Produtos biológicos proporcionam mais vida aos nossos solos
Conheça a importância dos produtos biológicos na saúde do solo e sua contribuição com sistemas agrícolas mais sustentáveis
Os produtos biológicos utilizados na agricultura são aqueles originários de organismos e substâncias naturais, capazes de trazer diversos benefícios para os cultivos agrícolas e para a preservação do meio ambiente. Hoje, embora façam parte de uma pequena fatia do mercado de proteção de cultivos, eles são a categoria de produtos que mais cresce anualmente.
Dentre os benefícios agronômicos dos produtos biológicos, podemos destacar o gerenciamento das pragas nas lavouras, tanto no aspecto de proteção dos cultivos como no manejo da resistência dessas pragas e, consequentemente, melhoria no rendimento das culturas.
Além disso, os biológicos são capazes de estimular os processos naturais das plantas, mitigando os efeitos do estresse causado pela seca, aumentando a eficiência do uso de nutrientes e melhorando a qualidade das culturas.
No aspecto ambiental, o uso de produtos biológicos no manejo de pragas e na nutrição de plantas promovem maior sustentabilidade no campo, favorecendo a regeneração da terra, agregando vida ao solo e promovendo maior biodiversidade.
Dessa forma, esses produtos, além de protegerem as lavouras, possuem o papel de restaurar e/ou melhorar a biodiversidade, auxiliando nos programas de adaptação e mitigação dos Gases do Efeito Estufa (GEE).
Produtos biológicos ganham mais espaço na agricultura de baixo carbono
Do ponto de vista de segurança dos alimentos, os produtos biológicos utilizados na proteção de cultivos são frequentemente isentos dos Limites Máximos de Resíduos (LMRs), o que facilita a exportação de culturas que foram tratadas com eles.
Produtos biológicos para manter a biodiversidade: o solo agradece
De acordo com a sua origem, existem três principais formas de classificar os produtos biológicos:
- Microbianos: aqueles compostos por microrganismos como bactérias, algas, fungos, protozoários ou vírus. Eles são utilizados na proteção contra pragas e na nutrição de plantas;
- Bioquímicos: quando são constituídos por substâncias que ocorrem naturalmente, como extratos de plantas e produtos de processos de fermentação. Podem atuar tanto na proteção contra as pragas como na melhoria dor processos fisiológicos das plantas. Também fazem parte desse grupo uma categoria especial conhecida como semioquímicos ou feromônios de insetos;
- Macrobianos: são os organismos vivos, como insetos predadores, ácaros e nematoides, utilizados no controle de pragas.
Os biológicos são tecnologias renováveis, não poluentes e favorecem a regeneração da biodiversidade no meio ambiente, principalmente do solo. Introduzindo microrganismos que além de fornecerem nutrientes para as plantas são capazes de manter maior equilíbrio entre os seres vivos, sejam eles benéficos ou nocivos (pragas).
A manutenção do equilíbrio por meio desses produtos impede que os organismos nocivos se multipliquem de forma desordenada, evitando assim maiores prejuízos às lavouras.
Como esses produtos funcionam?
Os produtos microbianos e bioquímicos que melhoram o desempenho das culturas são os inoculantes, os biofertilizantes e os bioestimulantes. Os inoculantes funcionam por meio de associação de microrganismos às raízes das plantas em um processo conhecido como fixação biológica do nitrogênio (FBN) onde esses microrganismos capturam o N2 da atmosfera tornando-o disponível para as plantas.
A FBN é um processo que pode diminuir ou até mesmo eliminar a necessidade de adubos à base de nitrogênio, reduzindo custos de produção e impactos ambientais, uma vez que o nitrogênio é absorvido do próprio ecossistema.
Bioinsumos, cruciais para a autonomia do Brasil na nutrição de plantas
No caso dos biofertilizantes, eles são capazes de ampliar os microrganismos benéficos ao solo, permitindo maior estabilidade e capacidade do solo em sustentar o crescimento das plantas, aumentando a produtividade das culturas. Além disso, eles não são poluentes, o que causa menor impacto ambiental.
