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Desmistificando a soja transgênica

A soja transgênica foi desenvolvida por meio do melhoramento genético e técnicas da biotecnologia. A primeira soja transgênica foi desenvolvida para apresentar tolerância ao herbicida glifosato, tendo seu plantio iniciado nos Estados Unidos em 1996.

A soja brasileira é muito importante na economia agrícola. O país é o segundo maior produtor do grão, atrás somente dos Estados Unidos. A soja é utilizada como matéria-prima para a alimentação animal, desde bovinos até cães e gatos. Além disso, está presente em inúmeros produtos que consumimos.

Atualmente o Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo. A previsão da safra 2019/2020 é de cerca de 121 milhões de toneladas. Desse montante, aproximadamente 115 milhões de toneladas da soja produzida é transgênica, segundo o Instituto Soja Livre – parceria feita entre a Aprosoja Mato Grosso e a Embrapa.

Contando com diferentes características, os organismos geneticamente modificados (OGM) normalmente são mais produtivos. Dessa forma, os transgênicos promoveram uma verdadeira revolução na agricultura.

Cultivo da soja

A soja (Glycine max (L.) Merr.) é uma importante cultura leguminosa que é uma das principais fontes de proteína e óleo na dieta animal, bem como um alimento básico para consumo humano. A soja surgiu no leste asiático entre 6 e 9 mil anos atrás. Esse vegetal era uma soja selvagem (Glycine soja Sieb. & Zucc.), que passou pelo processo de domesticação e adaptação até chegar na planta que é cultivada atualmente. 

No século III depois de Cristo (d.C.), a soja era cultivada na Coréia e no Japão. Aqui no ocidente, essa leguminosa só foi chegar junto com as grandes navegações europeias, entre o final do século XV e início do Sec. XVI.

No Brasil, a primeira referência de plantio experimental de soja é de 1882, através da introdução de genótipos no estado da Bahia. Porém, o marco principal de introdução da cultura no país foi em 1901, quando se iniciaram os cultivos na Estação Agropecuária de Campinas e a distribuição de sementes para produtores paulistas. 

Depois disso, os primeiros plantios comerciais iniciaram a partir de 1924, na região de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Nesse momento, foram utilizadas cultivares vindas dos Estados Unidos, devido à similaridade das condições climáticas do estado com as regiões estadunidenses produtoras de soja. 

No entanto, a soja realmente começou a ser produzida em larga escala, aqui no Brasil, na década de 1970. A criação da Embrapa Soja em 1975 alavancou o desenvolvimento de cultivares adaptadas aos diferentes climas do território brasileiro. Como a planta da soja é muito sensível às mudanças de luminosidade, durante o seu ciclo (fotoperíodo), o desenvolvimento de cultivares para diferentes condições de luminosidade foi importante.

Na mesma época, foram desenvolvidas novas tecnologias para manejar o solo, com maior eficiência. Isso porque os solos da região centro-oeste eram considerados pobres em fertilidade e as culturas não se desenvolviam bem.

A difusão de insumos que melhoravam as condições dos solos do centro-oeste foram cruciais para a entrada da soja na região, na década de 1980. A adoção do sistema de plantio direto também contribuiu para a expansão da produção do grão tanto na região centro-oeste, quanto no nordeste e norte do Brasil.

Com o melhoramento da soja sendo desenvolvido, na década de 1970 a produção nacional de soja partiu de 1,5 milhão de toneladas para cerca de 15 milhões de toneladas, em 1979. Cultivares com características de maior produtividade, tolerantes ao calor e com resistência a algumas pragas auxiliaram o desenvolvimento da cultura no Brasil. 

Na década de 1990, muitas empresas de pesquisa começaram a ser criadas, para trabalhar com esse grão que já tinha tomado conta das lavouras brasileiras. Nesse momento a biotecnologia já era uma ferramenta utilizada no melhoramento da soja. Na imagem abaixo, é demonstrado o aumento da produtividade brasileira de soja ao longo dos anos.

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Gráfico do aumento da produtividade brasileira da soja transgênica

A soja transgênica

A pesquisa e o desenvolvimento de cultivares de soja no Brasil foi um sucesso. No entanto, alguns problemas ainda atrapalhavam as plantas de atingirem todo o seu potencial de produção. 

