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Irrigação: importante aliada da segurança alimentar

Água é um recurso essencial para a produção de alimentos. No Brasil, quase 90% das lavouras ainda são irrigadas unicamente pela chuva. Mesmo assim, lavouras e rebanhos são responsáveis pelo consumo de mais da metade da água captada no país. Esse número, no entanto, precisa ser relativizado. É que boa parte da água empregada na agricultura retorna para a natureza através da evaporação ou da penetração no lençol freático.

Para assegurar os múltiplos usos de água (abastecimento, agricultura, indústria, pesca e geração de energia, entre outros), o Brasil conta com leis e sistemas de monitoramento.

Para retirar grandes quantidades de água de rios, nascentes e até para a abertura de poços, por exemplo, é necessário obter a outorga de direito de uso.  A outorga é concedida pelos órgãos ambientais estaduais ou da federação, no caso de lagos, rios e outros cursos de água que passam por mais de um estado ou que sirvam de fronteira com outros países. Grandes obras, como a construção de hidrelétricas, barragens e perímetros irrigados para agricultura ainda precisam do Certificado de Sustentabilidade.

Quem cuida da água disponível no Brasil é a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que também fiscaliza os usos dos nossos recursos hídricos.

Desde 2017, a Agência elabora o “Atlas Irrigação: uso da água na agricultura irrigada”, publicação que traz dados atualizados sobre o setor.

Para entender melhor a quantas anda a agricultura irrigada no Brasil, a CLB conversou com o superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA Sérgio Ayrimoraes, e com o coordenador de Estudos Setoriais da agência, Thiago Fontenelle.

Thiago Fontenelle

Crédito: fotos por Raylton Alves

Confira a entrevista!

O que a irrigação representa para a produção agrícola no Brasil?

A irrigação agrega diversos benefícios à produção, tais como o aumento da produtividade, a melhoria da qualidade dos produtos, a redução de custos unitários, a atenuação dos impactos da variabilidade climática e a otimização de insumos e equipamentos. Pode estimular, ainda, o desenvolvimento regional e o aumento da renda.

A irrigação também é fundamental para o aumento e a estabilidade da oferta de alimentos e consequente aumento da segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Diversos alimentos da mesa do brasileiro são produzidos sob alto percentual de irrigação, como o arroz e os produtos da horticultura e da fruticultura.

Quais são as atividades na agropecuária que demandam maior quantidade de água?

A irrigação é responsável por cerca de 50% do total de água captado no Brasil e o abastecimento para os rebanhos, limpeza e manutenção das estruturas –  por 8,4%. De forma mais ampla, deve-se levar em conta ainda, que a maior parte do uso da água na indústria de transformação (que totaliza 9,7%) é destinado à agroindústria, no processamento dos produtos da agricultura e da pecuária.

Um dos pontos abordados no Atlas da Irrigação é a projeção do aumento da área irrigada em quase 75% até 2040. O que precisa ser feito para que esse aumento seja feito com sustentabilidade?

Para que a expansão ocorra com segurança hídrica é preciso monitoramento, planejamento e gestão – o que envolve diferentes atores e instrumentos, desde a escala federal com os responsáveis pelas políticas agrícola e de irrigação (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)) até os estados, o Distrito Federal e os municípios.

Na esfera dos recursos hídricos, a ANA tem monitorado a atividade por meio do Atlas Irrigação e aplicado esse conhecimento no aprimoramento de instrumentos de gestão, como a outorga de direito de uso de recursos hídricos (autorização para o uso da água), os planos de recursos hídricos e a cobrança pelo uso da água. O caminho da segurança hídrica exige integração de esforços, regulamentação da Política Nacional de Irrigação, reforço das instituições responsáveis pelo setor e aprimoramento de outros instrumentos legais.

Como a agricultura 4.0 pode contribuir para o uso adequado da água?

Tecnologias integradas que otimizem a produção e a gestão agrícola possuem enorme potencial para contribuir com o uso adequado da água. É importante avaliar o pacote tecnológico para cada produtor ou grupo de produtores, entendendo as diferentes realidades e escalas de produção no nosso país.

Há desde produtores preparados para a agricultura 4.0 até os que ainda precisam de assistência técnica básica e formação progressiva no manejo da irrigação.

Os sistemas de irrigação usados no Brasil são eficientes?

Sempre há espaço para melhorias, mas o produtor tem sido cada vez mais eficiente, até porque desperdiçar água é desperdiçar energia e outros insumos, o que penaliza a competitividade do produtor e fere as boas práticas cada vez mais requeridas pelo mercado.

Existem vários sistemas de irrigação. O Brasil pode priorizar algum deles para trazer mais eficiência e evitar desperdícios?

Não existe um método ou sistema de irrigação ideal a priori. A irrigação superficial exige menos investimento e apresenta menos tecnologia atrelada, mas um terreno com alta taxa de infiltração e maior declividade não é favorável a esse método, mas pode ser propício à aspersão que, por sua vez, não será adequada para regiões com ventos fortes. O gotejamento tem altas eficiências, mas não é ideal para muitas culturas temporárias e exige maior investimento e boa qualidade da água. Ou seja, a seleção do método e do sistema para determinado local passam por uma avaliação integrada de componentes socioeconômicos e ambientais. Obviamente que, quando mais de um sistema é adequado para determinada realidade, deve-se priorizar o mais eficiente.

Como alinhar a ciência na preservação do uso da água na agricultura?

Com diálogo e parcerias. A ANA, por exemplo, atuou com instituições de referência e universidades nas pesquisas que subsidiaram o Atlas Irrigação, como a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade de São Paulo (ESALQ/USP).

Num país continental, como o Brasil, quais são as dificuldades enfrentadas pela ANA na gestão da água?

A maior dificuldade é justamente a sua diversidade, que se reflete em uma distribuição heterogênea dos recursos hídricos e dos diferentes usos da água no território. Por outro lado, essa diversidade, resultada da dimensão continental do País, é o que torna a missão da ANA desafiadora e estratégica para garantir segurança hídrica para a população e para o desenvolvimento sustentável do Brasil.

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