Home Notícias Banco genético: tecnologia fundamental para a preservação do setor agrícola brasileiro
Notícias

Banco genético: tecnologia fundamental para a preservação do setor agrícola brasileiro

Considerando toda a biodiversidade do planeta, uma pequena fração de animais e vegetais são utilizadas e exploradas pelo homem. 

A EMBRAPA é a responsável no Brasil por guardar e conservar uma enorme quantidade de recursos genéticos. Esses recursos estão conservados na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. 

De forma coloquial, podemos dizer que um banco de germoplasma é uma grande “coleção” de sementes, plantas ou animais. Mesmo que esses não tenham valor econômico, são extremamente importantes porque guardam características singulares que podem ser usadas de diversas formas. 

Estes recursos são fundamentais para a garantia da segurança alimentar da população e para a sustentabilidade e competitividade da agropecuária brasileira.

Em resumo: o banco fornece matéria-prima para o desenvolvimento, por exemplo, de novas cultivares de produtos biológicos para combater pragas e doenças na lavoura e para o melhoramento de raças animais.

A história do Banco Genético da Embrapa começou na década de 1970 com a implantação das primeiras câmaras para armazenamento de sementes. Com o avanço da tecnologia, hoje, o banco possui milhares de amostras vegetais, animais e de microrganismos. 

Com um investimento de R$ 12 milhões, a unidade também gerencia outros bancos de germoplasma, em várias regiões do Brasil, que conservam cerca de 250 mil amostras. 

Bancos de germoplasma: ferramenta essencial para a conservação da biodiversidade do planeta

Saiba mais

Como dizem os pesquisadores, estes materiais são cópias de segurança, um backup da biodiversidade, essencial para a vida.

A CropLife Brasil entrevistou o supervisor do Banco Genético da Embrapa, Juliano Gomes Pádua. Confira os detalhes:

1) Como os recursos genéticos são armazenados?

Na parte de sementes, atualmente, ocupamos duas câmaras de conservação que abrigam mais de 140 mil amostras. Estas câmaras estão operando com 60% de sua capacidade. Há, também, duas câmaras já instaladas, além de espaço para construção de outras duas. Essa estratégia também foi utilizada para a conservação in vitro (mantida em laboratório), que possui duas câmaras de conservação, a 10 e 20 °C, com capacidade para mais de 10 mil amostras. 

Para a criopreservação (técnica que usa congelamento a uma temperatura de -196ºC em nitrogênio líquido), há espaço para a instalação de 24 criotanques para a conservação de germoplasma animal, microbiano e vegetal. Atualmente, o Banco Genético possui cinco criotanques.

O Banco está estruturado para conservar germoplasma vegetal na forma de sementes, plântulas in vitro, ápices caulinares, gemas laterais e meristemas (células que se dividem para formar outras células necessárias para o crescimento da planta) e embriões zigóticos. 

Os recursos genéticos animais são conservados, basicamente, através de sêmen e embriões. Já os microbianos podem ser armazenados liofilizados, ou seja, secos, em placas de Petri (vidro ou plástico achatado usado em laboratórios), mantidos refrigerados ou criopreservados.

2) Qual a importância da conservação de todo esse material?

A maioria das espécies que faz parte da rotina alimentar do brasileiro não é de origem nacional, como arroz, feijão, alface e tomate. As carnes mais comuns como a bovina, de porco e galinhas também não são do país, o que nos torna extremamente dependentes de recursos genéticos exóticos, isto é, de outros países. 

Assim, manter grandes coleções que conservam a variabilidade genética de um produto, é fundamental para a sustentabilidade da agricultura. Por isso, esses bancos, apesar de não serem do sistema monetário, conservam uma riqueza imensurável. Sem tais recursos disponíveis no Brasil, não teríamos tido os avanços na área agrícola obtidos através da pesquisa. Ficaríamos restritos a uma pequena variedade de alimentos a um custo mais alto.

3) Atualmente, qual é a quantidade de recurso genético conservada?

O Banco Genético recebe amostras dos bancos e coleções das unidades da Embrapa, espalhadas pelo Brasil e, também, de alguns parceiros dentro e fora do país. 

Para cada amostra diferente de uma mesma espécie, damos o nome de acesso. Assim, em relação às plantas, temos hoje conservadas quase 115 mil acessos de 1.077 espécies diferentes na forma de sementes e cerca de 1.200 acessos de plântulas conservadas in vitro

Na área animal, temos amostras de mais de 17 mil animais de 22 espécies diferentes. De microrganismos, temos cerca de 7.000 linhagens conservadas. 

4) Como a seleção do material é realizada?

As amostras são inicialmente recebidas, conferidas e encaminhadas para realização de um tratamento de fumigação (realizado com compostos químicos) para prevenir a entrada de pragas e evitar danos às sementes. Esse procedimento é feito pela exposição das sementes à fosfina (fosfeto de alumínio). O fluxo de recebimento é constante. Os bancos, conforme necessidade e capacidade, recebem ou coletam novas amostras e, posteriormente, enviam para o Banco Genético que funciona como uma central.

Ocasionalmente, são recebidas amostras diretamente do exterior e, nesse caso, são submetidas ao setor de Quarentena para análises que visam detectar a presença de plantas infestantes e parasitas, insetos, ácaros, vírus, viróides, fitoplasmas, fungos, bactérias e nematóides, prioritariamente daquelas que constam nas listas de pragas quarentenárias ausentes e de pragas quarentenárias presentes para o Brasil, definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Essa etapa é de fundamental importância para evitar a entrada de pragas exóticas no território nacional.  

Além do nosso interesse, há também o interesse de outros países em manter cópias de suas amostras no Banco Genético. Nós conservamos uma parte da coleção de feijão do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), da Colômbia, e toda a coleção de batata do Centro Internacional da Batata (CIP), do Peru.

O Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário mundial da conservação e uso dos recursos genéticos, portanto existem amostras dos bancos e coleções brasileiras em vários países do mundo.

Pelos dados do Portal Genesys – que possui dados de vários bancos de germoplasma do mundo – há o registro de mais de 76 mil acessos brasileiros conservados em 35 países, mas esse número pode ser maior porque a base de dados não engloba todas as coleções do mundo.

Aviso de cookies
Usamos cookies para melhorar a experiência de nossos usuários em nosso site. Ao acessar nosso conteúdo, você aceita o uso de cookies como prevê nossa política de cookies.
Saiba Mais