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Mapas digitais expressam uma “radiografia” dos solos brasileiros

Estudo da Embrapa mostra como está o estoque de carbono orgânico de diferentes regiões do país

Conhecer o solo é essencial para desenvolver agricultura de forma ambientalmente adequada. No Brasil, entre várias pesquisas, a Embrapa Solos disponibiliza mapas digitais para identificar os estoques de carbono orgânico acumulados na terra. Esses achados integram o mapa global de carbono orgânico do solo, iniciativa da Aliança Global pelo Solo, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

No final do ano passado, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), a empresa de pesquisa lançou a segunda edição dos documentos digitais reforçando o Programa Nacional de Solos no Brasil (PronaSolos), que tem como objetivo investigar a situação do solo brasileiro.

A chefe-geral da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça, conversou com a CropLife Brasil sobre a importância desse trabalho para auxiliar políticas públicas.

Como são elaborados os mapas de estoque de carbono no Brasil?

Os Mapas de Carbono Orgânico dos Solos Brasileiros, assim como os mapas de outros atributos dos solos, têm sido produzidos a partir dos anos 2000 por técnicas de mapeamento digital de solos (MDS). Para isso, são empregados dados obtidos no campo e laboratórios, informações ambientais relacionadas aos fatores de formação dos solos, como clima, relevo, vegetação e material de origem, associando-os a métodos matemáticos e estatísticos a partir de mais de 10 mil pontos amostrais, em ambiente geoespacial.

Antes do mapa definitivo, foram elaboradas três versões preliminares, durante quatro anos de trabalho da equipe liderada pelo pesquisador da Embrapa Solos, Gustavo Vasques, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

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Por que é importante termos essa “radiografia” do solo e como esses levantamentos contribuem para o programa PronaSolos?

Os solos têm um papel crucial na produção de alimentos, fibras e energia, bem como na mitigação das mudanças climáticas, e os mapas ilustram o conhecimento do país nesse tema. De acordo com dados da FAO, o Brasil ocupa o primeiro lugar entre os 15 países que detêm o maior potencial para estocar carbono no mundo, e investir em estudos do solo é fundamental para as políticas de descarbonização da agricultura brasileira.

Os novos mapas são uma linha de base para sabermos o que temos de carbono estocado nos solos e permitem identificar áreas degradadas, quando a matéria orgânica não está mais presente, áreas com grande estoque de carbono, mas alta vulnerabilidades às mudanças climáticas, como as de mangue e solos orgânicos, além de gerar informações sobre o potencial de sequestro de carbono, entre outros usos.

A importância dos solos agrícolas para a mitigação das mudanças climáticas se deve ao fato de que funcionam, ao mesmo tempo, como fonte e sumidouro de carbono. Quando mal manejados, emitem COpara a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, por ser um dos Gases de Efeito Estufa (GEEs). Mas o seu papel mais importante como sumidouro é sequestrar o carbono da atmosfera e estabilizá-lo na matéria orgânica do solo.

Com os novos mapas, é possível diferenciar áreas com maiores e menores estoques de carbono, auxiliando o Brasil a cumprir os compromissos que assumiu na agenda global de redução de emissões de GEEs. Com o avanço do PronaSolos, espera-se obter mais dados sobre o carbono orgânico dos solos brasileiros e gerar novos mapas em escalas mais detalhadas que permitam o planejamento e ações em municípios e bacias hidrográficas.

Cabe aos gestores e tomadores de decisão gerar políticas públicas que possam manter e aumentar a matéria orgânica contida nos solos. Esse é um passo muito importante para a descarbonização da agricultura do país. No Brasil, estabelecer uma governança corporativa e trazer o solo para a agenda global são resultados de um esforço de mais de duas décadas, em que a Embrapa Solos tem participado ativamente, tanto nacional como internacionalmente.

No Brasil, há duas versões dos mapas de estoque de carbono – 2017 e 2021. Pode apontar a principal mudança no período?

O Mapa de Estoque de Carbono Orgânico de 2017, parte do Mapa Global lançado pela FAO, aborda o estoque de carbono nos primeiros 30 centímetros dos solos brasileiros. O mapa de 2021 apresenta os estoques de carbono em diferentes profundidades (0-5 cm, 5-15, 15-30, 30-60, 60-100 e 100-200 cm), indo até 2 metros e com um quilômetro de resolução espacial, que corresponde a uma escala de 1:100.000 até 1:250.000.

Cada uma dessas camadas tem significado e importância variável para entender o conteúdo e a dinâmica do carbono orgânico no solo. As camadas superficiais estão fortemente relacionadas ao uso e manejo dos solos, as intermediárias até 1 m de profundidade refletem as interações com as raízes das plantas e o armazenamento mais duradouro do carbono, e as camadas mais profundas estão relacionadas com o intemperismo do material de origem e com o carbono estocado há muito tempo e favorecido pela atividade dos organismos do solo e raízes profundas.

O estoque total de 36 bilhões de toneladas de carbono orgânico, que corresponde a 5% do estoque global, é bastante similar entre as duas versões do mapa (2017 e 2021), o que demonstra a eficiência do método. Uma de suas informações mais importantes é o estoque total de carbono do solo a 0-30 cm do Brasil, que seria 36,3 Pg, sendo que 1 Pg (petagrama) = 1 bilhão de toneladas.

Quais são as regiões do país com maior e menor quantidade de estoque de carbono e quais as causas dessas diferenças?

Observando os mapas, é possível ver que o Sul e a Amazônia possuem maior quantidade de carbono. No Sul, existe um grande bolsão com altos estoques de carbono nas serras, com solos formados por materiais mais ricos, como o basalto, em locais planos de altitude. Esse ambiente propicia o acúmulo de matéria orgânica, porque a degradação é mais lenta por causa do frio, e ao mesmo tempo existe uma grande produção de massa vegetal.

Já na Amazônia, a produção de massa vegetal e a produtividade primária são muito grandes. Apesar do clima quente, do excesso de chuvas e da baixa fertilidade dos solos, a ciclagem de nutrientes é intensa, promovendo o acúmulo de carbono no solo.  Na região do Pantanal, onde as áreas são mais arenosas, mesmo tendo muita água disponível e solos alagados, esses locais acumulam pouco carbono, dificultando a retenção.

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