Solo: sua conservação é essencial para a produção de alimentos
Práticas agrícolas têm auxiliado produtores rurais de Santa Cantarina a produzirem sempre atentos à saúde do solo
Comemoramos no último 15 de abril o Dia da Conservação do Solo. Importante para não esquecermos o quanto esse recurso é essencial para a agropecuária. Afinal, ele fornece nutrientes às plantas, contribui para a filtragem da água e é um grande reservatório de carbono.
O produtor Gelson Giombelli, de Descanso, Santa Catarina, sabe bem a importância da terra. Aos 47 anos, segue a tradição da família de viver da agricultura produzindo milho, soja e trigo numa área com em torno de 80 hectares. Há mais de 20 anos segue à risca o sistema de plantio direto na lavoura e nunca deixa a terra descoberta após as colheitas, protegendo o solo com adubação verde. Giombelli conta que a preservação do solo é primordial para o sucesso no campo.
“Só vejo vantagens com as técnicas aplicadas, melhorando a fertilidade do solo, evitando erosão, mantendo a temperatura adequada, sem a incidência alta dos raios solares, e também fazendo a reciclagem de nutrientes necessários pra terra.”
Gelson Giombelli, produtos de milho, soja e trigo em Descanso, Santa Catarina
A extensionista rural e coordenadora do programa Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) Juliane Garcia Knapik Justen é uma das responsáveis por disseminar técnicas conservacionistas no estado.
De acordo com ela, o solo sofre com a degradação, causada principalmente pela erosão, a compactação e o declínio da fertilidade, resultando na perda da produtividade da terra e na diminuição dos teores de matéria orgânica. Com isso, geram-se impactos negativos sobre a biodiversidade, a disponibilidade de água, a segurança alimentar e os serviços ecossistêmicos.
Para a agricultura, Juliane aponta que é de fundamental importância que a água infiltre no solo para que este seja capaz de armazenar o recurso natural.
Solo úmido em decorrência da palhada, camada que protege o solo e diminui a evaporação da água
“O melhor caminho é o planejamento do uso da terra e da utilização de técnicas conservacionistas integradas com o uso racional dos recursos naturais. Tudo isso em sintonia com os ciclos da água, de carbono e de nutrientes. As estratégias de manejo são indispensáveis para evitar as perdas excessivas pela temida erosão e aumentar a infiltração das águas das chuvas, garantindo suprimento do uso da água para as culturas e o abastecimento do lençol freático”, explica a coordenadora.
Como conservar o solo?
Entre as técnicas conservacionistas, os profissionais destacam:
- Sistema plantio direto: mobilizando o solo o mínimo possível e mantendo-o permanentemente com cobertura viva (plantas) ou morta (palha) com diversificação de espécies através da sucessão, rotação e consorciação de culturas.
- Adubação verde: uso de plantas capazes de reciclar os nutrientes presentes em camadas profundas do solo ou na atmosfera, tornando o solo mais fértil e mais produtivo.
Área com adubação verde
- Cultivo em contorno, em faixas e o terraceamento: aumentam a retenção de água de escoamento superficial (enxurrada), provocam a infiltração e aumento da quantidade de água disponível para as plantas. Os terraços são construídos em nível, de modo a concentrar toda a água da chuva dentro da lavoura.
- Sistemas integrados de produção: sistemas de produção com grande diversidade de culturas, com integração pecuária (integração lavoura-pecuária) e integração com culturas perenes (agroflorestais).
- Proteção de áreas de nascentes, córregos e rios: a proteção pode iniciar com isolamento da área e favorecimento de crescimento de vegetação. A técnica funciona como uma barreira física, segurando os sedimentos que podem assorear os corpos hídricos, e um filtro para impedir a poluição das águas.
Desde 2019, a Epagri, em conjunto com a Secretaria da Agricultura do Estado, fornece aos agricultores o kit solo saudável. É uma política pública para estimular e facilitar o acesso dos agricultores a sementes de, pelo menos, duas espécies de plantas para adubação verde. Caso seja necessário, os produtores também podem adquirir insumos, sejam fertilizantes químicos ou orgânicos, para promover o melhoramento do solo e da produtividade nas propriedades rurais.
O produtor Juarez Penz, da cidade de Lontras, há 30 anos está no campo e já fez parte do programa kit saudável. Utiliza o sistema de plantio direto nas lavouras de cebola e milho e está iniciando também com as verduras. Desde que ele começou as práticas conservacionistas no solo, não teve mais problemas nas áreas de plantação.
“As terras estão ótimas! Como os terrenos são íngremes, a terra ia embora com as chuvas.
Hoje não me preocupo mais, porque o solo está protegido.”Juarez Penz, produtor de cebola, milho e verduras em Lontras, Santa Catarina
A coordenadora ambiental Juliane Knapik diz que “o desafio é produzir conservando e conservar produzindo, em que a ferramenta fundamental é o manejo adequado do solo e da água”.
“Ações voltadas a conservar o solo e a água visam promover agricultura sustentável, aumentar a oferta de alimentos e ainda melhoram os níveis de emprego e renda no meio rural.”
Juliane Garcia Knapik Justen, extensionista rural e coordenadora do programa Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)
“Gostaria que os produtores pensassem nessa ideia de conservação porque nosso bem maior é a família, depois vem o solo, do qual tiramos tudo para a nossa vida”, enfatizou o produtor Gelson Giombelli.