Dia Mundial das Abelhas: polinizadores essenciais para a agricultura
Projeto no Paraná quer reintroduzir espécies nativas de abelhas em parques urbanos
As abelhas são fundamentais para a produção de diversas culturas. Ao buscar o néctar e o pólen nas flores, elas transferem os grãos de pólen de uma flor para outra, e isso traz uma série de benefícios no campo. Para você ter uma ideia, existem cultivos que apenas são possíveis por causa dessa troca entre as plantas, ou seja, esses polinizadores são essenciais para a produção de alimentos.
Em todo o mundo, são conhecidas 20 mil espécies de abelhas, mas a estimativa é que esse número chegue a 25 mil. No Brasil, são pelo menos duas mil espécies descritas, porém há uma previsão de que existam por aqui 2,5 mil.
De acordo com Cristiano Menezes, PhD em Entomologia e pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, culturas como maracujá, melão e maçã dependem 100% das abelhas.
“Se não tiver a polinização, a produção de maracujá, melão e maçã cai para praticamente zero ou, pelo menos, torna-se economicamente inviável.”
Cristiano Menezes, PhD em Entomologia e pesquisador da Embrapa Meio Ambiente
Solitárias ou sociais
A predominância no mundo é de abelhas solitárias, isto é, aquelas que não têm comportamento social, não formam colmeias e não produzem mel.
Uma curiosidade nesse grupo é que existe uma grande parte considerada parasita, o que significa que não fazem seu próprio ninho e se apropriam do espaço de outras abelhas. Para Cristiano Menezes, essa é uma informação interessante para desmistificar a história de que todas elas são trabalhadoras.
Então, ele explicou que as abelhas sociais – ou seja, aquelas que formam colmeia, têm o papel na formação de mel e têm o manejo mais facilitado – representam a minoria, menos de 5% das espécies ao redor do mundo.
Nesse sentido, uma das abelhas que mais chamam a atenção dos agricultores é a melífera ocidental (Apis mellifera), por ter uma colônia grande, voar longas distâncias e produzir mel. Ela tem ferrão e é considerada a mais conhecida e criada no mundo.
Foi introduzida no Brasil a partir da Europa e da África, por isso é chamada de africanizada ou europeia. De acordo com o IBGE, são mais de 2,5 milhões de colônias de Apis no país, e, em 2020, a produção de mel chegou a 51,5 mil toneladas.
No Brasil, dentro das 2 mil espécies, há cerca de 300 no grupo das abelhas sem ferrão – tribo Meliponini. Desse grupo, aproximadamente 60 consegue-se manejar, criar para a produção de mel e também para a agricultura.
Riscos de extinção de abelhas
De acordo com Cristiano Menezes, em relação à Apis melífera, há um crescimento no Brasil, aumentando a produção de mel a cada ano. Apesar disso, ele aponta que fatores como mudanças climáticas, desmatamento e intoxicação pelo uso de diversos produtos influenciam na conservação das abelhas. Para preservá-las, é necessário um processo de monitoramento constante sobre as populações de abelhas.
Em relação as abelhas nativas, existe um declínio da população em alguns lugares no mundo, mas falta informação para saber a real situação, tanto no Brasil quanto no exterior.
“A maioria dessas duas mil espécies no Brasil não são manejadas. Inclusive, 95% delas vivem nos ambientes naturais e dependem deles pra sobreviver. Na minha opinião, o único caminho pra preservar essas espécies sem ferrão é a proteção das áreas de habitat natural onde elas vivem – os parques, as unidades de conservação nacional, estadual e municipal”, destacou.
Parques urbanos recebem colmeias
Um exemplo de preservação vem do Paraná. Em janeiro deste ano, foi lançado um programa para incentivar a instalação de colmeias de abelhas nativas sem ferrão nos parques urbanos do estado.
A ideia é replicar os Jardins de Mel, projeto idealizado em Curitiba, para todas as 398 cidades, reintroduzindo polinizadores nativos em seus locais de origem.
Caixas de colmeias de abelhas em parques do Paraná.
Os municípios interessados recebem recursos e, em troca, as prefeituras ficam responsáveis pela manutenção, com a limpeza e conservação das caixas. Até o momento, 63 parques urbanos estão em construção, fora os que já funcionam na capital do estado.
As espécies disponibilizadas para a implantação das colmeias são a Guaraipo; Jataí; Mandaçaia, Mirim e Manduri.
“O Poliniza Paraná tem um papel muito importante para a biodiversidade, com os benefícios que a polinização das abelhas oferece à flora do estado, mas também é uma importante ferramenta de educação ambiental.”
Everton Souza, secretário do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná
Everton Souza, secretário do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, ressalta que a implantação do projeto em um parque urbano, com o objetivo de preservar e conservar o meio ambiente, incentiva os moradores das cidades a cuidarem desses jardins e a respeitarem o meio ambiente.
Principais fontes:
IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal, Produção de origem animal, por tipo. 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9107-producao-da-pecuaria-municipal.html?=&t=destaques. Acesso em 18 jun. 2022.
Patel, V., et al. Why bees are critical for achieving sustainable development. Ambio. 2021.
Pedro, S. R. M. The Stingless Bee Fauna In Brazil (Hymenoptera: Apidae). Sociobiology. 2014.