Diretor de Defensivos Químicos na CropLife Brasil, Arthur Gomes, assina artigo sobre os avanços da ciência que tornaram os agrotóxicos mais eficazes e no manejo integrado das pragas e doenças nas lavouras
Arthur Gomes *
A ciência tem um papel fundamental para a evolução da humanidade. As médicas aumentaram a expectativa de vida. Os medicamentos e as vacinas nos permitiram superar doenças e enfrentar pandemias. Assim como as agrárias e os fármacos das plantas: os agrotóxicos.
Os agrotóxicos, ou pesticidas, como são chamados internacionalmente, estão presentes em nosso cotidiano das mais diferentes formas e finalidades. Desde o inseticida para baratas, passando pelas antipulgas para os pets até o fumacê no combate ao mosquito da dengue. Eles são utilizados na defesa humana, animal e vegetal contra transmissores de vírus e doenças.
Pesticidas e fármacos não estão tão distantes. Seja na agricultura ou na saúde humana, a indústria se vale da pesquisa e desenvolvimento em bases seculares de conhecimento, com origens muito próximas.
Os defensivos químicos são submetidos a uma das legislações mais modernas e rigorosas do mundo, atualizada recentemente pelo Congresso Nacional para tornar o sistema regulatório mais eficiente e permitir o acesso a produtos mais modernos e de menor impacto. Eles ainda têm uma camada extra de avaliação em relação aos medicamentos: além da ANVISA, os pesticidas também passam pela análise do IBAMA e do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
O uso de produtos para defesa vegetal é essencial para garantir o rendimento das culturas. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), cerca de 40% da produção agrícola do mundo é perdida todos os anos pelo ataque de pragas. A perda é estimada em cerca de US$ 300 bilhões, valor altamente considerável quando pensamos na quantidade de alimentos perdidos, que afetam principalmente as populações mais vulneráveis do planeta.
Atualmente, quase 1/3 da população global vive em condições moderadas ou severas de insegurança alimentar e, nos próximos 25 anos, o mundo deverá demandar 50% mais de alimentos e 35% mais de energia limpa. Tudo isso sem desguarnecer o combate ao aquecimento global, que impacta a produção agrícola e o planeta.
O Brasil tem papel crucial nesse desafio, sendo o único capaz de suprir boa parte da demanda adicional por alimentos, fibras e energias renováveis. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento em tecnologias agrícolas de empresas públicas, como a Embrapa, e da indústria permitiram ao país passar de grande importador de alimentos para um dos maiores produtores e exportadores globais.
Para cumprir esse papel, cada vez mais o agricultor tem na prateleira um conjunto de soluções tecnológicas para garantir a produtividade. Além disso, associa conservação do solo à redução de impactos ambientais. O produtor consciente tem a ciência ao lado para avaliar quando utilizar um defensivo químico ou biológico ou uma planta transgênica resistente a determinadas pragas, doenças e intempéries.
Os agrotóxicos acompanharam os avanços da ciência e tornaram-se mais eficazes e precisos no manejo integrado, assim como os fármacos e as vacinas. Para chegar a um novo produto, mais de 500 mil moléculas são testadas, a um custo estimado de US$ 500 milhões.
E é comum ouvirmos que o Brasil é o maior consumidor de pesticidas do mundo. Importante lembrar que somos o único de clima tropical, cuja condição quente e úmida é mais favorável para pragas e doenças. No Norte, as lavouras são cobertas pela neve que “esteriliza” o solo.
Quando comparamos o surto de uma doença entre países – como durante a pandemia do coronavírus – registramos o número de casos por habitante. No caso dos pesticidas não é diferente. O cálculo justo deve considerar a quantidade de produtos utilizada por área cultivada.
Além disso, o Brasil é o único grande produtor global que produz duas ou até três safras na mesma área. Ou seja, quando contabilizamos o uso de agrotóxicos pela área cultivada, deixamos de considerar que, nessa mesma área, é cultivada uma segunda safra (que também precisa de defesa vegetal) e, em muitos casos, até uma terceira.
Portanto, se considerada a área total de produção agrícola, o país aparece na 29ª posição do ranking global, atrás de China, Japão e Holanda, Colômbia, Chile e Costa Rica, de acordo com dados da FAO.
Outro mito, de que o Brasil importa e usa pesticidas não permitidos em outros países, desconsidera as razões de um produto estar ou não registrado em determinado local. Estudo do MAPA mostrou que 520 produtos retirados do mercado europeu não tiveram o registro reavaliado pois não havia mais demanda para eles.
Além disso, uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) revelou que os dez defensivos mais utilizados no Brasil têm registro para uso na Austrália, Canadá, Estados Unidos e Japão, grandes produtores agrícolas também conhecidos pelo alto rigor das análises.
Para qualificar o debate, é preciso separar o joio do trigo. Se deixarmos a retórica de lado e perseguirmos a ciência, definitivamente, estaremos mais perto da solução dos grandes desafios da humanidade.
*Diretor de Defensivos Químicos na CropLife Brasil