Bioinsumos, cruciais para a autonomia do Brasil na nutrição de plantas
Brasil encontra nos bioinsumos oportunidade para inovação no setor de fertilizantes.
A segurança alimentar é altamente dependente dos insumos agrícolas que auxiliam os agricultores a superarem os desafios associados à produção de alimentos. Com isso, pesquisadores e produtores rurais têm buscado tecnologias mais sustentáveis – de fonte renovável e com baixo impacto ambiental – como os bioinsumos, que reúnem soluções efetivas para o controle de pragas e doenças, proteção e nutrição das plantas.
Mais alimento é produzido com boa tecnologia
É pelo caminho do estudo das características das plantas e do ambiente que as cercam que são identificados “pontos críticos” que quando bem trabalhados podem resultar em grandes benefícios para todas as pessoas.
Por exemplo, sabemos que existem 17 nutrientes essenciais para o crescimento das plantas – alguns em maior quantidade como nitrogênio, fósforo e potássio, outros em menor quantidade. Quando esses são entregues na quantidade e frequência correta fazem com que as plantas sejam vigorosas já que plantas saudáveis não demandam tantas intervenções.
Com isso, o custo de produção cai e com ele diminui o preço dos produtos agrícolas. Esse conhecimento impactou na criação de uma tecnologia muito importante: os fertilizantes.
Sem a aplicação de fertilizantes no solo – após anos de cultivo numa mesma área – as plantas teriam cada vez mais dificuldade em completar o seu ciclo de vida e a produção agrícola diminuiria a cada ano. Inclusive, indo contra o crescimento populacional.
Nutrientes do solo são o alimento para as plantas
Uma vez que os fertilizantes repõem os nutrientes do solo, são necessários dentro de uma produção sustentável de alimentos, e poucas inovações transformaram a agricultura tanto quanto o nitrogênio sintético. Mas como a ciência sempre busca aprimoramento, não é porque um problema foi solucionado que não possam existir melhores formas de resolvê-lo.
Muito pelo contrário, diferentes tecnologias são sempre bem-vindas e devem fazer parte de uma caixa de ferramentas a serem entregues aos produtores. Afinal, é bastante natural que os sistemas biológicos se adaptem e demandem novas alternativas. É um fenômeno natural e que impõe desafios a quem produz.
Por isso, uma pesquisa agrícola contínua se faz necessária, para que em momentos de crise novas soluções estejam disponíveis.
Crise econômica e guerra na Ucrânia também pressionam o setor agrícola por novas tecnologias
A produção agrícola também é afetada por questões políticas. Estratégias malsucedidas de extrativismo – que levam a escassez de matéria prima – e guerras em países exportadores, resultam na elevação dos preços de importantes insumos. Fica mais caro produzir o alimento e isso será refletido no preço da comida. Algo que está acontecendo com o uso de fertilizantes no Brasil.
Para entender melhor o uso dos fertilizantes
A agricultura tropical realizada no Brasil permite o plantio de até duas safras no mesmo solo em 1 ano, com isso muito nutriente é retirado e precisa ser reposto. Cerca de 85% do fertilizante utilizado no Brasil é importado e a maior parte vem de países como China, Ucrânia e Rússia – países que, além da pandemia, estão enfrentando problemas com alta no preço da energia, guerra e outras questões políticas que interferem diretamente na produção de fertilizantes e consequentemente aumentam os preços dessa tecnologia.
Em outras palavras, para o Brasil, produzir alimento utilizando fertilizante como tecnologia para reposição de nutrientes está ficando muito caro e inviável. No entanto, essa situação tem impulsionado a adoção e desenvolvimento de outras tecnologias, como é o caso dos bioinsumos para nutrição de plantas.
Bioinsumos no radar dos agricultores
A alta no preço dos fertilizantes sintéticos tem feito com que os produtores brasileiros olhassem para outras tecnologias e a área que tem se sobressaído é a dos bioinsumos – conceito adotado oficialmente no Brasil com o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) em maio de 2020.
