Plantio Direto, um exemplo de cuidado com o solo
O Plantio direto é uma técnica de manejo conservacionista do solo e amplamente adotada no Brasil. A preservação do solo está no centro de diversas discussões sobre agricultura sustentável. Sem os cuidados necessários, ele pode sofrer erosão, compactação, perda de matéria orgânica e nutrientes em geral.
No contexto global, no qual as mudanças climáticas podem transformar drasticamente a produção de alimentos, é fundamental avaliarmos como as diversas soluções apresentadas até o momento impactam na qualidade dos solos.
Conheça o plantio direto
O plantio direto é uma técnica de manejo que difere do que se costuma chamar de plantio convencional. Sua principal diferença consiste na ausência do revolvimento da terra no momento do preparo do solo e no plantio de uma nova cultura.
Antes do desenvolvimento da agricultura moderna, com o uso de maquinário, o homem semeava diretamente na terra, sem prepará-la. As tentativas de reintroduzir práticas similares a estas técnicas ancestrais, que preservariam o solo ao não o revolver continuamente, ocorreram na década de 1940, por Edward Flaukner.
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Na década de 1950 pesquisadores divulgaram resultados demonstrando sucesso na aplicação da técnica que chamavam no till (de no tillage, significando “sem preparo da terra”). Os estudos da viabilidade desta técnica foram intensos nos anos de 1960, tanto nos EUA quanto na Inglaterra.
Essa estratégia prioriza a baixa movimentação do solo, que deve ficar restrita ao sulco, local onde ocorrerá a deposição de sementes e fertilizantes. Estas práticas, somadas à rotação de culturas caracterizam o Sistema de Plantio Direto (SPD).
Além disso, o SPD prioriza a manutenção dos restos da lavoura anterior (palhada) no campo. A palhada protege o solo e traz muitos benefícios para as plantas.
A utilização contínua desse sistema preserva o solo, mantendo sua estrutura física, química e biológica. Além disso, mantém a sua umidade e faz com que a incidência de plantas daninhas seja menor, devido à baixa luminosidade que chega até elas.
Consequentemente, a planta em desenvolvimento tem menor competição, maior quantidade de água disponível, o que resulta em maior produtividade da lavoura para o produtor.
Início do plantio direto no Brasil
A introdução do sistema de plantio direto no Brasil ocorreu na década de 1970, no estado do Paraná. O proprietário Herbert Bartz, após ver bons resultados em área experimental de sua fazenda, decidiu aprender mais sobre a técnica. Viajou à Inglaterra e EUA, importando a primeira semeadora para plantio direto no Brasil. Assim, sua propriedade tornou-se a primeira do Brasil e da América Latina a utilizar o sistema de no till.
No entanto, a intensificação do plantio direto ocorreu desde que introduzimos as sementes geneticamente modificadas (GM) tolerantes ao glifosato no campo, permitindo o controle das plantas daninhas depois do crescimento da cultura. Desde então, o plantio direto é visto como a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento às recomendações das conferências da Organização das Nações Unidas (Eco-92 e Rio+20) e da Agenda 21 do Brasil.
O processo de adoção do SPD
Em grande parte, precedidas por queimadas e uso intensivo do arado na terra, o manejo tradicional do solo mostrava-se inadequado. Exemplo disso, foram eventos severos de perda por erosão de extensas regiões agrícolas, em especial no Paraná. A degradação ambiental nessas regiões chegou a tornar insustentável a manutenção da qualidade do solo no Brasil.
Nem mesmo os ganhos de produtividade decorrentes de avanços tecnológicos implementados ao longo do tempo (melhoramento genético, controle químico de doenças e uso de maquinário) foram capazes de sustentar a atividade econômica em muitas das propriedades afetadas pela perda da qualidade do solo. Dado ao elevado custo para a manutenção e preparo do solo das propriedades.
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Com o avanço da fronteira agrícola, as novas áreas mostravam sempre este mesmo problema de perda de solo por erosão, com o passar do tempo. Isto indicava que havia necessidade de que as técnicas de cultivo fossem adaptadas.
Por ter como elemento central o cuidado com o solo, o sistema de plantio direto (SPD) ganhou grande destaque, e seu uso foi sendo difundido rapidamente no país.
No Brasil, cerca de 60% da área com lavouras emprega essa semeadura, enquanto em outras partes do mundo a adoção é muito menor, podendo chegar a menos de 5%, como é o caso da Europa. Por isso, além de liderarmos a produção de grãos, somos o país com a maior área de agricultura conservacionista no mundo.
Sistema de Plantio Direto, na prática
O sistema de plantio direto é estruturado em três pilares: rotação de culturas, manutenção de palhada sobre o solo e ausência de revolvimento da terra.
Rotação de culturas
A rotação de culturas, nada mais é, que alternar o plantio de diferentes espécies vegetais, de forma planejada, numa mesma área, sendo que uma espécie vegetal não é repetida, no mesmo lugar, em um intervalo de tempo inferior a um ano.
Não pode ser confundida com uma simples sucessão de culturas, onde ciclos de poucas espécies diferentes são plantados continuamente (por exemplo soja-milho).
