A cana-de-açúcar e o mercado de energia no Brasil
Conheça o papel da cana-de-açúcar na produção de fontes de energia limpa e renovável
Você já deve ter se questionado como ficaria difícil, ou quase impossível, sobreviver sem o uso de energia nos dias de hoje. Mas a grande questão é que a maior parte da energia produzida no mundo vem de fontes não renováveis, como o carvão, petróleo e gás natural. Estas, além de serem fontes esgotáveis, são as maiores responsáveis pela emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera. E essa preocupação tem colocado em debate a necessidade de ajuste da matriz energética global.
Como fomos aprimorando nossa matriz energética?
Na busca por uma alternativa, motivada pela necessidade de redução da dependência de combustíveis fósseis, a produção de biocombustíveis é uma realidade no Brasil há mais de 30 anos. Foi com a introdução do etanol, produzido a partir da biomassa de cana-de-açúcar desde a década de 70, que nos tornamos hoje o país com maior experiência no setor de biocombustíveis do mundo.
Biocombustíveis, a agricultura como fonte de energia renovável
O etanol é considerado grande aliado do meio ambiente, por representar fonte de energia limpa e renovável. Pode ser usado puro (etanol hidratado) ou misturado à gasolina (etanol anidro). O que contribui significativamente para a melhoria da qualidade do ar com a redução das emissões de GEE.
Quer saber mais sobre esse assunto? Continue conosco e entenda como a cultura da cana-de-açúcar pode contribuir com o mercado de energia no país.
A importância da cana-de-açúcar na matriz energética do Brasil
A participação das fontes renováveis de energia no Brasil em 2020 foi de 48,4%, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Estamos muito à frente da média mundial, que utiliza cerca de 15% de fontes renováveis em sua matriz.
O Brasil utiliza muito mais fontes renováveis de energia do que o resto do mundo. Só os derivados da cana compõem 16,4% do total da matriz brasileira, que ainda apresenta outras fontes também renováveis como lenha e carvão vegetal, hidráulica, entre outras.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE – 2022) a contribuição do Brasil com uma matriz energética limpa e de baixo carbono, muito se deve ao uso dessas fontes de energia renováveis. Como resultado, as emissões GEE provenientes da geração e uso de energia são relativamente baixas em comparação aos países da OCDE.
O papel da bioenergia nas ações contra as mudanças climáticas
Os debates mundiais sobre as mudanças do clima se iniciaram em 2015, com o Acordo de Paris, onde os países se comprometeram a reduzir as emissões de carbono, um dos GEE, como forma de minimizar os problemas relacionados ao aquecimento global. Esse compromisso se mostrou mais desafiador quando em 2021, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Mudança Climática, a COP26, vários países se comprometeram a zerar o uso de carvão até 2040.
Biomassa: fonte de energia limpa e renovável
Conhecendo o papel fundamental que a bioenergia apresenta nessas ações, é possível compreender a importância da cultura da cana-de-açúcar para atender a esses desafios. Sendo o biocombustível com a menor pegada de carbono do mundo, o etanol tem representado um dos caminhos tecnológicos para uma nova era mais sustentável e promissora na contenção da crise climática e na prevenção de uma crise energética.
De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), desde o lançamento dos carros flex em 2003 a dezembro de 2021, o uso de etanol no Brasil evitou que mais de quase 600 milhões de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera. Um ganho ambiental gigantesco se fôssemos imaginar que ainda poderíamos estar totalmente dependentes de combustíveis fósseis.
Para alavancar ainda mais esse setor, em 2016 o governo federal brasileiro lançou um programa de descarbonização que ficou conhecido como RenovaBio. O programa reconhece o papel dos biocombustíveis na matriz energética nacional e contribui com a segurança energética do país, além da mitigação de emissões de GEE no setor de combustíveis.
RenovaBio: o maior programa de descarbonização do mundo
Os biocombustíveis, além de emitirem menor quantidade de GEE, são biodegradáveis, atóxicos e praticamente livres de enxofre e compostos aromáticos, sendo considerados também ecológicos.
Produção brasileira de etanol a partir da cana-de-açúcar
Somos o segundo maior produtor mundial de etanol, sendo os Estados Unidos o primeiro. A participação global do Brasil é de 27,5%, quase que totalmente a partir da cana-de-açúcar. Embora a produção de etanol a partir do milho também tenha avançado nas últimas safras. Em contrapartida, os Estados Unidos é responsável por 54,9% desse mercado tanto na produção como no consumo e na exportação.
Em 27 de dezembro de 2022, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) fez um levantamento referente a safra 2022/23 da cana-de-açúcar e estimou uma produção de 598,3 milhões de toneladas no Brasil, um crescimento de 4,5% sobre o levantamento anterior. Nesse cenário, a estimativa da produção de etanol a partir da cana é de 26,6 bilhões de litros, um panorama que tende a dobrar até 2032.
Essa informação também foi apontada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que mostra em seu relatório – Cenários de oferta de etanol e demanda de Ciclo Otto 2023-2032 – a importância do setor, o que pode contribuir para alcance de mais políticas públicas direcionadas ao mercado de biocombustíveis e ao atendimento dos compromissos internacionais do Brasil no âmbito do Acordo de Paris. Segundo o relatório, como resultado dessas projeções, verificou-se que os volumes da oferta de etanol em 2032 poderão variar entre 40,7 e 52,9 bilhões de litros.
O estudo também evidencia que a contribuição da biomassa de cana para o cenário energético nacional poderá se tornar ainda mais relevante, sendo importante um planejamento energético do país nos próximos anos.
Cana-de-açúcar transgênica é tecnologia e produtividade
Resíduos da cana também são aproveitados para a produção de energia
Os subprodutos da cana ainda podem ser aproveitados, otimizando ainda mais o potencial energético da cultura. As usinas de açúcar e etanol, por exemplo, utilizam a palhada e o bagaço da cana para alimentar as caldeiras. Produzindo assim, vapor de alta pressão, que uma vez expandido, faz com que as turbinas funcionem. Assim, a partir de um gerador, conseguem alimentar toda a fábrica com eletricidade e ainda distribuir o excedente.
Bioenergia é a agricultura indo além dos alimentos
Nesse sentido, a queima dessa biomassa gera a energia utilizada para aquecer a água, que passa por tubos dentro da própria caldeira. O aquecimento da água gera vapor, que é utilizado para movimentar turbinas, produzindo energia elétrica.
Semelhantemente, a palha e o bagaço da cana também são alternativas para produzir etanol de segunda geração. Essa produção, a partir da biomassa celulósica em escala comercial é focada nos resíduos da produção do etanol de primeira geração (produção a partir do melaço da cana), tornando um processo que deixa quase nulo os resíduos gerados.
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Cana-de-açúcar: mais de 500 anos sendo uma importante cultura para a economia brasileira
Principais fontes:
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/assuntos/renovabio. Acesso em 18 abr. de 2023.
Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA). Já são 60 os países que adotam mistura obrigatória nos combustíveis. Disponível em: http://www.apla.org.br/ja-sao-60-os-paises-que-adotam-mistura-obrigatoria-nos-combustiveis Acesso em 18 abr. de 2023.
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE – 2022). Disponível em: https://ccgi.fgv.br/sites/ccgi.fgv.br/files/u5/OCDE__SUSTENTABILIDADE%20E%20CRESCIMENTO%20VERDE___2022.pdf Acesso em 17 abr. de 2023.