Como a bioeconomia se relaciona com a produção agrícola?
Entenda como a bioeconomia pode viabilizar uma agricultura cada vez mais produtiva e sustentável
Os desafios que a agricultura vem enfrentando neste século estão intimamente ligados à necessidade de se adotar os conceitos de bioeconomia na produção agrícola. A demanda global por alimentos devido ao crescimento populacional e às questões associadas à segurança alimentar é um desses desafios, que seria praticamente impossível de ser enfrentado sem a utilização renovável de produtos, possibilitando a preservação dos recursos naturais, que são finitos.
Restrições às tecnologias agrícolas intensificam os problemas de segurança alimentar
E não para por aí. Além da necessidade de mais alimentos para maior número de pessoas, nos próximos anos a situação tende a ser agravada devido aos problemas relacionados ao aquecimento global. Contudo, existe a necessidade de utilização de medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
São urgências que aumentam a pressão sobre o setor agropecuário para fornecer alimentos, fibras e energia a partir de recursos naturais que estão cada vez mais escassos, mas que devem ser utilizados sem afetar negativamente o meio ambiente.
Para enfrentar esses desafios de maneira sustentável são necessárias a utilização e desenvolvimento de tecnologias inovadoras e melhorias de práticas existentes que possam levar a novos produtos, além de esforços para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE).
Quer saber mais sobre esse assunto? Continue lendo e fique por dentro de como a visão de uma bioeconomia pode ser parte fundamental na solução desses desafios.
A bioeconomia está presente na agricultura brasileira desde a década de 70
Primeiramente, vamos relembrar os conceitos de bioeconomia e sua importância para o bem-estar da humanidade. De maneira ampla, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define bioeconomia como um conjunto de atividades econômicas relacionadas à invenção, desenvolvimento, produção e uso de produtos e processos biológicos. Ou seja, geração de renda a partir de recursos biológicos por meio de tecnologia e inovação, mas sempre pensando em sustentabilidade.
Biotecnologia pode gerar plantas mais resilientes às mudanças climáticas
Segundo a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), a bioeconomia engloba toda a cadeia de valor que é orientada pelo conhecimento científico avançado e busca por inovações tecnológicas na aplicação de recursos biológicos e renováveis em processos industriais para gerar atividade econômica circular e benefício social e ambiental coletivo.
Levando em conta esses conceitos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) aponta como um dos objetivos da bioeconomia, oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. Assim, de acordo com a instituição, a bioeconomia se faz presente no Brasil desde a década de 1970, quando foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Uma iniciativa que ajudou o país a enfrentar a crise mundial do petróleo, tornando-o o maior exportador mundial de etanol e segundo maior produtor.
Não é apenas na bioenergia que a bioeconomia está presente
A bioeconomia também envolve a produção de plásticos biodegradáveis, biopesticidas, pigmentos, alimentos funcionais e biofortificados até medicamentos, fragrâncias e cosméticos. E ainda, com os avanços da biologia sintética e a enorme riqueza natural brasileira, a tendência é que surjam cada vez mais biofármacos, bioinsumos e bioprodutos.
Bioinsumos, cruciais para a autonomia do Brasil na nutrição de plantas
De modo geral, as estratégias de bioeconomia buscam ajudar a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), como um caminho de crescimento econômico que usa recursos naturais de forma sustentável como um objetivo principal.
O setor agropecuário brasileiro apresenta oportunidades no contexto da bioeconomia
Investir em um modelo econômico baseado no uso sustentável de recursos naturais é imprescindível para um país tão biodiverso como o Brasil. Na agricultura, por exemplo, a bioeconomia tem potencial de buscar soluções inovadoras e sustentáveis. A fim de produzir alimentos, fibras e energia, e explorar seus recursos de forma racional. A tendência é que essas inovações assegurem ao mesmo tempo a biodiversidade e a proteção ambiental.
Um estudo da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) considera o papel da biotecnologia, sob a perspectiva dos múltiplos usos da biomassa – energia, alimentos e materiais – no contexto de transição energética e necessidade de desenvolvimento de uma bioeconomia para a descarbonização do Brasil.
Na Embrapa, Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação em bioeconomia estão alinhadas aos projetos e desafios para inovação em biotecnologia avançada aplicada ao agronegócio por meio de utilização de técnicas inovadores de melhoramento genético, bioinsumos, nanotecnologia e melhor aproveitamento da biomassa.
Bioeconomia, empregando soluções disruptivas para uma sociedade sustentável
De acordo com a instituição, temas como biotecnologia (com destaque para a edição genética), intensificação sustentável (sobretudo os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta – iLPF), tecnologias digitais (com predominância do uso de drones, sensores, internet das coisas – IoT, inteligência artificial e blockchain) e bioeconomia (com destaque para insumos biológicos) são as tendências para o futuro da agricultura brasileira.
Como exemplo disso, um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre mudanças climáticas, defende a ideia de uma Amazônia 4.0. Por meio do uso de drones, energia solar, nanotecnologia e blockchain para promover o desenvolvimento da região. Hoje, o pesquisador lidera o programa Terceira via Amazônica – Amazônia 4.0. Juntamente com outros membros do Grupo de Pesquisa Amazônia em Transformação, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA).
De acordo com o IEA, a iniciativa busca promover novas oportunidades de pesquisa, tecnologia e aprendizado para valorizar e proteger os ecossistemas amazônicos. Além de servir igualmente aos interesses das populações locais, povos indígenas e tradicionais, que são seus mantenedores.
Capacitação sobre o tema é oferecido pela EMBRAPA
Além dos seus projetos de pesquisa, a EMBRAPA oferece cursos online de capacitação de forma gratuita. A fim de que o público possa reconhecer ainda mais a importância e o potencial da Bioeconomia para o Brasil. Um deles possui como tema “Bioeconomia – uma visão geral sobre a economia de base biológica” voltado para empresas, docentes, estudantes, técnicos e profissionais, com carga horária de 15 horas.
Outro curso nessa área oferecido pela mesma instituição é “Bioeconomia para o Bioma Caatinga”. O objetivo da capacitação é apresentar conceitos e casos de inovações, produtos, mercados e políticas públicas relacionados ao tema. O público alvo são estudantes, produtores rurais, técnicos e extensionistas. O curso também é ofertado de forma contínua, com carga horária de 6 horas e três módulos de conteúdo. A abordagem vai desde conceitos básicos e reflexões sobre o tema até metodologias de assessoria técnica e políticas públicas e crédito rural voltadas para fortalecimento da sociobiodiversidade na Caatinga.
Principais fontes:
Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI). Identificação das Oportunidades e o Potencial do Impacto da Bioeconomia para a Descarbonização do Brasil. Disponível em: https://abbi.org.br/wp-content/uploads/2022/06/Bioeconomia_Descarbonizacao_Nov2022_Final2.pdf Acesso em: 12 abr. de 2023.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Bioeconomia. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-bioeconomia/sobre-o-tema Acesso em: 12 abr. de 2023.
Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). BIO-ECONOMY AND THE SUSTAINABILITY OF THE AGRICULTURE AND FOOD SYSTEM: OPPORTUNITIES AND POLICY CHALLENGES. COM/TAD/CA/ENV/EPOC (2018)15/FINAL. Disponível em: https://www.oecd.org/officialdocuments/publicdisplaydocumentpdf/?cote=COM/TAD/CA/ENV/EPOC(2018)15/FINAL&docLanguage=En Acesso em: 10 abr. de 2023.