Iniciativa da CropLife Brasil visa conscientizar produtores, trabalhadores rurais e consumidores sobre o uso responsável da biotecnologia

As tecnologias Bt revolucionaram a produção agrícola, tornando culturas como milho, soja e algodão mais resistentes a pragas e contribuindo para o aumento da produtividade com menor impacto ambiental. Para maximizar seus benefícios e garantir a sustentabilidade dessa inovação, é fundamental adotar boas práticas no campo. Com o objetivo de destacar a importância do uso dessa biotecnologia e oferecer ferramentas para produtores, técnicos e consumidores compreenderem os benefícios da prática, a CropLife Brasil (CLB) lança a nova fase da campanha Boas Práticas Agrícolas, com foco na sustentabilidade do Bt.
Para ilustrar o impacto positivo da tecnologia Bt no Brasil, estima-se que sua adoção no campo foi fundamental para posicionar o país entre os maiores produtores de milho do planeta. A produção nacional do grão passou de 20 milhões de toneladas na década de 1970 para mais de 119 milhões, segundo previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2024/25, sendo 3,3% acima do ano anterior.
Atualmente, mais de 80% das lavouras de milho, soja e algodão no Brasil utilizam essa tecnologia. Essa ferramenta foi desenvolvida para que as plantas se tornem resistentes a insetos-praga na lavoura. Por conta da biotecnologia, são inseridos genes da bactéria Bacillus Thuringiensis (Bt) capazes de fabricar uma proteína inseticida, melhorando a planta, ao resultar em supressão ou proteção a uma determinada praga. No entanto, apesar dos investimentos de empresas do setor em novas plantas resistentes a mais pragas, a sustentabilidade dessas tecnologias depende também de quem atua no campo. A eficácia pode ser perdida ao longo do tempo, já que alguns insetos, naturalmente resistentes às proteínas do Bt, podem ter sua população aumentada ao cruzarem entre si.
“Por isso, é muito importante que boas práticas sejam adotadas para evitar a proliferação desses insetos resistentes, quando se pensa no controle dos que atacam o milho, a prática do refúgio é extremamente necessária para aumentar e garantir a longevidade das tecnologias Bt, preservando seu benefício”, explica a Claudia Quaglierini, gerente de Sustentabilidade e Stewardship da CLB.
Áreas de refúgio
Uma das principais práticas para preservar os benefícios da biotecnologia Bt é a adoção do refúgio estruturado, estratégia que consiste em reservar uma parte da lavoura para o cultivo de plantas sem genes Bt. Essa medida mantém uma população de pragas suscetíveis, reduzindo o risco de evolução da resistência.
Os produtores precisam seguir algumas regras para garantir a eficácia: em soja, por exemplo, é recomendado que 20% da área total de plantio seja destinada a essa prática, com distância máxima de 800 metros entre as culturas Bt e não Bt. Já para o milho, a área de refúgio deve ser de 10%. Essa distância máxima possibilita o acasalamento das espécies e permite a manutenção de populações suscetíveis.
“O papel do refúgio é uma estratégia essencial na contribuição da boa eficácia da preservação da tecnologia Bt. O refúgio estruturado é aquele que respeita distância máxima das áreas Bt, número máximo de aplicações de inseticida e a porcentagem mínima de refúgio em relação à área Bt. A integração dessa prática com outros tipos de controle, como o químico e o biológico, faz com que se tenha um bom resultado ao utilizar o manejo integrado de pragas”, esclarece o especialista e Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Major Pitta.
Ainda de acordo com a especialista, é preciso ter alguns cuidados no manejo das áreas Bt e de refúgio. “O monitoramento deve ser feito de forma separada. Isso acontece porque em uma área com a biotecnologia, muito provavelmente a presença de lagartas nessa área vai ser muito pequena ou ausente, dependendo da eficácia da tecnologia. Já na área de refúgio, normalmente haverá uma infestação maior de lagartas. Essa separação ajudará o agricultor a uma tomada de decisão mais assertiva e não perder o momento ideal de controle nas áreas”, relata Pitta.
Conscientização
Entretanto, não basta uma propriedade adotar o refúgio, e a ao lado, não. A campanha de Boas Práticas Agrícolas, lançada em janeiro pela Croplife Brasil, visa conscientizar produtores, trabalhadores rurais e consumidores sobre o uso responsável das tecnologias no campo. O objetivo é estabelecer uma iniciativa permanente para fortalecer a relação entre a produção sustentável de alimentos e os desafios globais de sustentabilidade que impactam o agronegócio, além de capacitar o setor com ferramentas e informações sobre essas práticas, que são fundamentais para gerar impactos positivos na agricultura e no planeta.
Na próxima fase da campanha, o tema será a sustentabilidade das biotecnologias Bt e a importância da adoção dessas práticas em larga escala. Uma das ações é o lançamento de um guia inédito, detalhando as principais técnicas do refúgio.
“Precisamos conscientizar quem está no campo da importância de se adotar Boas Práticas Agrícolas para garantir a sustentabilidade da agricultura e manter a longevidade das tecnologias e produtos utilizados. Realizar o refúgio, por exemplo, é uma maneira eficaz, simples e que pode nos ajudar a continuar com essa ferramenta valiosa de controle de insetos empregando plantas Bt. Preservar é uma responsabilidade da cadeia como um todo”, reforça Eduardo Leão, presidente da CropLife Brasil.
Todo o conteúdo da campanha Boas Práticas Agrícolas está reunido no site https://croplifebrasil.org/boas-praticas-agricolas/ e os materiais estão disponíveis para download.