sensoriamento remoto que monitoram a saúde das plantas de um talhão, economizando o tempo do produtor rural e fornecendo uma análise mais precisa que aquela identificada pelos olhos humanos.
Com isso, é possível utilizar água e insumos apenas nos momentos necessários, diminuindo as perdas e conduzindo a uma produção e consumo muito mais sustentáveis.
O sistema aplicado na agricultura moderna integra as mais diversas tecnologias como fertilizantes, produtos biológicos, defensivos químicos, maquinários e plantas geneticamente melhoradas.
O uso de moléculas cada vez mais seletivas para o tratamento das doenças no campo e controle de pragas propicia redução de impactos no meio ambiente. Além disso, a adoção de plantas transgênicas nas lavouras dos países que adotam a tecnologia reduziu as emissões de gases do efeito estufa numa proporção equivalente à retirada de mais de 40 milhões de carros das ruas no período de 1996 – 2017.
A biotecnologia agrícola é uma ferramenta extremamente eficiente no combate à desertificação. Isso porque a partir de plantas modificadas é possível plantar em solos degradados, incluindo terras afetadas pelas secas e inundações.
Ao mesmo tempo, incorporamos práticas conservacionistas de manejo, priorizando mínimas perturbações do solo, rotação de culturas, plantio direto e gerenciamento da paisagem. Todas essas práticas auxiliam diretamente na manutenção da biodiversidade terrestre.