Os desafios da agricultura nos debates sobre clima
Transição da agricultura e dos sistemas alimentares deverão estar na pauta das discussões da Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP28)
Todos os anos, desde 1994, a Conferência das Partes da Convenção (COP) convoca os países membros para definirem ambições, responsabilidades, e para identificar e avaliar medidas climáticas.
Sob o prisma da agropecuária, quando as mudanças climáticas estão na pauta, o setor é sempre envolvido. Primeiramente, porque os efeitos causados pelo aquecimento global afetam diretamente a produção agrícola. O que gera preocupação cada vez maior para os produtores rurais. Como consequência, as estratégias para se enfrentar os desafios são constantemente acessadas.
Afinal, o aumento das temperaturas médias do planeta, a irregularidade na distribuição das chuvas, assim como tempestades e geadas podem trazer consequências catastróficas no setor agrícola. Além disso, as alterações climáticas também dificultam o controle das pragas e doenças. De modo que as plantas fiquem mais suscetíveis e colocando a agricultura em risco.
Como a edição de genomas pode reduzir os impactos das mudanças climáticas?
Por outro lado, as discussões sobre esse tema também pautam a forma com que conduzimos a agricultura. Assim como sobre os efeitos que ela pode causar na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Além disso, a maneira como estruturamos nossos sistemas alimentares está muito associada aos caminhos seguidos pela produção agrícola no abastecimento da população crescente.
Diante dessa temática, quais seriam os pontos principais a serem discutidos na COP28? Muito se fala em transição da agricultura e dos sistemas alimentares, mas como ela deve ser feita? E como devemos nos posicionar diante dessas discussões?
Biotecnologia pode gerar plantas mais resilientes às mudanças climáticas
Quer saber mais? Continue lendo este texto e entenda como nossa agricultura está caminhando e contribuindo para ajudar a proteger o futuro do nosso planeta.
A COP 28 e os sistemas alimentares
A 28ª Conferência das Partes (COP28) Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) será nos Emirados Árabes, entre 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023. As temáticas se relacionam aos pilares do Acordo de Paris e como os setores se relacionam às questões climáticas. Além de pautas transversais que envolvem tecnologia e inovação, inclusão, comunidades de linha de frente e finanças.
Segundo Rodrigo C. A. Lima, sócio-diretor da Agroicone, a Conferência de Mudanças Climáticas de Bonn, que ocorreu de 5 a 15 de junho, na Alemanha, permitiu consolidar a visão de que os Emirados Árabes deverão ressaltar, na COP28, os desafios para promover a transição da agricultura e dos sistemas alimentares. Ao participar das reuniões da conferência na Alemanha, Rodrigo escreveu um artigo para o Broadcast Agro, da Agência Estado, sobre os desafios esperados para a COP28. E sobre as oportunidades para o Brasil se consolidar até a COP30 (Belém – Pará, 2025), como uma liderança que produz, conserva e contribui com as ações climáticas de agricultura e segurança alimentar.
Já temos tecnologias necessárias para uma produção agropecuária neutra em carbono na Mata Atlântica
Rodrigo questiona os debates nos eventos climáticos que apontam uma única solução a ser adotada por todos os países, como a agroecologia, por exemplo, quando se trata de produzir e ofertar alimentos.
“Não há que se falar em um modelo ou sistema produtivo que deva ser adotado por todos os países. Isso contraria condições climáticas, ocupação histórica da terra, colonização, culturas, evolução tecnológica, acesso a financiamento, dentre outros fatores”– Rodrigo Lima.
Assim, quando falamos em transição dos sistemas alimentares, devemos levar em consideração vários aspectos como a necessidade de alcance da segurança alimentar e segurança dos alimentos; das relações extremamente distintas que cada consumidor tem com os alimentos e com as cadeias produtivas; das dimensões de terras cultiváveis e das condições climáticas das diferentes regiões do mundo.
A transição para uma produção agrícola sustentável vai muito além das questões climáticas
Quando pensamos nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, entendemos que a inovação é a principal ferramenta. De fato, a inovação viabiliza a transformação de produtos, processos e serviços que causam impacto ambiental e social, ao mesmo tempo em que geram lucro e benefícios para o desenvolvimento de um setor. Isso significa promover uma economia que tenha como base energia renovável, produtos de base biológica e que atenda às necessidades das gerações presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras.
Restrições às tecnologias agrícolas intensificam os problemas de segurança alimentar
Na agricultura, a sustentabilidade está diretamente relacionada com o aumento da produtividade, adaptação e resiliência das culturas e redução das emissões de GEE. Para isso, é preciso considerar as condições climáticas de cada país, a ocupação e uso da terra, as espécies cultivadas, a evolução tecnológica, as políticas de incentivo, entre outros fatores.
Assim, na produção agropecuária de baixa emissão de carbono, contemplando a utilização de bioinsumos, de tecnologias para todos os sistemas produtivos, tanto para pequenos como para médios e grandes produtores, são exemplos de ações que podem ser adotadas na transição para uma agricultura sustentável.
Agricultura brasileira na liderança das ações climáticas
O Brasil possui uma agricultura que produz, conserva e contribui com as ações climáticas, ao mesmo tempo que promove a segurança alimentar. Aqui os produtores utilizam várias práticas que permitem produzir mais, mesmo enfrentando efeitos do aquecimento global como seca, irregularidades de chuvas, além de seguirem exigências ambientais bastante rigorosas, estabelecidas pelo Código Florestal Brasileiro.
Nas últimas COPs, o país já teve participação bem-sucedida e cada vez mais atuante na busca por uma agropecuária de baixa emissão de carbono, ao mostrar resultados do Plano ABC+. O programa inclui tecnologias como plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), uso de bioinsumos, irrigação, dentre outras tecnologias.
A biotecnologia e o alcance das metas climáticas
Na recuperação de pastagens degradadas, por exemplo, é possível produzir carne ao mesmo tempo em que se recupera solos, favorecendo sua fertilidade, conservando água e incrementando a captura de carbono. Já o sistema ILPF, une práticas de cultivos agrícolas com pecuária e florestas plantadas. Essa diversificação da produção em uma mesma área, reduz emissões de GEE, potencializando o processo de mitigação e adaptação.
Principais fontes:
Agroicone. Artigo/Rodrigo Lima: Transição da Agricultura e dos Sistemas Alimentares a Caminho da COP28. Disponível em: https://agroicone.com.br/wp-content/uploads/2023/06/Transicao-da-agricultura-e-dos-sistemas-alimentares-a-caminho-da-COP28.pdf Acesso em: 14 jul. de 2023.
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). CNA acompanha Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas. Disponível em: https://cnabrasil.org.br/noticias/cna-acompanha-conferencia-de-bonn-sobre-mudancas-climaticas Acesso em: 14 jul. de 2023.
United Nations. COP28. What’s COP? Disponível em: https://www.cop28.com/en/what-is-cop Acesso em: 13 jul. de 2023.