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Com melhoramento genético, Embrapa desenvolve novas cultivares de gergelim

O consumo de gergelim no Brasil passou de 1000 para 25.000 toneladas nas últimas décadas.  O crescimento se deve, especialmente, às características nutricionais do grão que atraem quem quer adotar uma dieta mais saudável. Rica em proteínas, sais minerais e em “gorduras boas” (mono e poli-insaturadas), essa oleaginosa também tem função antioxidante. 

Facilidade no manejo impulsiona cultivares de gergelim no Brasil 

Imagem com tipos diferentes de gergelimO gergelim é originário do continente africano e foi trazido para o nordeste brasileiro pelos portugueses. Atualmente, o cultivo é realizado em 10 estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste, sendo os principais produtores os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.  

O gergelim passou a ser utilizado como alternativa para o plantio de segunda safra, dentro do sistema de rotação de lavouras como milho, soja e algodão. A cultura tem manejo fácil, alta tolerância à seca e ciclo curto (de 90 a 100 dias). 

Essas características e o crescente consumo, têm atraído o interesse dos agricultores que estão aumentando a área de plantio, ano a ano. 

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção nacional de gergelim passou de 5 mil toneladas em 2010 para 127,8 mil toneladas na safra 2019/20. 

O principal mercado consumidor no Brasil é o estado de São Paulo, especialmente, na indústria de óleos, panificação e alimentos in natura, mas o grão tem potencial para expansão tanto no mercado nacional como internacional. 

Para se ter uma ideia da importância econômica do gergelim, em 2019, as exportações somaram US$ 25,4 milhões, um aumento de quase 600% em relação a 2018. No ano passado, o Brasil exportou grãos para o Vietnã, Guatemala, Turquia e Arábia Saudita. 

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Melhoramento genético foi fundamental para o fortalecimento da cultura 

A expansão da cultura do gergelim, especialmente na região Centro-Oeste do Brasil, trouxe a necessidade de desenvolvimento de novas pesquisas para o melhoramento genético das sementes.  

Um programa da Embrapa Algodão, na Paraíba, estuda a cultura desde a década de 1980 e já lançou cinco cultivares comerciais de gergelim: CNPA G2, CNPA G3, CNPA G4, BRS Seda e BRS Anahí. Entre os objetivos da pesquisa estão o desenvolvimento de plantas com maior capacidade produtiva, alto teor de óleo, porte adequado à colheita manual e mecanizada, grãos com cores diferentes, frutos que não abrem quando secos (indeiscentes) e, claro, resistência às pragas e doenças. 

BRS Morena: boa alternativa para o mercado gourmet 

Em 2019, a Embrapa Algodão lançou a cultivar BRS Morena, que tem como principal atrativo grãos marrom avermelhados. Esta coloração é bastante procurada em diversos mercados mundiais, em especial para o preparo de pratos mais refinados da chamada culinária gourmet.  

A cultivar tem muitas características que vem ao encontro do que os produtores procuram: alta produtividade; teor de óleo acima de 50%; ciclo curto de 90 a 99 dias e potencial produtivo de cerca de 980 quilos por hectare, em regime sequeiro, e de até 1.800 quilos por hectare em sistema irrigado. 

Uma outra diferença dessa cultivar é o hábito de crescimento pouco ramificado, com um a três ramos laterais, o que permite uma densidade populacional até três vezes maior do que outras variedades. 

A pesquisadora, Nair Arriel, responsável pelo desenvolvimento da BRS Morena, explica que “o principal objetivo da pesquisa era apresentar uma alternativa econômica viável para a diversificação agrícola das propriedades rurais e, ao mesmo tempo, ofertar à indústria de extração de óleo mais uma opção de matéria prima”. 

De acordo com a Embrapa Algodão, apesar de 90% do mercado de panificação e óleo preferir sementes de cor branca, o setor gourmet tem interesse pelas mais escuras. 

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Primeira cultivar protegida no país

Além das características nutricionais e de mercado, outra grande conquista é que a BRS Morena é a primeira cultivar de gergelim protegida no país, ou seja, a EMBRAPA detém o direito intelectual sobre a nova variedade. Com isso, a empresa também terá o controle de exploração e o retorno dos lucros de comercialização, o que ajuda no desenvolvimento de novas pesquisas e inovação.

“Isso nos orgulha muito, pois estamos vivenciando um momento de crescimento da cultura no Brasil, o que representa mais uma alternativa de diversificação agrícola com potencial econômico, agronômico e social. Para os produtores, é a garantia de sementes de qualidade e procedência conhecida”, destaca Nair. 

 Cultivo de gergelim muda perfil de fazenda de Mato Grosso

A região de Canarana, no Mato Grosso, é um dos principais polos de produção de gergelim no Brasil. De acordo com a EMBRAPA, a área plantada com a cultura no município gira em torno de 52 mil hectares. Mas a previsão é de que a área aumente, consideravelmente, em todo o estado e atinja 500 mil hectares na safra 2023/24, antecipando uma meta estabelecida para 2030.

Produtor de cultivares de gergelimHá 5 anos, o agricultor Gustavo Rizzo decidiu apostar no potencial do gergelim. Natural de São Paulo, mudou-se para o Centro-Oeste há 12 anos para tomar conta da fazenda da família, até então destinada à criação de gado de corte.  

“Trabalho com gergelim porque achei a cultura interessante tanto pelo beneficiamento da terra quanto pela rentabilidade. 

As vantagens são inúmeras como, por exemplo, a descompactação de solo, a não multiplicação de nematoides (parasita que causa degeneração das raízes), alta rentabilidade, baixa necessidade hídrica. A desvantagem que eu vejo é que é uma cultura ainda pouco estudada”, destaca o produtor.

Rizzo planta as variedades BRS Anahí, BRS Seda, entre outras, e diz que gostaria de cultivar a BRS Morena. Na última safra, ele plantou 500 hectares de gergelim e obteve uma produtividade média de 1000 kg/ha. O custo de produção varia de acordo com a região, ficando entre R$ 700 e R$ 1000/ha.

Gustavo conta que, em 2019, o preço pago pelo quilo de gergelim girou em torno de R$ 3,00. A maior parte da produção da fazenda, cerca de 95%, é exportada para países como Turquia e Emirados Árabes

Barreiras a vencer 

cultivares de gergelimPara que a cultura do gergelim continue crescendo, ainda é preciso vencer alguns obstáculos, como determinar a adubação ideal, os melhores métodos de controle de pragas e doenças e reduzir perdas por queda de sementes antes e durante a colheita.   

O Brasil é um dos poucos países que desenvolvem um sistema de produção de gergelim mecanizado e em larga escala. A expectativa é que com a definição do pacote tecnológico específico para a cultura, essas perdas sejam reduzidas beneficiando os agricultores e aumentando o lucro.  

Em busca de novos mercados, a Embrapa Algodão já estuda lançar uma nova cultivar de gergelim com grãos pretos. “A cultura se manterá altamente competitiva e os produtores brasileiros poderão atender grande parte da demanda mundial, principalmente, no mercado asiático (China e Japão) e no Oriente Médio que são consumidores de alta renda”, diz a pesquisadora Nair Arriel.

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