Para driblar essas dificuldades, técnicas da biotecnologia, como a transformação genética de plantas, foram incorporadas. Com elas, foi possível desenvolver variedades resistentes ao ataque de insetos, competição com plantas daninhas e até melhorar a qualidade de óleo dos grãos.

A primeira soja transgênica foi desenvolvida nos Estados Unidos, em 1994. No Brasil, a soja transgênica começou a ser cultivada em dezembro de 1998, quando a Embrapa Soja recebeu sementes de uma linhagem derivada da cultivar BR-16, geneticamente modificada com o gene de tolerância ao glifosato.

Em escala comercial, as plantas de soja tolerantes ao herbicida glifosato começaram a ser cultivadas desde 1994, nos Estados Unidos, e desde 1996, na Argentina. No Brasil, assim que o evento transgênico foi disponibilizado para os programas de melhoramento, essa característica foi rapidamente incorporada ao germoplasma adaptado às diversas regiões brasileiras.

A soja transgênica plantada no Brasil apresenta diferentes características. Existem genótipos resistentes a herbicidas, resistente a insetos, plantas tolerantes à seca e modificadas para produzir maior quantidade de óleo e óleo com melhor qualidade. 

A tecnologia também emprega características conjuntas em uma mesma planta, conforme pode-se observar no gráfico abaixo, como é o caso de genótipos que combinam as resistências a insetos e herbicidas ou plantas que são tolerantes à seca e a herbicidas.

Gráfico das características dos eventos aprovados de sojas transgênicas

Segundo o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA) os mais de 18 milhões de agricultores de até 30 países que plantaram safras biotecnológicas atestam a múltiplos benefícios que eles obtiveram nos últimos 21 anos contemplando:

Segundo os dados do Registro Nacional de Cultivares– SRNC/CGSM/DSV/SDA/MAPA, os agricultores brasileiros contam com 2193 cultivares de soja registradas para o plantio nas diferentes regiões brasileiras. 

Atualmente, cerca de 73% das cultivares são transgênicas. A adoção dessas cultivares alavancou a exportação e a economia brasileira. A produção nacional de soja consegue suprir o mercado nacional e exportou cerca de 92 milhões de tonelada do complexo soja, gerando US$ 32,6 bilhões.

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Benefícios da soja transgênica

A soja tem inúmeras aplicações em alimentos, desde óleos de cozinha e produtos proteicos até a adição de excelentes propriedades de textura, umidade, nutrição e estabilidade de prateleira para produtos de panificação.

A soja transgênica reduz prejuízos para os produtores, tanto pelo controle de pragas, quanto pela alternativa de cultivo para regiões com menor disponibilidade de água – quando adotada a planta tolerante à seca. Além disso, o uso da soja transgênica proporcionou um aumento de 4,6 milhões de toneladas na produção das últimas safras. 

No armazenamento, a soja OGM também traz benefícios. Pesquisadores brasileiros descobriram que, quando comparada aos grãos de soja convencionais, a soja transgênica apresenta menor contaminação por aflatoxinas, uma toxina causada por fungos em grãos armazenados.

As aplicações da biotecnologia devem ser integradas aos programas convencionais de melhoramento e desenvolvimento para serem bem-sucedidas. A soja transgênica e outros vegetais provenientes da biotecnologia estão cada vez mais difundidos no mundo e são necessários para as demandas de crescimento populacional e mudanças climáticas.

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Principais fontes:

Parvathy S. T., Engineering Plants as Platforms for Production of Vaccines. American Journal of Plant Sciences, 2020.

Nobrega L. H. P. et al., Physiological quality and aflatoxins prevalence in conventional and transgenic soybeans during storage. Bioscience Journal, 2019.

Soja Livre, Quatro estados produzem 87,5% da área de soja convencional brasileira. Disponível em: https://sojalivre.com.br/quatro-estados-produzem-875-da-area-de-soja-convencional-brasileira/. Acesso em 03 set 2020.

SAAA. Global Status of Commercialized Biotech/GM Crops in 2018: Biotech Crops Continue to Help Meet the Challenges of Increased Population and Climate Change. ISAAA Brief No. 54, 2019.

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