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Os polinizadores são essenciais para a segurança alimentar

Polinizadores garantem a formação de frutos e/ou sementes de muitas plantas. Aproximadamente 80% das espécies vegetais dependem que polinizadores realizem o transporte de pólen da flor masculina para as flores femininas, ou seja, auxiliem na reprodução das plantas. 

Com isso, os polinizadores favorecem 35% da produção agrícola do mundo, contribuindo fortemente para a dieta alimentar do globo. Segundo estimativas da União Europeia, a polinização contribui para a economia com 153.000 milhões de euros por ano, o que equivale a 9,5% da produção agrícola global.

Polinizadores, os agentes da biodiversidade

A polinização é um processo fundamental tanto nos ecossistemas terrestres organizados pelo homem quanto nos naturais. É necessária para a produção de alimentos para os animais e para as pessoas. Além disso, os polinizadores conectam os ecossistemas selvagens e os sistemas de produção agrícola.

A grande maioria das espécies de plantas com flores só produzem sementes se os polinizadores transportarem o pólen das anteras para os estigmas de suas flores. Em muitos casos, a planta por si só não consegue realizar esse trabalho e sem os polinizadores deixariam de existir. 

Importante sabermos que, das 115 espécies agrícolas que fornecem 90% de alimentos para 146 países, 71 são polinizados por abelhas. 

A maioria das espécies de abelhas (Hymenoptera: Apidae) são polinizadoras eficazes e, junto com mariposas, moscas, vespas, besouros e borboletas, constituem a maioria das espécies de insetos polinizadores. Existem também, os polinizadores vertebrados que incluem os morcegos, mamíferos não voadores (várias espécies de macacos, roedores) e pássaros.

Por todo o mundo, os polinizadores fazem parte dos ecossistemas e da biodiversidade. Para se ter uma ideia, 95% das árvores e arbustos de regiões tropicais são polinizados por insetos, assim como 78% das plantas com flores das regiões temperadas e 50% da vegetação das regiões semiáridas. São os verdadeiros guardiões da diversidade genética das plantas.

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A polinização das lavouras é garantia de produção

No ecossistema agrícola a função dos polinizadores não é diferente. A maioria das espécies agrícolas se reproduz pela polinização de animais, que é um serviço de ecossistema essencial. 

Mais de 75% das 115 principais espécies de culturas em todo o mundo dependem ou pelo menos se beneficiam da polinização animal, enquanto o vento e a autopolinização são suficientes para apenas 28 espécies de culturas (24%).

Dessa forma, a polinização é essencial para a produção de alimentos. No entanto, para ser eficaz precisa que a interação entre espécies de polinizadores e espécies de plantas polinizadas estejam harmonizadas.

Benefícios dos polinizadores

Os polinizadores podem aumentar o rendimento e melhorar a qualidade de muitas lavouras. São essenciais para a produção de pomares, horticultura e forragem, bem como para a produção de sementes para muitas culturas de grãos, raízes e fibras.

Uma boa polinização pode aumentar a estabilidade da produção agrícola ano a ano e acrescentar a variabilidade na produção, diminuindo os efeitos das mudanças climáticas e alterando o uso da terra. Se não houver insetos adequados disponíveis para polinizar as plantações, as culturas não renderão todo o seu potencial. 

Muitas plantas polinizadas por insetos são de alto rendimento, nutritivas e de alto valor econômico. O volume da produção agrícola dependente de polinizadores aumentou 300% nos últimos 50 anos. Esses números refletem a importância que os polinizadores têm na subsistência de todo o planeta.

Para a nutrição humana, os benefícios da polinização incluem não apenas a abundância de frutas, nozes e sementes, mas também a variedade e qualidade, que contribuem para a diversidade nutricional humana, a suficiência de vitaminas e a qualidade dos alimentos. 

Por exemplo, o tamanho e a forma das maçãs, o teor de óleo na canola, a produção de maracujás e a forma comercial e a vida útil dos morangos são melhorados pela polinização realizada por insetos. 

Abelhas, os principais polinizadores

As abelhas são as principais responsáveis pela polinização das culturas agrícolas. A abelha melífera ocidental (Apis mellifera) é preferida pelos agricultores, por ter uma colônia grande, capacidade de voar longas distâncias e atingir um bom raio de abrangência. Elas também produzem o mel, que se torna fonte de renda importante.

No Brasil, a abelha melífera contribui principalmente nos campos de melão e melancia na região nordeste e nos pomares de maçã e pêssego na região sul do país. Além disso, a participação das abelhas melíferas na produção de canola e soja tem crescido muito nos últimos anos, depois que a pesquisa mostrou altos ganhos produtivos com essa prática.

Na cultura do morango a presença das abelhas pode aumentar em 12,7% o peso médio dos frutos e em 19,2% o seu sabor doce. Sem as abelhas, a deformação do morango é muito alta (76,6%). Com a polinização, esse índice pode diminuir em 23,4%, o que aumenta o valor de venda para o produtor.

No café, as pesquisas relataram que a polinização feita por abelhas aumentou em 107% a quantidade de frutos das plantas, em uma lavoura irrigada. Em locais sem irrigação o cafezal teve um aumento entre 30 e 50% da quantidade de frutos. Apesar do café não precisar, necessariamente, de polinizadores para produzir frutos, gera resultados de produção muito positivos. 

Algumas espécies de abelhas também fornecem materiais como a cera, que é utilizada para velas, instrumentos musicais, depilação, produção de medicamentos e outros usos. Assim, introduzidos em nossas vidas, as abelhas e outros polinizadores são peças-chave na alimentação, arte, saúde e beleza.

