Estudo mostra os impactos econômicos do não controle de pragas nas lavouras
Pragas e doenças na agricultura podem resultar em queda no volume de produção, em prejuízos à qualidade dos produtos, além de levar à morte plantas e até destruir cultivos inteiros. Dessa forma, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), realizou uma série de estudos que comprovam os danos causados pelo não controle de pragas nas plantações.
O estudo da CEPEA sobre o não controle de pragas
Dividido em três relatórios, o objetivo da pesquisa foi apurar os gastos dos produtores com a utilização dos defensivos agrícolas. Além disso, a pesquisa verificou o impacto econômico que o não controle de pragas traz para os agricultores e para o país.
O trabalho avaliou os impactos econômicos gerados pelas principais pragas que atacam as plantações de soja, milho e algodão no Brasil. Essas plantações respondem por cerca de 86% da área plantada com grãos e cereais, 35% das exportações do agronegócio e 16% dos empregos na agricultura brasileira.
Com base em resultados de pesquisas agrícolas de eficácia de controle, foram consideradas perdas médias de produtividade, com variação de 9,5% a 40%, de acordo com o tipo de praga analisada e que não foi devidamente controlada. É comum associar os danos causados pelas pragas aos prejuízos dos agricultores.
O não controle de pragas no caso da soja
Além de ser grande geradora de divisas, a soja é matéria-prima para muitos produtos que são consumidos pelos brasileiros em seu dia a dia. Entre os diferentes segmentos, cabe citar aqueles relacionados a produtos integrais e/ou alimentos protéicos.
Além disso, vale citar os co-produtos, como farelo e óleo que acabam sendo utilizados na indústria de biodiesel e na alimentação humana (óleos, proteína isolada, farinha e granulados) e animal (como ingrediente da ração em diferentes segmentos). Após passar pelo processo de esmagamento, o grão gera dois co-produtos principais, o óleo e o farelo.
No processo de refino do óleo bruto, obtém-se o óleo refinado – lecitina e ácidos graxos, que são usados para a fabricação de alimentos, medicamentos, produtos de limpeza e de beleza.
Há também a importante indústria de biodiesel, que tem elevado significativamente a demanda por óleo bruto de soja nos últimos anos. O farelo, cru ou tostado, pode se transformar em farinha e granulado, para usos comestíveis ou industriais.
A proteína isolada tem também usos comestíveis e industriais, que vão desde a produção de aditivos para alimentos a adesivos. Entretanto, o principal destino do farelo de soja é para produção de ração destinada à alimentação do gado, aves, suínos, peixes e animais domésticos.
Alguns números
Vale lembrar que a soja é uma das culturas mais relevantes para a economia brasileira. Na safra 2018/19, foram colhidas 113,8 milhões de toneladas, segundo a Conab. Além de atender ao mercado doméstico, a oleaginosa é exportada na forma de grão, óleo e farelo.
Em 2018, o Brasil exportou mais de 83,6 milhões de toneladas de soja em grãos, de acordo com dados da Secex, gerando receita de aproximadamente US$ 41 bilhões. Esse montante, por sua vez, foi responsável por quase 40% do faturamento externo com o agronegócio brasileiro e 17% das exportações totais do país.
Somente para o controle da ferrugem asiática da soja, principal doença da cultura, os produtores investem diretamente R$ 5,75 bilhões anualmente. Porém, sem o controle adequado, a doença alcançaria patamares alarmantes, chegando a reduzir 30% da produtividade.
Isso significaria a necessidade de mais de R$ 30 bilhões em investimentos adicionais para compensar a perda – seja com o plantio de novas áreas ou com o aumento dos preços internos, que precisam ser ajustados em 22,9%.
O não controle de pragas no caso do milho
Inicialmente, foi estruturado o desenho do Sistema Agroindustrial do Milho, identificando as etapas de produção agrícola e usos agroindustriais de milho e seus coprodutos e derivados, caracterizando as ramificações das transações entre elos das (agro)indústrias consumidoras que utilizam o cereal como insumo.
Por meio da aquisição de máquinas e equipamentos, sementes, defensivos e fertilizantes, combustível, serviços e mão de obra, há a produção agrícola. O produto é, então, colhido e encaminhado para a unidade de beneficiamento e armazenamento.
As rações e farelo, responsáveis por cerca de 2/3 do consumo interno, são direcionadas à produção animal (gado de corte, gado de leite, aves de corte, aves de postura, suínos e aquicultura – peixes e camarões).
Os resultados mostraram que as magnitudes dos impactos acumulados tendem a ser maiores nas seguintes ocasiões:
- Quanto mais representativo for o milho nas estruturas de custos das diferentes cadeias produtivas;
- Quanto menos concentrado for o segmento produtivo consumidor de milho;
- Quanto menor for o uso de contratos a termo para garantia de oferta da matéria-prima.
Choques de preços de milho tendem a impactar de forma mais expressiva, no varejo, os preços do fubá, leite, farinha de milho e carnes de suínos e de frangos e ovos.
Perdas agrícolas causadas pelo não controle de pragas e doenças na cultura do milho trariam impactos relevantes nos aumentos dos preços disponíveis aos consumidores, penalizando toda a sociedade com maiores taxas de inflação de alimentos.
Claramente, o desempenho das safras agrícolas impacta toda a sociedade, via acesso a alimentos para a população, em termos de preços, principalmente às categorias de renda mais baixa, para as quais os alimentos respondem pela maior parcela de seu orçamento familiar.
Diante de todos esses números, lembramos que os alimentos são o principal componente da cesta básica do cidadão brasileiro. Isso quer dizer que, aumentar o preço dos insumos alimentícios significa, na prática, penalizar os cidadãos de menor poder aquisitivo, pois boa parte da renda é comprometida com itens básicos para sobrevivência, sem margem de corte de itens supérfluos do orçamento familiar.
É por essa razão que a produção agrícola moderna, com a adoção de insumos próprios para se obter melhor produtividade, traz benefícios ambientais reais pela redução na quantidade de terras aráveis e outros recursos naturais utilizados, bem como benefícios sociais para a distribuição de alimentos a preços justos.
Confira na íntegra os relatórios: