Tudo sobre sementes: conheça a história da produção de plantas

Com capacidade de germinar e dar origem a novas plantas, as sementes representam papel fundamental no desenvolvimento da humanidade

Você já parou para pensar na importância das sementes para a humanidade? Basta olharmos à volta que veremos quantas plantas nos cercam e como elas foram originadas para que fique muito claro o valor inestimável de uma semente.

Assim que os humanos pré-históricos reconheceram as sementes como sendo importantes para sua alimentação, elas passaram a fazer parte da dieta dos nossos ancestrais. Logo, eles descobriram também que essas estruturas tinham o poder de germinação, e de dar origem a uma nova planta. Com isso, seus estilos de vida começaram a mudar.

Desde então, utilizam-se as sementes como fonte de carboidratos, proteínas e vitaminas para a nossa alimentação. Assim como material de propagação para o plantio de lavouras, auxiliando no desenvolvimento da agricultura e das civilizações.

Com todo o seu potencial, o desenvolvimento de sementes cada vez mais produtivas e adaptadas representa uma das áreas mais importantes da ciência moderna.

Quer conhecer melhor sobre a trajetória da semente na produção agrícola? Continue lendo este texto.

 

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O que são sementes?

As sementes estão na Terra há muito tempo. Elas apareceram pela primeira vez há mais de 350 milhões de anos, e conferiram um importante passo evolutivo para o Reino Vegetal. Naquela época, as plantas deixaram de se reproduzir por esporos e surgiram plantas superiores. Assim, elas se tornaram fonte de alimentos tanto para humanos, como para outros organismos.

Estrutura de uma sementeAs sementes se resultam do processo de fecundação que ocorre entre os gametas masculino e feminino de um vegetal. Elas carregam todo o material genético – o genoma– que dará origem a uma planta. Assim, elas marcam o estágio inicial de mais um ciclo de vida.

De maneira simplificada, podemos dizer que as sementes são constituídas por uma cobertura protetora (tegumento), tecido de reserva (endosperma, cotilédone ou perisperma) e embrião, cada parte apresentando funções específicas.

A estrutura externa delimita e protege a semente. Já o tecido de reserva serve de fonte energética para que essa semente germine, se estabeleça e eventualmente cresça.

A partir da semente é possível acessar todas as características genéticas de uma futura planta e que podem ser úteis no melhoramento genético.

Qual é a função das sementes?

Sem dúvida, a principal função da semente é perpetuar a espécie vegetal. Mas saiba que isso também está atrelado à sua capacidade de dispersão, ou seja, de conseguir ser levada para longe propagando-se em novos ambientes.

Dessa forma, cada espécie desenvolveu sementes com características particulares. Elas possuem diferentes estratégias de dispersão (por animais, pelo vento, por abertura natural ou pela própria gravidade). Tudo isso conferiu diferenciações morfológicas entre sementes aos diferentes grupos de plantas.

E ainda tem mais, as sementes também são responsáveis por alimentar muitos animais e a nós humanos. Isso ocorre quando as aproveitam como grão seja por alimento direto ou matéria prima para atividades industriais.

Mas você sabe a diferença entre sementes e grãos?

Uma diferença básica entre eles é que a semente precisa estar viva, sendo capaz de germinar e produzir uma nova planta quando proporcionadas condições favoráveis. Já o grão se destina ao consumo como alimento, ou como matéria prima para a indústria, ração, biocombustíveis, etc.

Tabela - O que é semente e o que é grão?

Assim, utilizada como material de propagação, a qualidade da semente se mede por seu estado fisiológico. Já a qualidade do grão se afere por sua aparência e pelas propriedades físico-químicas que determinam sua aptidão para consumo direto ou transformação industrial.

 

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As sementes no desenvolvimento da humanidade

Há mais de 10.000 anos o ser humano apresentava comportamento nômade, ou caçador-coletor. Dependia dos organismos vivos que já estavam presentes no local para a sua subsistência. A partir do momento que o homem aprende a plantar e cultivar vegetais, passou a utilizar as sementes como sua fonte de sustento.

A partir daí, a humanidade sempre dependeu de vegetais para se alimentar, bem como desenvolver ferramentas e outros insumos para sua subsistência. E tudo isso envolveu invariavelmente a sua interação com sementes de diferentes tipos.

Nos tempos mais modernos, o homem desenvolveu ferramentas que poderiam auxiliar na produção das culturas. Essas ferramentas foram parte das estratégias de um melhor cultivo e do desenvolvimento de insumos modernos, que pudessem aumentar o que estava sendo produzido.

Da mesma forma, a indústria química se fortalecia, podendo fornecer fertilizantes, defensivos e outras categorias de insumos para o fortalecimento da agricultura. Estudos sobre solo, pragas e irrigação também geravam um acúmulo de conhecimentos valiosos que atuavam em sinergia para auxiliar o agricultor a superar seus desafios.

Todo esse movimento foi necessário para fundamentar a Revolução Verde, considerada a Terceira Revolução Agrícola, na qual a semente teve um papel essencial.

A Revolução Verde consistiu num conjunto de práticas e tecnologias mais avançadas, advindas da pesquisa e do desenvolvimento. Elas contribuíram para um aumento marcante de produtividade global, principalmente nos países em desenvolvimento.

As iniciativas da época eram centradas em melhorias na irrigação, utilização de fertilizantes sintéticos, pesticidas e técnicas de manejo mais modernas. No entanto, foram as sementes híbridas que fizeram da Revolução Verde um divisor de águas na produção agrícola.