Fazem parte dos bioinsumos as tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana destinados ao uso na produção, no armazenamento e no beneficiamento em sistemas agrícolas, pecuários, florestais e aquáticos.
Dentro desse guarda-chuva dos bioinsumos existem oportunidades para desenvolvimento de tecnologias que podem complementar o uso de fertilizantes sintéticos – os biofertilizantes e bioestimulantes – levando à oferta de produtos alternativos aos sintéticos para se manter a produção agrícola.
Os bioestimulantes são responsáveis por potencializar os processos fisiológicos das plantas como a absorção de água e nutrientes e os biofertilizantes repõem nutrientes do solo. Essas tecnologias já demonstram ótimos resultados. Artigo publicado por Rocío Olmo, na revista Frontiers in Microbiology em julho de 2022 mostra que o Brasil já é o país do mundo com maior sucesso na utilização de bioinsumos para prover nitrogênio na cultura da soja – 80% da área plantada conta com essa tecnologia para reposição desse nutriente no solo.
No entanto, para que tecnologias como essa sejam desenvolvidas para repor outros nutrientes, como fósforo e o potássio – os mais importantes depois do nitrogênio – serão necessários investimentos na pesquisa de novos bioinsumos, para soja e outras culturas.
Nesse sentido, com a implementação do PNB, o governo brasileiro revela intenção de apoiar o desenvolvimento de bioinsumos no país. Além disso, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), podemos identificar centenas de pesquisadores trabalhando em cerca de 90 projetos relacionados ao tema.
Produtos biológicos ganham mais espaço na agricultura de baixo carbono
Com os bioinsumos no campo, todos ganham
O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do planeta, principal fonte para pesquisa e desenvolvimento de bioinsumos. Com isso, a oportunidade de se identificar novas soluções que poderão complementar o kit de insumos que levam à segurança alimentar com sustentabilidade, é grande.
Os bioinsumos são tecnologias renováveis, não são poluentes e favorecem a regeneração da biodiversidade no meio ambiente, principalmente do solo. Isso acontece, porque muitos dos bioinsumos introduzem microrganismos que além de fornecerem nutrientes para as plantas também protegem as raízes, oferecendo, uma barreira contra organismos causadores de doenças e que resultariam em danos à cultura e prejuízos aos produtores.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) os bioinsumos já trazem uma economia anual acima de 13 bilhões de dólares decorrente do uso do controle biológico e da fixação biológica de nitrogênio. Com base no estudo de caso apresentado por Olmo (2022) – Safra de soja 2019/2020 – foi estimado que 430 milhões de toneladas de CO2 equivalente deixam de ser lançados na atmosfera por conta do uso das bactérias fixadoras de nitrogênio na cultura da soja.
Dessa forma, os bioinsumos desenvolvidos no Brasil impactam positivamente a produção de alimentos. Eles fornecem nutrientes essenciais para as plantas, reduzem a dependência de insumos importados, o custo aos produtores e contribuem para a sustentabilidade da agricultura.
Principais fontes
EMBRAPA. Portifólio de insumos biológicos. Disponível em: https://www.embrapa.br/portfolio/insumos-biologicos. Acesso em: 02/09/2022.
FAO. Biofertilizers and other technologies available to address the fertilizer Crisis In The Latin American And Caribbean Region. Disponível em: https://www.fao.org/americas/eventos/ver/en/c/1513177/. Acesso em: 02/09/2022
Insper. bioinsumos: conceitos, potencial e desafios no brasil. Disponível em: https://www.insper.edu.br/noticias/bioinsumos-conceitos-potencial-e-desafios-no-brasil/?utm_source=newsletter&utm_medium=email_materias&utm_campaign=insperagro13. Acesso em: 02/09/2022.
Olmo, R., et al. Microbiome research as an effective driver of success stories in agrifood systems – a selection of case studies. Frontiers, 2022.
Ukragroconsult. “Brazil’s 2022/23 Crops are Saved” Declares Brazil’s Ag Minister. Disponível em: https://ukragroconsult.com/en/news/brazils-2022-23-crops-are-saved-declares-brazils-ag-minister/