A rotação de cultura, deve gerar economia ao produtor pois auxilia no controle de doenças ao quebrar o ciclo dos patógenos. Muitas doenças são específicas de uma espécie de planta. Se elas não estão no campo, a doença não se desenvolve. Esta alternância também aumenta a sanidade e qualidade do solo, sendo por isso um princípio básico do SPD.
Para que esta etapa tenha seus benefícios potencializados, é preciso fazer um planejamento das espécies que serão plantadas. Dessa forma, se poderá alcançar:
- Ganhos financeiros com todas as culturas plantadas: é importante escolher culturas que sejam adequadas às épocas de plantio e ofereçam ao produtor possibilidade de vendas ao longo de todo o ano.
- Enriquecimento do solo: nesse sentido devem ser selecionadas plantas com sistemas radiculares bastante distintos, já que a qualidade e boa estrutura do solo são centrais ao SPD.
- Proteção da lavoura: que pode ser obtida ao selecionar espécies que não sejam propícias a desenvolver doenças que afetem o cultivo principal da propriedade. Assim, o ciclo dos parasitas é quebrado e a quantidade deles em campo é diminuída.
- Produção de biomassa em abundância: importante para a produção da palhada, para cobertura do solo.
Produção de palha
Ao final de cada cultivo, os restos vegetais (biomassa) são triturados e depositados sobre o solo. Sua principal função é de impedir o impacto das chuvas, reduzindo a compactação e lixiviação do solo.
Um solo coberto favorece a infiltração da água e mantém a umidade por mais tempo, minimizando perdas pela evaporação. Além disso, o escoamento rápido da água da chuva é barrado, contribuindo para a manutenção da estrutura do solo.
No entanto, a produção da palhada é um processo demorado. Para que se obtenha a cobertura adequada, são necessários até dez anos de deposição de material vegetal no manejo do SPD.
A formação da palhada também é dependente do tipo de cultivo utilizado e das condições climáticas a que ela está sujeita. Assim, em regiões de cerrado os invernos secos impõem mais dificuldades do que na região sul, onde as chuvas são mais bem distribuídas ao longo do ano.
Além de prevenir a erosão, a palhada propicia a manutenção da diversidade biológica do solo, o que também auxilia no controle de doenças.
Terra sem revolvimento
O sistema de plantio direto tem como elemento central o solo e como principal objetivo manter sua sanidade, qualidade e estruturação. É isto que otimiza a produção e, se mostra como uma estratégia sustentável para a manutenção da lavoura a longo prazo.
Como diretriz mais central podemos dizer que no SPD não há revolvimento extensivo do solo. Para o SPD o revolvimento do solo fica restrito ao local da semeadura, onde as sementes são colocadas. Dessa forma, a adubação, assim como a aplicação de demais químicos fica restrita ao momento de plantio, evitando que, constantemente, o solo seja exposto.
Os benefícios do plantio direto
Quanto maior for a adoção do sistema de plantio direto, maiores serão os benefícios agrícolas, econômicos e ambientais para a sociedade como um todo. Produção mais sustentável de grãos e alimentos e geração de emprego e renda.
Para as lavouras, o SPD aumenta a conservação do solo e da água e otimiza o uso dos fertilizantes. Isso porque a palhada no solo mantém alto o teor de matéria orgânica e os microrganismos benéficos para as plantas.
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Tecnologia a serviço do plantio
A melhor germinação de sementes e melhor emergência de plantas se dá pelo teor de umidade que a palhada proporciona. Isso evita a necessidade do replantio e o gasto maior com sementes. Além da economia de combustíveis, tempo e mão de obra.
Integrando o plantio direto e o uso de biotecnologia, a semeadura de culturas Bt reduz a aplicação de herbicidas e inseticidas, gerando economia para o produtor.
O SPD também mantém temperatura ideal do solo, auxiliando na infiltração da água e reposição da água subterrânea. E pode ser adotado em pequenas, médias e grandes propriedades rurais.
Para o meio ambiente, o plantio direto está entre os sistemas que promovem a redução de emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa. Associado à agricultura conservacionista de conservação do solo e água, aumenta a eficiência da adubação.
Principais fontes:
Galdos, M. V., et al. Assessing the long-term effects of zero-tillage on the macroporosity of Brazilian soils using X-ray Computed Tomography. Geoderma, 2019.
EMBRAPA. Sistema Plantio direto. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/98258/1/500perguntassistemaplantiodireto.pdf. Acesso em: 06/08/2020.
Grupo cultivar. Direto, sim, mas com cuidado. Disponível em: https://www.grupocultivar.com.br/artigos/direto-sim-mas-com-cuidado. Acesso em: 06/08/2020.
Kochhann, R. A e Denardin, J. E. lmplantação e manejo do sistema plantio direto. 1 ed. Passo Fundo, Embrapa Trigo, 2000.
No-tillfarmer. 1943: Ed Faulkner Calls Out Plowing. Disponível em: https://www.no-tillfarmer.com/articles/6896-ed-faulkner-calls-out-plowing. Acesso em: 06/08/2020.