Além de todos os benefícios para as plantas cultivadas, as abelhas podem ser consideradas como animais de produção. Com o aumento do valor comercial do mel, as abelhas estão se tornando fonte de renda, estratégia de subsistência e meio de segurança alimentar para pequenos produtores e moradores da floresta em muitos países em desenvolvimento.

polinizadores

Os polinizadores estão acabando?

Nos últimos anos, acompanhamos muita repercussão na mídia sobre o possível fim das abelhas e o colapso do mundo sem os polinizadores. Porém, é importante dizer que não é possível fazer afirmações sobre as populações desses organismos sem uma análise mais ampla. 

Quando levamos em conta a mortalidade de abelhas, o fenômeno é recorrente e ocorre em ciclos naturais, ou por fatores como patógenos (bactérias, vírus, fungos, nematoides), ácaros, estresses (nutricional, térmico, de movimentação), plantas tóxicas, falta de habitat ou agrotóxicos, havendo interações entre as causas de mortalidade.

A presença do ácaro varroa (Varroa destructor), por exemplo, acaba com populações inteiras de abelhas, por transmitir a doença varroatose. Segundo a EPA – Agência de Proteção Ambiental dos EUA – o ácaro varroa foi identificado como o principal fator à perda de colônias nos EUA e em outros países. 

Na Europa, por exemplo, em 1985, varroa foi detectado na fronteira franco-espanhola. Lá, 40% das colônias entraram em colapso no primeiro ano de detecção. Atualmente, de acordo com a Comissão Europeia, os laboratórios relataram o ácaro varroa como a maior causa individual de mortalidade de abelhas, superando os pesticidas por um fator de 15 para 1. Ou seja, a cada 16 abelhas que morrem 15 são mortas pelo ácaro e uma morre por conta de agrotóxico.

Além disso, grandes desaparecimentos inexplicáveis de abelhas não são novidade. Nos últimos 150 anos, houve um grande número de mortes de abelhas, incluindo pelo menos dezenove desses incidentes entre 1868 e 1980. 

A Comissão Europeia lista 34 diferentes vírus, bactérias, ácaros e outros patógenos que afetam negativamente a saúde das abelhas, e mais estão sendo descobertos o tempo todo. Mesmo em áreas não neonicotinóides da Europa têm visto enormes problemas de saúde das abelhas.

Neonecotinóides: inseticidas que podem ter efeito letal para as abelhas, quando elas são expostas a doses elevadas do produto.

Adicionalmente, o clima também é outro fator que impacta na vida dos polinizadores. No Reino Unido, por exemplo, os apicultores perderam 33,8% das colônias no inverno de 2012/2013, em oposição a 16,2% das colônias do inverno anterior. A Associação Britânica de Apicultores atribui as grandes perdas ao clima ruim e imprevisível.

E é por isso que estabelecer práticas que ajudem a reduzir a mortalidade natural dos insetos, e que diminuam a interação das causas de mortandade é imprescindível. Em 2018, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), deu ênfase ao tema em seus encontros. 

Ao final, a FAO destacou práticas que deveriam ser intensificadas, como forma de se preservar os polinizadores:

O Programa Ambiental da ONU relata que (apesar de doenças e problemas de saúde) o número de colmeias aumentou 45% em todo o mundo nos últimos 50 anos. 

O agricultor não mata polinizadores. Ele precisa deles!

Manter o futuro de polinizadores – como abelhas, moscas, vespas e outros – é vital para garantir a produção de frutas e culturas em geral, e consequentemente para a produção mundial de alimentos.

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Os produtores rurais estão conscientes da necessidade de se estabelecer margens de campo ricas em flores, e proteger os habitats naturais, como bosques, matas e prados, que fornecem ninhos essenciais e habitats de alimentação para diversas comunidades de polinizadores.

Eles também sabem que um ambiente rico em espécies vegetais tem maior probabilidade de recursos florais disponíveis para os polinizadores por períodos mais longos, importante para espécies sociais com colônias de longa vida.

No entanto, em alguns locais onde a reestruturação de colônias e formação de áreas vegetais atrativas para os polinizadores ainda estão em processo de desenvolvimento, ou a área de plantio é muito extensa, a solução para os agricultores tem sido alugar colmeias para sua lavoura.

Nos últimos tempos os serviços de polinização das abelhas de aluguel estão em alta, com produtores das mais diversas culturas, do melão à laranja, do café ao morango, da melancia à soja. Na época de floração das plantas, o apicultor leva algumas colmeias e as espalha pelo pomar.

As abelhas fazem todo o trabalho de polinização, que vai variar do tamanho da área e do tipo de cultura em que se está utilizando os animais. Depois desse período, as colmeias são retiradas e levadas para outros locais.

Inclusive já existem aplicativos para auxiliar nessa operação de serviços de polinização. Além de conectar os apicultores com os produtores rurais, os aplicativos ajudam no monitoramento das colmeias, pontos georreferenciados da localização na plantação e avaliações de mercado para a comercialização do mel produzido.

Preservar para produzir tem sido o lema principal dos agricultores. A quase totalidade é consciente de que a preservação da biodiversidade e a melhoria do ambiente para dar suporte ao ecossistema é essencial para garantir lavouras com altas produções e por longos períodos de tempo.

Principais fontes:

Klein A. M. et al., Importance of pollinators in changing landscapes for world crops. Proceedings of Royal Society B: Biological Sciences, 2006.

Nicolson S. W. e Wright G. A. Plant–pollinator interactions and threats to pollination: perspectives from the flower to the landscape. Functional Ecology, 2017.

Phillips R. D. et al. Niche Perspectives on plant–pollinator interactions. Trends in Plant Science, 2020.

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