Painel conduzido pela CropLife Brasil une especialistas para mostrar avanços da solução tropical na agenda climática e cenário regulatório.

“Sempre acreditei que havia lugar para os biológicos e dediquei minha vida a isso”, afirmou Mariangela Hungria, cientista brasileira, ganhadora do Prêmio World Food Prize 2025 (Prêmio Mundial da Alimentação). A fala ocorreu durante painel “Bioinsumos e Intensificação Sustentável: Soluções Tropicais para a Agricultura de Baixo Carbono” realizado pela CropLife Brasil nesta quinta-feira (13), na 30ª Conferência das Partes da ONU – a COP30, em Belém-PA. O encontro reuniu especialistas para apresentar os avanços e o papel dos biológicos como alternativa para mitigação de emissões, conservação do solo e agricultura regenerativa. Na conferência global, o evento destacou também o ambiente regulatório dos bioinsumos no Brasil e o cenário de mercado para ampliar a adoção internacional das tecnologias.

“Agradeço a oportunidade enorme de estar aqui. Venho de uma família de educadores públicos, o que acho um grande privilégio. Na minha casa sempre o que valeu foi o conhecimento, o que você sabe e o que você quer saber. Nunca o que você tem ou de que família você é. Eu não tinha nenhuma conexão com o agro, queria produzir alimentos, pois me chocava ver pessoas com fome. Queria ser cientista em uma época em que mulheres não podiam ser nada, sempre submissa a homens. E acreditava nos biológicos, desde os 8 anos de idade quis ser microbiologista. Fui fazer agronomia, que era uma profissão masculina e machista, e queria pesquisar biológicos em uma época de químicos, que foi essencial para nós passarmos de importadores de alimentos para exportadores. Mas sempre acreditei que havia lugar para os biológicos e dediquei a minha vida a isso”, Mariangela Hungria
Especialista há 40 anos no assunto pela Embrapa, Mariangela destacou o empenho da empresa pública em soluções baseadas na natureza que fortalecem a agricultura tropical brasileira. Para ela, a atuação da instituição e os investimentos aplicados no pacote tecnológico, pesquisa e ciência, são o que levam respostas ao mundo e dão retorno à sociedade. Para compor o diálogo junto da cientista, a mesa de discussão contou com participação da diretora de Bioinsumos da CropLife Brasil, Amália Borsari; do diretor comercial da Koppert na América do Sul, Gustavo Hermann; do presidente da CLB, Eduardo Leão; e da gerente de Comunicação e Clima da CLB, Renata Meliga. O painel teve mediação da jornalista e influenciadora, Renata Maron.

“A AgriZone, espaço criado pela Embrapa, é um espaço essencial para debater os temas da agricultura. Pela primeira vez nas COPs temos este local. A CropLife tem participado de várias discussões e promovido encontros para falar sobre o papel das tecnologias agrícolas e como a agricultura pode contribuir com essa agenda do clima, seja para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, seja para adaptar as culturas neste ambiente que estamos vivenciando de mudanças climáticas. O painel de hoje vem para mostrar o papel dos bioinsumos neste processo”, complementou o presidente da CropLife Brasil, Eduardo Leão.
“Estabelecer um marco regulatório demanda anos de trabalho. Está sendo um ano para definirmos ainda as regras gerais, para depois aprofundarmos nas peculiaridades de cada tipo de tecnologia. Por isso estamos trabalhando fortemente a visão ciência e inovação, de forma a trazer segurança para as indústrias investirem e garantia de que o produtor adquira um produto que realmente funcione”, descreveu a diretora de Bioinsumos da CropLife Brasil, Amália Borsari, quanto ao processo de regulamentação da Lei de Bioinsumos (nº 15.070/2024).

“Acredito que daqui para frente, todas as COPs devem ter este espaço para a agricultura. O Brasil, com sua agricultura tropical, é diferente de todo o mundo. Talvez a África tenha, no futuro, uma agricultura parecida, mas hoje não há uma grande agricultura parecida no sentido dos desafios que a natureza nos traz, tanto climáticos, quanto de pragas e doenças”, evidenciou Gustavo Hermann durante o painel, considerando a particularidade da produção brasileira em um contexto de intensificação das tecnologias como garantia de produção sustentável.
Dados
Levantamento da CropLife Brasil revela que a utilização de bioinsumos aumentou 13% na safra 2024/2025 no país, atingindo mais de 156 milhões de hectares – de área tratada potencial. Nos últimos três anos, o setor registrou uma expansão média anual de 22%, índice quatro vezes superior à média global. A expectativa é que o mercado mundial avance 13% ao ano até 2027, ultrapassando US$ 20 bilhões – o que representará mais de 40% do valor total de mercado em 2024.
Considerando faturamento, a indústria dos biológicos cresceu 30% entre 2024 e 2022, com mais R$ 4,5 bilhões no setor. Ao todo, de 2022 para cá, foram mais de 430 registros de produtos baseados na natureza no país, aponta levantamento da Move Analytics. Os dados integrados são do CropData.
Bioinsumos do Brasil
O Brasil é uma das agriculturas mais competitivas do mundo e é líder em produção agrícola tropical. Ciente do papel decisivo do país neste cenário, a CropLife Brasil e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) lançaram este ano o projeto setorial “Bioinsumos do Brasil”, uma iniciativa estratégica para consolidar o protagonismo global na oferta de soluções agrícolas baseadas na natureza. O objetivo é expandir o comércio da indústria brasileira de bioinsumos em outros países e fomentar a imagem da agroindústria nacional no exterior.