Inoculante brasileiro traz ganho de produtividade
O uso de fertilizantes é essencial para o desenvolvimento das culturas. O fósforo é um dos nutrientes importantes, pois é responsável pela produção de energia nas plantas. O mineral auxilia o sistema radicular e, com raízes bem formadas, a cultura consegue suportar melhor os estresses do campo, como a seca, por exemplo.
Além do fósforo, outros dois minerais são fundamentais: nitrogênio e potássio. Os três formam a conhecida mistura NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), amplamente utilizada no país.
Entretanto, a maior parte dos fertilizantes aplicados nas culturas é importado. De acordo com dados do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços foram importadas 33,5 milhões de toneladas de adubo e fertilizantes, em 2019.
O poder dos microrganismos
Diante da demanda do setor agrícola por novos produtos, pesquisadores da EMBRAPA Milho e Sorgo, em Minas Gerais, desenvolveram um inoculante – produto biológico formado por microrganismos – para melhorar a absorção de fósforo pelas plantas. A pesquisa, que durou 18 anos, analisou 450 bactérias e duas delas foram escolhidas para desenvolver o produto: Bacillus subtilis (B2084) e Bacillus megaterium (B119).
Estas bactérias são usadas na composição de um biofertilizante que ajuda na absorção do fósforo retido no solo e, também, aumenta a eficiência do adubo fosfatado que o agricultor aplica nas culturas.
A coordenadora da pesquisa, Christiane Paiva, explica que “cerca de 70% do fósforo que aplicado no solo não é utilizado. Ele vai acumulando ano a ano, vai formando uma poupança e, a gente tem que recuperar isso de alguma forma.”
As bactérias liberam ácidos e enzimas que quebram as moléculas do mineral que está indisponível. “Cada bactéria apresenta um mecanismo diferente e, quando são colocadas juntas, esses mecanismos se somam e o efeito é melhor.
As cepas das bactérias conseguem fazer com que uma maior quantidade de fósforo seja absorvida, recebendo em troca compostos para o crescimento delas, como fontes de carbono: ácidos orgânicos e açúcares”.
Micro, mas poderosos: defensivos microbiológicos
Além de reduzir custos, o Biofertilizante nacional aumenta produtividade
Esse inoculante é o primeiro desenvolvido com tecnologia brasileira, utilizando microrganismos tropicais, o que garante uma melhor adaptabilidade nas lavouras nacionais. A Embrapa fez uma parceria público-privada para produção em larga escala do biofertilizante que está no mercado desde o segundo semestre de 2019.
Com a melhora no manejo de adubação, o agricultor pode reduzir o uso de fertilizantes sintéticos e, consequentemente, diminuir os custos. Em média, o agricultor vai gastar 60 reais por hectare com o inoculante, sendo que com o fertilizante químico, o custo pode chegar a 500 reais. Outra vantagem apontada pela pesquisadora é a redução na emissão de gás carbônico (CO2) o que ajuda o meio ambiente.
O produto foi desenvolvido para o milho, mas outras culturas, como a soja, já apresentaram um aumento médio de 10% na produção de grãos. Testes também estão sendo feitos em cultivos como de arroz, feijão, café e frutas em diferentes regiões do Brasil.
Bioinsumos, nova aposta da agropecuária
Estímulo para o uso de produtos naturais
O inoculante pode ser aplicado nas sementes, mas o plantio tem que ser feito logo após a inoculação para que as bactérias não sejam prejudicadas. Ele também pode ser aplicado no sulco de plantio com jato dirigido e, para aumentar a eficiência, a recomendação é utilizá-lo em todas as safras.
“A grande vantagem é que tinha muito produtor que não usava produto biológico nenhum. A gente ainda não pode indicar a substituição do fertilizante (sintético). Esse inoculante vai melhorar a eficiência dele e o produtor vai ganhar em sacas, então vai acabar diminuindo a adubação”, ressalta Christiane.
O produtor André Ricardo Denardin apostou no produto para melhorar a absorção do fósforo nas plantações de soja, milho e trigo, em Braganey, no Paraná.
Em 2018, o agricultor participou da pesquisa da Embrapa experimentando o inoculante na plantação de soja e o resultado foi bastante positivo. Na safra 2019/2020, aumentou a área em caráter experimental e, para a próxima safra 2020/2021 vai usar o biofertilizante em toda lavoura que ocupa cerca de 300 hectares. “No primeiro ano, a colheita foi de quase 9 sacas a mais por hectare. Além da produtividade, tem ainda essa questão extra de fósforo. Para nossa região, o grande fator limitante é o fósforo. Você ter um produto que disponibiliza o que está no solo, é fantástico”, afirma Denardin.
Mesmo com o inoculante, Denardin manterá a dose química de adubação das últimas safras, porém acredita que poderá reduzir, gradativamente, os produtos sintéticos. “A partir do ano que vem, ou talvez até nessa safra, eu faça parcelas experimentando a redução da adubação química. A gente tem que balancear. Tem que fazer esses testes para ter um diagnóstico, avaliar se com a economia em adubação química, eu não vou perder em produtividade.”