Inimigo natural para combater a broca-da-banana
A broca-da-banana (Cosmopolites sordidus) causa grandes prejuízos no Brasil e há muito tempo. Sua ocorrência foi verificada em 1915, no Rio de Janeiro, de onde se espalhou por todo o país, atacando os cultivos com maior ou menor intensidade dependendo da região.
Também conhecida como moleque da bananeira e broca do rizoma, a praga é a forma jovem de um besouro da família Curculionidae que apresenta um prolongamento na cabeça na forma de tromba, parecido com um bico longo e recurvado. Com atividade noturna, o inseto deposita seus ovos no rizoma, o caule subterrâneo da planta. Ao eclodirem, estes ovos dão origem a larvas que perfuram o rizoma formando galerias e diminuindo a capacidade da bananeira de absorver água e nutrientes. As perfurações também funcionam como portas de entrada para outras doenças, comprometendo a produção. Os primeiros sinais de que uma planta está com a broca são folhas amareladas e redução do tamanho dos cachos.
O controle da broca das bananeiras pode ser feito com um biodefensivo, o fungo Beauveria bassiana.
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Biodefensivo tem grande eficiência no controle da broca
O fungo Beauveria bassiana vem dando bons resultados no controle da broca-da-banana. Este microrganismo tem a capacidade de penetrar no corpo do besouro através do exoesqueleto, estrutura externa que funciona como a nossa pele, causando a morte do inseto.
O pesquisador do Instituto Biológico (IB) e coordenador da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), Antonio Batista Filho, explica que essa característica “os coloca em vantagem quando comparados com outros grupos de patógenos que só entram no inseto por via oral”.
A cepa de Beauveria bassiana utilizada no combate à broca é a IBCB66 que, de acordo com o pesquisador, já é utilizada em 5 mil hectares de bananais brasileiros. Por ser um inimigo natural da praga, o controle do fungo ser de até 90%, dependendo de fatores ambientais e dos isolados de microrganismos utilizados.
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Eficiência depende do manejo correto
O pesquisador orienta que, antes de qualquer tipo de controle, é preciso monitorar a praga para ter conhecimento da sua população. A aplicação do fungo é feita através de armadilhas preparadas com o pseudocaule (a parte da bananeira equivalente ao tronco) de uma planta que já produziu banana. O produtor pode escolher entre dois tipos de armadilhas:
- Isca tipo queijo: um pedaço de pseudocaule, com altura entre 5 e 10 centímetros, cortado transversalmente. A isca deve ser colocada em cima da base do pseudocaule que permaneceu no solo.
- Isca tipo telha: consiste em um pedaço de pseudocaule de cerca de 50 cm, cortado na vertical, e separado em dois pedaços. A parte cortada deve ser colocada virada para baixo em contato com o solo, ao lado das touceiras.
“São utilizadas cerca de 20 iscas por hectare para monitoramento da população e cerca de 100 a 150 iscas – tipo telha para controle. As avaliações são realizadas quinzenalmente, e quando for encontrada a média de 5 adultos por isca, deve ser iniciado o controle da praga”, explicou Antonio Batista.
O fungo é colocado na parte cortada das iscas e, pode ser distribuído nas formas sólida ou pastosa. Ao entrar em contato com a armadilha, o microrganismo penetra no inseto que acaba adoecendo e morrendo. O besouro infectado também vai servir como um transmissor da doença, espalhando o fungo entre os outros insetos.
Como são produzidos os biodefensivos de base microbiológica
Produtores aprovam o controle biológico
Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), São Paulo é o maior produtor de banana do país. Em 2019, o estado colheu cerca de 1,1 milhão de toneladas da fruta. A maior parte dos bananais paulistas está na região do Vale do Ribeira, onde fica a propriedade de Jeferson Magario. Ele é a terceira geração da família que sempre cultivou banana, numa área de 60 hectares, no município de Sete Barras.
Ao longo dos anos, Magario vem tentando controlar a broca da bananeira com a utilização de várias tecnologias. Em 2019, decidiu experimentar o controle biológico com a Beauveria bassiana.
O monitoramento da praga é constante. A cada 2 meses, o agricultor espalha armadilhas, do tipo queijo, pelo cultivo. “O uso dos produtos biológicos é uma tendência, não só para combater a broca, mas também outras doenças. É uma coisa que veio pra ficar”, destaca Magario.
Sílvio Romão é outro agricultor do Vale do Ribeira que adotou o controle biológico nos bananais da Fazenda Univale. A propriedade, que pertence à família há 32 anos, é comandada em parceria com o filho, Augusto Romão.
Os produtores, que também são médicos, optaram pelo controle biológico há 3 anos. A maior parte das frutas é destinada ao mercado interno, mas a fazenda já exportou para a Argentina e agora quer expandir as vendas para o mercado europeu. “O foco da fazenda é a migração agroecológica no cultivo da banana. Neste ano, estamos em implantação de bioinsumos – fertilizantes, estimulantes fisiológicos e defensivos biológicos”, relata Sílvio.
O engenheiro agrônomo e consultor técnico, José Carlos Mendonça, conta que muitos produtores ainda têm resistência ao uso de Bioinsumos. Porém, com a crescente demanda por certificações de produção sustentável, especialmente no mercado internacional, essa visão está mudando. Mendonça explica que, em alguns momentos, ainda é preciso aplicar defensivos químicos para controlar o avanço de pragas.
“Os produtores mais tecnificados ou que estão de olho em determinado mercado, já estão usando mais os biológicos. É uma tendência e tem que ter bom senso na hora de fazer o manejo adequado”, afirma o agrônomo.
O manejo integrado de pragas é parte essencial da agricultura moderna