Já os bioestimulantes, atuam diretamente nas plantas, potencializando seus processos fisiológicos, resultando em maior produtividade. Eles atuam no equilíbrio hormonal da planta e na divisão das células vegetais, aumentando sua resistência a condições de falta de água provocadas pela seca. Essa condição se dá devido ao aumento da capacidade de absorção de água e nutrientes, favorecendo o seu crescimento.
Além de melhorar a saúde do solo, FBN reduz emissão de gases do efeito estufa (GEE)
Sabemos que o nitrogênio é um macronutriente essencial ao crescimento dos vegetais e o uso de inoculantes capazes de fazer a FBN reduz drasticamente a necessidade de utilização desse insumo de origem fóssil para a produção da cultura da soja no país.
De acordo com uma pesquisa publicada neste ano na Frontiers in Microbiology, a substituição de fertilizantes químicos por microrganismos fixadores de nitrogênio contribui substancialmente para a redução das emissões de GEE. Assumindo que cada quilograma de fertilizante nitrogenado corresponde a cerca de 10 kg de emissões de CO2eq, um dos GEE.
Significando que aproximadamente 430 milhões de toneladas de CO2eq seriam liberados anualmente se nenhum fixador biológico de nitrogênio fosse utilizado em plantações de soja no Brasil.
Nutrientes do solo são o alimento para as plantas
No Brasil, 77% dos fertilizantes nitrogenados são provenientes de outros países. A única cultura que não depende dessa importação é a soja. E isso se dá justamente por conta da FBN, o que gera uma economia de aproximadamente 10 bilhões de dólares em fertilizante nitrogenado, segundo o estudo da Frontiers in Microbiology.
O uso de produtos biológicos vem crescendo a cada ano
Na área de proteção de cultivos, a indústria de biodefensivos tem apresentado taxas de crescimento bem superiores às do segmento de químicos. Entre 2015 a 2020, a taxa de crescimento do mercado global de controle biológico foi de 16%, enquanto para os defensivos químicos foi próxima de 1%.
Bioinsumos, nova aposta da agropecuária
Já no que se refere à nutrição de plantas, embora a agricultura brasileira já fizesse elevado uso de inoculantes, a alta no preço dos fertilizantes sintéticos tem feito com que o país apostasse ainda mais na utilização dessa tecnologia.
Os produtos de origem biológica complementam uso de fertilizantes e defensivos químicos, aumentando a oferta de produtos alternativos aos sintéticos, mantendo a produção agrícola.
No entanto, ainda há muitos desafios a serem enfrentados pelo setor de pesquisa e desenvolvimento desses bioinsumos. O desenvolvimento de tecnologias para repor outros nutrientes como o fósforo e o potássio – com maior demanda, depois do N – tanto para soja como para outras culturas.
Principais fontes:
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). 2022. Uso de biofertilizantes na soja brasileira é destaque em publicação científica. Disponível em: https://agencia.fapesp.br/uso-de-biofertilizantes-na-soja-brasileira-e-destaque-em-publicacao-cientifica/39156/ Acesso em: 31 out. de 2022.
IHS Markit. 2021. Riscos e impactos da produção on farm de biodefensivos. set/2021.
Insper. Bioinsumos: conceitos, potencial e desafios no Brasil. Disponível em: https://www.insper.edu.br/noticias/bioinsumos-conceitos-potencial-e-desafios-no-brasil/?utm_source=newsletter&utm_medium=email_materias&utm_campaign=insperagro13 . Acesso em: 31 out. de 2022.
Olmo R et al., Microbiome Research as an Effective Driver of Success Stories in Agrifood Systems – A Selection of Case Studies. Front. Microbiol. 2022.
Richard Garnett Consultant, CropLife International Leicester, England, UK. Biologicals Protect Crops and Enrich Soil Disponível em: https://pesticidefacts.org/perspectives/biologicals-protect-crops-and-enrich-soil/ . Acesso em: 31 out. de 2022.