O melhoramento genético na produção de sementes

As sementes híbridas são geradas a partir do cruzamento entre duas plantas puras. Sua vantagem é resultar em plantas que apresentam melhor desempenho do que as parentais, o que é denominado vigor híbrido ou heterose.

Dentre as características que foram melhoradas naquela época estão:

  • produtividade;
  • resistência a fatores bióticos e abióticos;
  • tamanho e maior uniformidade das plantas.

Um dos pioneiros nos estudos relativos ao desenvolvimento de híbridos foi um geneticista americano chamado George Shull. Ele trabalhava com cruzamento de plantas de milho já no início do século XX, cujos achados viriam a revolucionar a agricultura anos depois.

Curiosamente, Shull não tinha o interesse comercial sobre suas pesquisas. Ele queria mesmo era desvendar a genética por trás dos cruzamentos que resultavam em plantas com características mais ou menos acentuadas. A Revolução Verde, por sua vez, fez uso dos conhecimentos advindos dessas pesquisas para resolver o problema da grande demanda global por alimentos e energia.

 

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A transformação de sementes em tecnologia

Paralelamente a esses avanços, áreas como a genética, a bioquímica e a biologia molecular progrediram consideravelmente durante o século XX. O domínio das técnicas de sequenciamento do DNA levou a um melhor entendimento da função dos genes nos organismos. Isso tornou possível o uso de marcadores moleculares que aceleraram os programas de melhoramento de plantas.

Além disso, a partir do desenvolvimento e domínio da tecnologia do DNA recombinante também foi possível a manipulação de genes e que resultou na biotecnologia empregada nos dias de hoje.

Os programas de melhoramento modernos têm utilizado a transgenia e as novas técnicas de edição genética, como CRISPR. Mas saiba que, esses programas que envolvem técnicas da biotecnologia, são rigorosamente controlados pela lei de biossegurança.

Sementes melhoradas como fonte de alimentação

Um dos exemplos mais marcantes de melhoramento de sementes para fins alimentares (grãos), foi o desenvolvimento do milho como cultura agrícola que conhecemos hoje.

Fonte de alimentação

Segundo registros arqueológicos, o ancestral dos híbridos de milho moderno, chamado teosinto, produzia uma espigueta com número reduzido de sementes duras. Isso resultava em baixa produtividade e dificultava a exploração do seu potencial nutricional.

Os povos indígenas do sul do México teriam desenvolvido as primeiras técnicas necessárias ao melhoramento das propriedades da espiga. Essas técnicas aumentaram a quantidade, o tamanho e o número de grãos de milho. A seleção dessas características agregou valor à cultura, fazendo com que ela se espalhasse por um vasto território do continente americano. E assim se criou uma importante rede de comércio.

Essa evolução pode ser extrapolada para todas as culturas que foram domesticadas e são cultivadas atualmente. Porém, todas foram originadas de um ancestral que, em algum momento, era selvagem.

Com seu papel central na perpetuação das atividades agrícolas e na evolução dos segmentos produtivos, a semente foi ganhando um espaço cada vez mais representativo.

A produção de sementes no Brasil

A produção de sementes é uma atividade essencialmente agrícola, porém ela controlada por aspectos legais. Por isso, o produtor de sementes não é um agricultor qualquer, mas sim aquele que produz de acordo com o que a lei de sementes prevê.

A lei que dispõe sobre a produção de sementes e mudas é a Lei n° 10.711, de 05 de agosto de 2003. Ela é regulamentada pelo Decreto n° 10.586, de 18 de dezembro de 2020. E o órgão competente para a edição dos atos e normas complementares previstos na legislação é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). É o MAPA que fiscaliza todas as etapas de produção de sementes e mudas.

Também em função da legislação, existe o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM). Esse sistema tem a finalidade de garantir que as sementes e mudas produzidas, comercializadas e utilizadas em todo o território nacional sejam de qualidade.

É assim que as sementes passam a possuir garantia de alta qualidade para apresentar desempenhos superiores àquelas que não seguem esse sistema. Logo, quando o produtor opta por sementes que seguem essas regras de produção, ele consegue garantir a qualidade do material que será levado ao campo.

Plantas hoje e amanhã

Como vimos, as sementes vêm suprindo inúmeras de nossas necessidades há milênios. A história do melhoramento de sementes se mistura com a história do progresso do ser humano e das diferentes áreas de conhecimento. Atualmente, as ferramentas biotecnológicas, de proteção de cultivos e da inteligência da informação expandem, ainda mais, os horizontes do melhoramento de sementes.

Na agricultura digital, desenvolveram-se equipamentos de alta tecnologia já pensando na melhor forma de utilização das sementes, explorando todo o seu potencial. Aplicativos para celular, drones, tratores e sistemas de irrigação integrados fazem parte dessa modernidade.

A combinação destes esforços pretende nos impulsionar à superação do grande desafio de se produzir alimentos para uma população cada vez maior, sem agredir o meio ambiente. A sustentabilidade do nosso planeta dependerá da nossa capacidade de valorização de todo o potencial contido na semente. É essencial que saibamos aprimorar tudo o que se construiu até os dias de hoje.

 

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Principais fontes:

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. – Brasília : Mapa/ACS, 2009. 399 p.

Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Legislação Específica de Sementes e Mudas e Normas Relacionadas à Área. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/sementes-e-mudas/legislacao Acesso em 18 ago. 2023.

Universidade Federal de Lavras (UFLA). Morfologia de Sementes. Disponível em: http://www.ledson.ufla.br/metabolismo-da-germinacao/morfologia-de-sementes/ Acesso em 15 set. 2023.

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